Pernambuco é o mais intolerante do Nordeste
Monitoramento feito durante três meses mostra que pernambucano está resistente ao debate positivo
Aline Moura
alinemoura.pe@dabr.com.br
Publicação: 26/07/2016 03:00
O resultado é fruto de um monitoramento feito de abril a junho deste ano, durante 24 horas ao dia, em 392.284 posts do Facebook, Twitter, Instagram, blogs e sites, visando estimular a produção de políticas públicas que ajudem a mudar comportamentos negativos. O projeto observou intolerância e agressividade das pessoas em dez assuntos no Brasil. Entre eles política, mulheres, homossexualidade, racismo, religião e classe social - temas bastante presentes na sociedade. Segundo essa análise, a negatividade nos assuntos que tratam de racismo e política ficou praticamente empatada com 97,6% e 97,4%, respectivamente. A resposta indica que todos os comentários positivos ou neutros em relação à cor da pele ou aos políticos foram encobertos.
É importante fazer a ressalva que, nesse espaço de tempo do monitoramento, houve a aprovação do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) pelo Senado, a posse interina de Michel Temer (PMDB), o caso conhecido como “o estupro dos 30”, o aumento de atentados no mundo e de casos polêmicos de racismo. Parte dos temas turbinou a misoginia (ódio às mulheres), por exemplo, nas redes sociais.
“A intolerância política está em todas as partes do Brasil, mas Pernambuco foi o estado do Nordeste que capturou a maior capacidade de menções de intolerância”, disse Caio Túlio Costa, jornalista responsável pela coordenação dessa análise e um dos fundadores da agência nova/sb. Ele frisa, como contraponto, haver uma predominância de resposta menos agressivas no debate de temas polêmicos no Rio Grande do Norte. (Veja o quadro). “Chegamos à conclusão que essa intolerância aparece tão aguda por conta do momento atual embate político ideológico no país”.
Caio Túlio Costa ressalta que o monitoramento não explica as causas de determinado estado aparecer com um nível tão alto de intolerância. Mas sugere áreas onde o poder público pode atuar e aprofundar políticas públicas. Em termos absolutos, o Rio de Janeiro é o mais negativista, porém quando se comparam a quantidade de comentários feitos nas redes sociais com o tamanho da população desse estado, o maior grau de intolerância do Brasil está no Distrito Federal, enquanto Pernambuco é o primeiro do Nordeste, um pouco à frente do Ceará. “Nos três meses, houve 280 mil menções que tratam de intolerância na política e foram negativas”, observa Caio.
Apesar do histórico de rebeldia de Pernambuco, que se autoproclamou como país, em 1817, e chegou a formar uma nação com outros estados do Nordeste, as impressões colhidas nas redes sociais pelo monitoramento mostram uma aproximação com o conservadorismo. A intolerância é muito alta nos debates políticos, mas o internauta pernambucano conseguiu sair campeão no tocante ao ódio contra as mulheres, bem como no preconceito racial, no preconceito de classe social e religioso. O conhecido bairrismo pernambucano, que gosta de ser maior em tudo, precisa voltar a caminhos menos tortuosos.