Petistas temem prisão de Mantega Depois que Palocci apontou para o ex-ministro, integrantes do PT se assombram com o futuro do aliado

Publicação: 24/06/2017 03:00

As acusações feitas por Antonio Palocci em sua delação premiada de que o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega vendia informações privilegiadas para bancos, como mudanças de políticas cambiais e alterações nas taxas de juros, e que teria levado vantagem ao negociar desonerações tributárias com empresas do setor automobilístico, alarmou o PT para o risco de o mais longevo dos titulares da equipe econômica ser preso. Mantega também é citado nas delações da Odebrecht, da JBS e complicou-se ao “lembrar-se” de que tinha uma conta não declarada na Suíça com saldo de US$ 600 mil.

Ao tentar se livrar de uma pena mais dura — tanto que negocia uma prisão domiciliar —, Palocci confessou os próprios crimes e não poupou o sucessor na condução da política econômica, com quem nunca teve uma boa relação. A sensação no partido é de que o cerco contra Mantega está se fechando. O ex-ministro teve, em setembro do ano passado, a prisão preventiva decretada pelo juiz Sérgio Moro. Mas este teve de voltar atrás, pois Mantega estava no hospital acompanhando a cirurgia da mulher, vítima de câncer. A situação agora volta a se complicar.

Além disso, admitem petistas, a decisão do presidente Michel Temer de autorizar o Banco Central a fechar acordos de leniência com instituições bancárias, a exemplo dos que estão sendo firmados com empresas investigadas na Lava-Jato, expôs ainda mais o PT. “Como os gigantes do setor financeiro poderão negociar penas mais brandas pelos crimes cometidos, resta a Palocci virar sua artilharia para o PT, Lula e Dilma”, reconheceu um cacique partidário.

Até o momento, não surgiram os nomes dos bancos que compraram as informações privilegiadas que teriam sido vendidas por Mantega. Integrantes do mercado financeiro temem que sejam instituições grandes o suficiente para provocar abalos em um sistema, que ainda tem pouco crédito disponível para permitir a retomada do crescimento econômico. A antecipação do governo para autorizar o BC a fechar as leniências só aumenta a insegurança no setor. Procurada, a defesa de Mantega não se manifestou.

Palocci e Mantega sempre mantiveram uma relação conflituosa. Responsável pela elaboração da Carta ao Povo Brasileiro que acalmou os mercados durante a eleição de 2002, Palocci, apesar de médico sanitarista, foi escolhido para ser o primeiro-ministro da Fazenda de Lula, em 2003. Mantega foi acomodado como ministro do Planejamento. Os dois tinham atritos constantes pela condução da política econômica, já que o primeiro era fiscalista e o segundo, desenvolvimentista.

Mantega se alinhava ao então chefe da Casa Civil, José Dirceu, para pressionar Palocci a afrouxar a política econômica, considerada extremamente recessiva, com aumentos nas taxas de juros e na meta de superávit primário. Em certo momento, quando Lula concordou em diminuir a pressão num dos pilares da economia, Palocci se recusou a assinar a medida provisória. “Vai ser melhor para você assinar do que explicar porque uma medida econômica foi adotada sem a assinatura do titular da Fazenda”, ironizou Dirceu. Palocci foi obrigado a ceder.

Quando Carlos Lessa cai da presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Palocci vê a oportunidade de livrar-se de Mantega. Na época, o BNDES estava ligado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic) e Mantega foi deslocado para o Rio, após bate-bocas homéricos pelo telefone. Mantega e Dirceu achavam que Palocci não tinha capacidade para o cargo e atendia apenas aos interesses do mercado.

Ao longo da campanha presidencial de 2010, os dois se comportaram bem, como relataram integrantes do PT. Já estava acertado que Palocci iria para a Casa Civil e Mantega surfava na política anticíclica que livrou o Brasil da crise econômica de 2008 e 2009. Agora, voltam a se encontrar — pelo menos na delação de Palocci. Procurado, Mantega não quis se pronunciar. (Do Correio Braziliense)