CRISE NO PLANALTO » PF conclui que não houve edição no áudio da JBS Segundo perícia, as falhas constatadas na gravação são interrupções naturais causadas pelo aparelho

Publicação: 24/06/2017 07:30

A Polícia Federal concluiu que não houve edição na gravação da conversa entre o empresário Joesley Batista e o presidente Michel Temer no dia 7 de março no Palácio do Jaburu, segundo a reportagem apurou. A perícia foi finalizada ontem pelo Instituto Nacional de Criminalística.

A análise dos peritos identificou mais de 180 interrupções “naturais” no áudio, de acordo com a apuração da reportagem. A perícia indica que o equipamento utilizado pelo empresário da JBS, que fez um acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República, possui um dispositivo que pausa automaticamente a gravação em momentos de silêncio e a retoma quando identifica som.

O relatório e o laudo pericial devem ser entregues ao Supremo Tribunal Federal apenas na segunda-feira. Ao todo, os peritos verificaram quatro áudios.

A perícia da PF é aguardada com expectativa porque a defesa de Temer questiona a autenticidade das gravações.

OBSTRUÇÃO
No pedido de abertura de inquérito enviado ao Supremo, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou que o presidente deu anuência para a compra de silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha e seu operador Lucio Funaro, ambos presos.

Entre outros elementos, Janot se baseou em parte do diálogo no Jaburu para sustentar que houve obstrução de Justiça.

O procurador-geral afirmou que, na conversa, Temer ouviu de Joesley que o ex-presidente da Câmara estava sendo pago para não falar nada e sobre o assunto respondeu: “tem que manter isso, viu?”, o que seria um aval.

A conversa divulgada à imprensa, porém, continha trechos inaudíveis. Após a fala de Temer, Joesley Batista afirmou: “Todo mês”, o que indica, segundo o empresário afirmou em seu acordo de delação premiada fechada com a PGR, acertos em dinheiro. (Folhapress)

Retorno no ápice da crise política

Depois de cinco dias fora do país, o presidente Michel Temer embarcou ontem de volta ao Brasil. Às 16h40 do horário da Noruega (11h40 de Brasília), Temer e sua delegação decolaram de Oslo e chegam a Brasília neste sábado. De acordo com o Planalto, reuniões já estão marcadas para o fim de semana. Na pauta, a crise política no país.

O retorno marca o fim de cinco dias afastado da crise doméstica. Em viagem para a Rússia e Noruega, o presidente fez o possível para dar ares de normalidade ao governo, transmitir garantias a investidores estrangeiros e insistir que as instituições no país funcionam de forma independente. Com a imprensa, evitou os temas domésticos. Ainda assim, ele admitiu pela primeira vez que o país vive “uma crise política evidente”.

Antonio Imbassahy, ministro da Secretaria de Governo, garantiu que Temer está “sereno” diante de uma eventual denuncia por parte do Ministério Público. O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), disponibilizou na quinta-feira uma cópia digital dos autos do inquérito aberto contra o presidente Michel Temer para a Procuradoria-Geral da República o que, na prática, abre um prazo de cinco dias para que o órgão apresente a denúncia contra o peemedebista.

Antes de embarcar para o Brasil, Temer cometeu mais uma gafe. Aparentando cansaço, o peemedebista disse que iria visitar o rei da Suécia e o Congresso brasileiro antes de deixar a Noruega: “Hoje, uma reunião com vossa excelência e mais adiante com o Parlamento brasileiro e um pouco mais adiante com sua majestade, o rei da Suécia”. (AE e Folhapress)

Cunha escreve termos da delação

O ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso em Curitiba desde outubro do ano passado, está há mais de um mês escrevendo à mão de dentro de sua cela os anexos de uma proposta de delação que negocia com o Ministério Público no âmbito da Lava- Jato. Na segunda semana de maio, Cunha passou a colocar no papel as histórias que quer contar aos procuradores. O ex-presidente da Câmara usa uma caneta esferográfica comum e folhas em branco soltas.

Há três semanas o advogado Délio Lins e Silva, recém-contratado por Cunha, teve um encontro com um assessor de confiança do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em Brasília. Forneceu uma amostra do que o ex-deputado pode revelar.

Entre as histórias que Cunha promete revelar, há suposto esquema de cobrança de propina relacionada à liberação de verba do Fundo de Investimento do FGTS. O sinal do Ministério Público à proposta foi positivo.

Segundo pessoas com acesso ao deputado, Cunha resolveu pôr no papel as histórias após receber o recado de que Lúcio Bolonha Funaro, que atuava como operador do deputado, também resolveu contar o que sabe.

Paralelamente os dois passaram a escrever propostas de delação. Com a eclosão das denúncias da JBS, Cunha decidiu que seu defensor deveria procurar a Lava-Jato para manifestar intensão de delatar.

Procurado, Lins e Silva negou que seu cliente esteja escrevendo a delação. A PGR não quis comentar. (Folhapress)