Relação entre Temer e Maia está 'por um fio' Presidente da Câmara tem reclamado que o PMDB estaria agindo para enfraquecer a sua legenda

Publicação: 22/09/2017 03:00

O presidente Michel Temer decidiu atuar pessoalmente para tentar contornar mal-estar criado na relação com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Ele ficou de telefonar para o parlamentar para explicar que houve um mal-entendido e para negar que o PMDB queira enfraquecer o DEM. Para evitar que o episódio se agrave, o peemedebista pretende ainda convidá-lo para um encontro quando ele retornar a Brasília, provavelmente um jantar no Palácio do Jaburu.

Em conversas reservadas, o presidente tem reafirmado a importância da aliança entre o PMDB e o DEM e minimizado a chance de um eventual rompimento. Para assessores e auxiliares presidenciais, contudo, as críticas feitas por Maia causam estranheza, principalmente pelo tom de enfrentamento adotado.

Na saída de jantar na embaixada chilena, na quarta-feira, o parlamentar acusou o presidente nacional do PMDB, Romero Jucá, e os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral) de atuarem para evitar o crescimento do DEM. Maia ficou incomodado com proposta apresentada por Jucá que dificulta a pretensão de partidos de aumentar a janela partidária em 2018, caso do DEM, que pretende filiar dissidentes do PSB. O DEM identificou ainda que o PMDB estava assediando o deputado federal Marinaldo Rosendo (PSB-PE), que estava em conversas com o partido.

A avaliação no Palácio do Planalto é de que as críticas de Maia se somam a movimentos recentes feitos por ele na tentativa de distanciar a sua imagem da de Temer. Na noite de quarta-feira, por exemplo, ele se reuniu com os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Kátia Abreu (PMDB-TO), adversários do presidente. Na terça-feira, como presidente interino, recebeu no gabinete presidencial, no Palácio do Planalto, artistas e cineastas que defendem a saída do peemedebista do cargo.

A aposta é de que o distanciamento tem motivações eleitorais, já que a popularidade do governo atual é baixa.

Segundo integrantes do DEM, mesmo após as críticas de Maia, não deve haver retaliação do partido ao governo. Eles ponderam, contudo, que deve haver esclarecimentos do presidente sobre as manobras do PMDB. O deputado federal Pauderney Avelino (DEM-AM) pretende procurar o presidente para tratar do assunto na segunda-feira.

Fundo eleitoral
Rodrigo Maia defendeu ontem, em entrevista após participar de evento no Rio de Janeiro, que o Congresso Nacional aprove um fundo eleitoral para bancar campanhas em 2018 no valor entre R$ 800 milhões e R$ 1 bilhão. Para ele, o fundo na ordem de R$ 3,6 bilhões, como discutido inicialmente na reforma política tratada na Casa, é um exagero. “Não tem tamanho ideal (para o fundo eleitoral). O tamanho ideal é que se coloque valor dentro do Orçamento. Eu acho R$ 3 bilhões um exagero. Vejo aí na ordem de R$ 800 milhões a R$ 1 bilhão, no máximo, já que você tem o Fundo Partidário, de R$ 800 milhões, que a maioria dos partidos, pelo menos no ano eleitoral, já deixa para a eleição. Se você somar um com outro dá R$ 1,6 bilhão”, afirmou o parlamentar fluminense.

Maia disse que ele e o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), discutem a criação do fundo eleitoral em uma relação “mais racional”. Para ele, é preciso deixar claro para a sociedade de onde virão os recursos públicos para abastecê-lo. “Não pode aparecer R$ 3 bilhões, como na primeira proposta, sem a fonte de onde vai aparecer esse dinheiro. O Brasil não aguenta mais tantos gastos”, afirmou o presidente da Câmara. (Folhapress)