O exemplo que vem da Alemanha Diario foi o único jornal brasileiro convidado para conhecer a prática dos órgãos públicos e também da iniciativa privada de combate à corrupção nesse país. Experiência é relatada nesta Superedição

Publicação: 16/12/2017 03:00

Da multa de trânsito não registrada graças ao “guaraná” dado ao guarda, passando pelo uso indevido da carteira de estudante para ter direito à meia-entrada e chegando aos milhões pagos por empresas para obter alguma vantagem financeira: no Brasil, a corrupção dá provas diárias de que está presente nos mais diversos contextos sociais. E muito se engana quem pensa que a existência de práticas ilícitas são exclusivas de países que possuem baixos índices socioeconômicos. Apesar de o formato mudar conforme aspectos culturais, a corrupção está lá e o combate a ela tem mobilizado, em escala global, governos e instituições privadas de países ricos e pobres.

É o caso da Alemanha, país que figura entre os mais ricos do planeta, mas que não está imune à corrupção. Maior exemplo é o caso da Siemens, uma das maiores companhias do país. Há pouco mais de dez anos, ficou sob os holofotes em todo o mundo após uma investigação apontar que, entre 2001 e 2007, foram pagos cerca de US$ 1,4 bilhão em propinas pela empresa, em diversos países, em troca de contratos junto a governos.

O caso serviu como um marco na trajetória alemã no combate à corrupção, que já era enfrentada anteriormente, mas não com a efetividade atual. Tanto no setor público quanto no privado, a preocupação em adotar medidas de conformidade (compliance, em inglês), termo que pode ser traduzido como a preocupação de seguir práticas legais, tem aumentado. São códigos de conduta, canais de denúncias anônimas para funcionários, além de uma legislação com punições mais rígidas. Tais medidas têm refletido numa maior percepção global da corrupção na Alemanha: o país subiu duas posições no ranking da Transparência Internacional e assumiu a décima na lista de nações mais transparentes.

Mas o desafio é grande, à medida em que a corrupção é um delito silencioso, no qual os envolvidos utilizam todas as ferramentas possíveis para mantê-lo em segredo. A convite do Ministério Federal das Relações Externas do governo alemão, o Diario de Pernambuco visitou o país, durante uma semana, e participou de reuniões em instituições públicas e privadas, além de organizações sem fins lucrativos, para descobrir como esses diversos atores se articulam para combater atos ilícitos. Os encontros fizeram parte do programa de visitas do governo da Alemanha, criado em 1958, e reuniu representantes brasileiros dos setores jurídico e empresarial. O Diario foi o único jornal do país a participar dos encontros nas cidades de Berlim, Colônia, Bonn e Düsseldorf.