"Decisão da ONU deve ser cumprida" Segundo advogados, o Brasil tem "obrigação" de atender à decisão do comitê das Nações Unidas, que pediu garantias da participação de Lula nas eleições

Publicação: 18/08/2018 03:00

Após a manifestação do Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) solicitando ao Brasil que garanta os direitos políticos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante as eleições presidenciais, os advogados do petista afirmaram que o órgão não fez uma “recomendação” ao país, mas que se trata de uma “decisão” que precisa ser cumprida imediatamente por todos os órgãos brasileiros.

Os defensores lamentaram ainda a nota do Itamaraty sobre a ONU e disseram que o Brasil não tem a opção de cumprir ou não o comunicado, mas deve garantir a participação de Lula na campanha eleitoral, o acesso do petista à imprensa, a presença em debates e o acesso do ex-presidente a membros do seu partido. O ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, assinou uma nota afirmando que as conclusões do comitê internacional “têm caráter de recomendação e não possuem efeito juridicamente vinculante.”

“De que forma o Brasil vai cumprir isso não cabe a nós aqui discutir, mas não há opção. Deve cumprir, não é uma recomendação”, afirmou o criminalista Cristiano Zanin Martins, durante coletiva de imprensa nesta sexta-feira. Para amparar o argumento, a defesa do petista sustenta que o país aderiu ao Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, concordando em seguir todas as decisões do comitê das Nações Unidas e que isso fica sobreposto à própria legislação brasileira. “Sem a presença do ex-presidente Lula, essas eleições serão questionadas internacionalmente”, disse Zanin.

Pária internacional

Também na coletiva, o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim disse “lamentar” a manifestação do Itamaraty e argumentou que o termo usado pelo comitê da ONU está entre “solicitar” e “exigir” que o Brasil assegure a participação de Lula no pleito, e não “recomendar”. “O Brasil tem duas opções: cumprir ou se colocar como um pária internacional”, declarou o ex-chanceler.

O ex-secretário de Estado de Direitos Humanos do governo Fernando Henrique Cardoso, Paulo Sérgio Pinheiro, também se juntou aos advogados de Lula e disse que, se os órgãos brasileiros não cumprirem a solicitação do comitê, o país passará por um “vexame total”. “Não desqualifiquem essa liminar porque será um ato de total estupidez de entendimento de um tratado internacional”, reforçou Pinheiro. Ele classificou a nota assinada por Aloysio Nunes como “absolutamente constrangedora”. (Agência Estado)