Elo com supostos PMs milicianos

Publicação: 23/01/2019 03:00

Esta é a segunda vez que policiais denunciados pelo Ministério Público acusados de ligação com o agora senador eleito pelo PSL têm prisão decretada por suposto envolvimento com milícias. Em setembro do ano passado, o jornal O Estado de S. Paulo mostrou que outros dois PMs que haviam trabalhado na campanha dele foram para a prisão, sob a mesma suspeita.

Na ação de ontem, os denunciados são apontados como integrantes de uma milícia que atua nas comunidades de Rio das Pedras, Muzema e adjacências, todas na zona oeste. Os agentes também estiveram em endereços dos denunciados e de algumas empresas relacionadas ao grupo criminoso. Em dezembro passado, o general Richard Nunes, então secretário estadual de Segurança Pública do Rio, revelou à reportagem que milicianos ligados à grilagem de terras e que atuam na zona oeste da capital haviam ordenado a morte da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes.

Com a notícia da ação policial, circularam na internet trechos de discursos sobre milícias feitos pelo deputado Flávio Bolsonaro (então no PP). Um deles ocorreu quando Flávio votou a favor da criação da CPI das Milícias, em 2008. Nele, apesar do voto favorável à proposição, defendeu a atuação dos grupos armados nas favelas para combater o domínio do tráfico de drogas. Segundo ele, muitas acusações feitas aos policiais que, afirmou, moram em comunidades e são chamados de milicianos, eram sem fundamento.

“Não se pode, simplesmente, estigmatizar as milícias, em especial os policiais envolvidos nesse novo tipo de policiamento, entre aspas. A milícia nada mais é do que um conjunto de policiais, militares ou não, regidos por uma certa hierarquia e disciplina, buscando, sem dúvida, expurgar do seio da comunidade o que há de pior: os criminosos”, disse Flávio, em discurso de 7 de fevereiro de 2007.

Saldo

Ao todo, a Polícia Civil e o Ministério Público do Rio prenderam ontem cinco supostos integrantes da milícia que atua em Rio das Pedras, comunidade pobre da Barra da Tijuca. “Todos esses presos serão ouvidos na expectativa de que possam colaborar com outras investigações. A gente não descarta a participação no crime de Marielle Franco, mas também não podemos afirmar isso neste momento”, afirmou a promotora Simone Sibílio, coordenadora do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MP-RJ).

Ela também atua na investigação do assassinato da vereadora. “Algumas pessoas que foram presas hoje (ontem) também integram o Escritório do Crime, mas a investigação teve como objetivo combater essa organização em Muzema e Rio das Pedras.”

Em nota, a Anistia Internacional informou que “é muito importante ver que o Ministério Público está atuando contra o crime organizado no Rio. As informações divulgadas publicamente de que existiria no Estado um grupo de extermínio chamado ‘Escritório do Crime’ eram muito preocupantes.” Sobre o caso Marielle, o grupo reiterou que “o único resultado aceitável como solução é aquele que seja baseado em evidências concretas”.