Em uma dividida, o lado de Mourão

Publicação: 18/05/2019 03:00

Os militares estão ainda mais unidos e farão de tudo para solucionar crises e evitar que Bolsonaro caia. Entretanto, em uma situação de hecatombe política em que não haja mais como contornar um problema em “proporções gigantescas”, como sugere Antonio Queiroz, ficarão com Mourão. Os oficiais não falam isso abertamente e não são apegados a cargos, mas a visão de Estado a longo prazo os faria permanecer ao lado do vice e evitar a descontinuidade de políticas públicas.

Embora não tenha defendido pública e enfaticamente os militares, o presidente fez questão de dar força a eles na guerra com Olavo indicando o contra-almirante Ricardo Segovia Barbosa para a Presidência da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), o braço da política comercial do Itamaraty, chefiado pelo ministro olavista Ernesto Araújo. Na sexta, o oficial da Marinha indicou outro membro da Força, o vice-almirante Edervaldo Teixeira de Abreu Filho para a diretoria de Gestão Corporativa. “Bolsonaro sabe que o único grupo que o segura no poder é dos militares”, analisa um ministro.

Centrão
Dentro do Congresso, a avaliação de lideranças do Centrão é de que “os militares são essenciais ao governo”. Até hoje, os líderes desconfiam do comando do Palácio do Planalto por conta da continuidade de uma articulação política sem a abertura de diálogo por indicações nos estados. É algo que vem incomodando muito os congressistas, uma vez que o apadrinhamento de aliados é uma forma de fortalecimento dos parlamentares em suas respectivas bases eleitorais. Com as eleições municipais a caminho, estão sem mecanismos para se fortalecer em suas regiões.

A articulação feita pelos militares, sobretudo pelo ministro-chefe da Secretaria de Governo, Santos Cruz, tem agradado os parlamentares. Dizem que, diferentemente do ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, o general não prioriza pessoas próximas, fiéis ou da alta cúpula dos partidos. “Para muitos do Centrão, ele é, de fato, o articulador do governo. Ele não conversa apenas com o próprio entorno político, mas com todos. O problema é que, no fim das contas, não é ele que tem a caneta para nomear”, critica um líder de partido do bloco político. Na quinta-feira, Santos Cruz organizou um café da manhã com a presença de cerca de 40 deputados do “baixo clero”, acompanhado de Bolsonaro.