Bolsonaro defende isolamento parcial Em entrevista concedida ontem, presidente voltou a criticar medidas de restrição de movimentação de pessoas e defendeu retiramento para grupos de riscos

Publicação: 26/03/2020 03:00

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) manteve ontem o tom adotado em seu pronunciamento da véspera sobre a crise do novo coronavírus, criticou medidas tomadas por governadores de restrição de movimentação de pessoas e defendeu o isolamento apenas para aqueles do chamado grupo de risco, como idosos e portadores de comorbidades. “Vou conversar com ele [Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde] e tomar a decisão. Cara, você tem que isolar quem você pode. Você quer que eu faça o quê? Eu tenho o poder de pegar cada idoso e levar para um lugar? É a família dele que tem que cuidar dele no primeiro lugar”, afirmou o presidente, em entrevista em frente ao Palácio da Alvorada, a residência oficial.

“O povo tem que parar de deixar tudo nas costas do poder público. Aqui não é uma ditadura, é uma democracia”, declarou o presidente, na saída do Palácio da Alvorada. “Os responsáveis pela minha mãe de 92 são seus meia-dúzia [de] filhos”, complementou Bolsonaro.

O presidente afirmou que quer que seja adotado o que chamou de “isolamento vertical” no Brasil, que atingiria apenas idosos e pessoas com doenças prévias. Ele disse que governadores, principalmente os de São Paulo, João Doria (PSDB), e Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), têm adotado um “isolamento horizontal”, que abarca toda a população. “O mal que teremos com o isolamento horizontal será muito maior do que o mal que teremos com o vírus”, pontuou.

O presidente voltou a falar que as ações de governadores prejudicam a economia e podem criar um ambiente de caos no país, o que, segundo ele, pode gerar saques a supermercados e instabilidade democrática. Ele citou a esquerda e deu os protestos do Chile como exemplo. “O que precisa ser feito? Botar esse povo para trabalhar, preservar os idosos, preservar aqueles que têm problema de saúde. Mais nada além disso. Caso contrário o que aconteceu no Chile vai ser fichinha perto do que pode acontecer no Brasil”, declarou. “Se é que o Brasil não possa ainda sair da normalidade democrática que vocês [imprensa] tanto defendem”.

Ao ser questionado sobre o tema, o presidente disse que o risco de um rompimento democrático viria da esquerda, que segundo ele pode se aproveitar da situação. “Não é da minha parte não, fique tranquilo”. Bolsonaro afirmou ainda que, se a economia colapsar, não haverá recursos para o pagamento de servidores públicos. “O caos está aí, na nossa cara”. Bolsonaro disse ainda que seu apelo para que o país volte à normalidade está alinhado à estratégia do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O americano defendeu recentemente o fim das medidas de isolamento em seu país até a Páscoa. (Da Folhapress)