Discurso contraria os especialistas Em pronunciamento realizado ontem em rede nacional, presidente Jair Bolsonaro minimizou pandemia e criticou medidas dos governadores

Publicação: 25/03/2020 03:00

Em seu terceiro pronunciamento em rádio e televisão sobre a crise do novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro voltou a minimizar na noite de ontem a gravidade da doença. O presidente pediu para prefeitos e governadores “abandonarem o conceito de terra arrasada”, que, para ele, inclui o fechamento do comércio “e o confinamento em massa”. “O grupo de risco é o das pessoas acima de 60 anos. Então, por que fechar escolas? Raros são os casos fatais de pessoas sãs com menos de 40 anos.” Bolsonaro também atacou a mídia e voltou a criticar governadores.

A fala do presidente foi acompanhada por panelaços em algumas cidades do país, pelo oitavo dia seguido. A conduta de Bolsonaro de buscar a atenuar a pandemia do coronavírus chamada por ele de ”gripezinha” impulsionou esses protestos desde a segunda-feira da semana passada.

A última vez que o presidente chamou o sistema de rádio e TV para falar à população tinha sido no dia 12 de março, quando ele sugeriu que seus apoiadores não comparecessem a atos de rua planejados para o domingo seguinte, 15 de março. A justificativa era que aglomerações poderiam facilitar a transmissão da Covid-19. O presidente, no entanto, descumpriu sua própria orientação e, no dia programado para as manifestações, se reuniu com simpatizantes em frente à rampa do Palácio do Planalto. Na ocasião, ele tocou em pessoas, as cumprimentou e posou para selfies. Antes disso, no dia 6 de março, Bolsonaro havia feito um pronunciamento para dizer que o país tinha reforçado seus sistemas de vigilância sanitários em portos e aeroportos, como preparação para o avanço do Covid-19.

A nova doença causou até o momento 46 mortes no Brasil. Há 2.201 casos confirmados de coronavírus. O primeiro óbito foi registrado no dia 17 deste mês. Bolsonaro minimizou em diversas ocasiões os impactos do Covid-19 e criticou medidas de restrição de movimento que têm sido adotadas por governadores.

Outra marca da resposta de Bolsonaro à pandemia tem sido a troca de acusações com governadores, principalmente com João Doria (PSDB), de São Paulo, e Wilson Witzel (PSC), do Rio de Janeiro.

Ele já se referiu a Doria como “lunático” e acusou Witzel de tomar medidas que extrapolam suas funções, como se o Rio de Janeiro fosse um país independente. Nos últimos dias, no entanto, o presidente tem adotado gestos de moderação e de busca de diálogo com os chefes de Executivo estaduais. (Da Folhapress)