ENTREVISTA // RENATO FEDER » "O presidente quer muito que o Brasil seja uma potência na educação"

Publicação: 04/07/2020 03:00

O atual secretário de Educação do Paraná, Renato Feder, deve ser confirmado como novo ministro da Educação pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Ele será o quarto nome a ocupar o cargo no governo Jair Bolsonaro.

Feder estava na lista de cotados para assumir o ministério desde a saída de Abraham Weintraub, em 18 de junho. Ele chegou a se reunir com o presidente Bolsonaro no dia 23, antes da escolha de Carlos Decotelli. Bolsonaro também chegou a telefonar para o governador Ratinho Júnior (PSD), para falar sobre o interesse no integrante do time paranaense e recebeu o aval do líder estadual.

Feder é mestre em economia pela Universidade de São Paulo (USP) e graduado em Administração pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Como secretário de Educação do Paraná, aliou educação e tecnologia e modernizou o ensino do estado. No enfrentamento à pandemia, criou o Aula Paraná, um sistema de ensino à distância, que foi implementado em apenas 15 dias e contempla aulas virtuais pelo Google Classroom, mais de 930 mil downloads do aplicativo e três canais de televisão aberta. O estado conta também com internet gratuita para 1,07 milhão de estudantes e 100 mil profissionais da área da educação.

Outro projeto implementado em sua gestão é o currículo Paraná, que conta com aulas de programação de computadores, empreendedorismo e matemática financeira. Feder conversou com o Correio Braziliense/Diario de Pernambuco sobre os pontos que considera mais importantes para receber o aval do chefe do Executivo após uma sequência de problemas envolvendo os ministros anteriores. Veja os principais pontos da entrevista exclusiva, realizada na semana passada, após encontro entre Renato Feder e Jair Bolsonaro. (Correio Braziliense)

Entrevista //  Renato Feder - Secretário de Educação do Paraná

Após tantas polêmicas com o Ministério da Educação, quais os desafios ao próximo ministro que comandará a pasta?

Eu prefiro sempre falar de futuro. O que me cabe é falar de um possível futuro. O desafio do MEC é dialogar, construir com as universidades e com as secretarias estaduais e municipais um bom suporte. O que uma secretária ou uma universidade precisa? Obviamente, além da parte financeira, é de uma ferramenta de tecnologia, de parcerias, de boas práticas pedagógicas, de formação de professores? Por exemplo, o Brasil tem 150 mil escolas públicas, então temos 150 mil diretores de escolas públicas. Que tipo de apoio esses gestores precisam e que tipo de apoio técnico-pedagógico é necessário? E fornecer isso. Esse é o grande desafio.  

Como foi o primeiro encontro com o presidente?

Foi uma conversa principalmente sobre educação. O presidente Bolsonaro quer muito que o Brasil se torne uma potência em educação. Ele visitou o Japão, Taiwan, Singapura, conversamos sobre educação nesses países e quais os caminhos para o Brasil chegar lá. Eu contei um pouquinho do que estamos fazendo no Paraná. Lá, a educação está indo muito bem, mesmo durante a quarentena. Estamos com aulas virtuais pela televisão e pelo celular, sempre aulas gratuitas. Os alunos assistem às aulas na televisão e fazem as atividades propostas no celular. E, pelo celular, ele também fala com professor dele, com os colegas e posta as lições de casa. Está funcionando bem. Temos 1 milhão de alunos lá, e as aulas ocorrem normalmente todos os dias.
 
Bolsonaro se interessou pelo projeto?

O presidente ficou muito interessado e quis saber se é possível fazer isso para o Brasil todo. Eu comentei que sim, é possível, obviamente com muito diálogo com as secretarias municipais e estaduais. Sempre dialogando e vendo a necessidade de cada secretaria. Porque o MEC praticamente não tem alunos na educação básica. A grande maioria dos alunos está nas secretarias municipais e estaduais, então o grande papel do MEC para nos tornarmos um país desenvolvido em educação, que esteja no topo do ranking, é construir junto a quem tem os alunos e os professores, ou seja, apoiar essas secretarias.
 
Quais outras medidas o senhor considera essenciais agora para o MEC? Está incluso um plano para tratar do ensino na pandemia?
Sim, o presidente se preocupou com isso. Conversamos também sobre o Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica), que é muito importante a aprovação no Congresso. É um fundo em que os recursos federais vão para a educação pública, nos estados e municípios. Outra preocupação do presidente é o retorno às aulas. De saber como foi o retorno nos outros países, como ajudar os município e estados, qual o protocolo a seguir que minimiza o risco de contaminação de toda a comunidade escolar, o respeito ao momento correto de cada localidade do Brasil de retornar. Tudo isso o presidente está preocupado e querendo ver como o ministério pode ajudar as secretárias.
 
Em meio à pandemia, fala-se em um gasto maior das secretarias de educação com alimentação e uma possível ajuda com pacotes de dados de internet. Como o governo deve tratar isso?

No geral, o orçamento na educação, mesmo durante a pandemia, não precisa aumentar. Porque existem economias, como o transporte escolar e a limpeza da escola, que não precisaram ser feitos. Já a merenda é focada nos estudantes que mais precisam. No Paraná, por exemplo, dos 1 milhão de estudantes da rede pública, a merenda é distribuída para os 200 mil que mais precisam. Sobre as novas tecnologias, elas não são caras. Para se montar uma estrutura de tecnologia, a escala permite se fazer isso com um custo muito econômico. Tem muitas ferramentas gratuitas que usamos da Google, da Microsoft, então não precisa de um gasto grande. É óbvio que o MEC deve fazer, sendo necessário, esse aporte neste momento de pandemia. Com certeza é papel do MEC fazer esse investimento, e o presidente entende que o recurso para a educação sempre vai ser realizado respeitando o orçamento.
 
Qual a sua visão sobre o papel do MEC em relação a essas instituições?
A visão é que o MEC deve apoiá-las. As universidades têm a independência, que é muito importante. O papel das universidades é formar bons arquitetos, bons engenheiros, bons pedagogos, bons cientistas, isso em todas as profissões. O conteúdo precisa ser passado, esse é o papel das universidades, e ao MEC cabe o papel de auxiliar nisso. Ver o que está dando certo e o que a universidade precisa para que ela sempre possa melhorar, crescer e dar um aprendizado melhor para os jovens que estudam lá. O MEC tem de construir com a universidade sempre e auxiliar no que ela entende ser necessário para que o aprendizado seja melhor.

A inadimplência nas escolas particulares cresceu e muitas instituições particulares estão decretando falência. Qual a perspectiva que esse setor pode ter?
As escolas particulares têm de ter a liberdade de escolher as suas aulas remotas. Foi isso que funcionou no Paraná. E também o Conselho Nacional de Educação decidiu que as aulas à distância são válidas e cada escola particular tem de achar a melhor solução virtual para seus alunos e para a satisfação dos seus pais.