Aumenta tensão entre Marília Arraes e o PT Após se abster na votação que flexibiliza regras para compras de vacinas contra a Covid-19 por empresas privadas, deputada recebeu críticas públicas e veladas

Henrique Souza
Thayse Lira
politica@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 08/04/2021 03:00

A tensão entre o PT e a deputada federal Marília Arraes (PT) voltou a crescer nesta semana. O posicionamento da pernambucana sobre o PL 948/21, que flexibiliza regras para compras de vacinas contra a Covid-19 por empresas privadas, gerou muitas críticas. Marília foi uma das duas únicas parlamentares (e a única de Pernambuco) a se abster na votação da terça-feira passada. O outro deputado da sigla na Câmara, Carlos Veras, votou contra o projeto, aprovado após obter 317 votos a favor e 120 contra.
 
Ainda na noite da terça, Marília publicou vídeo nas redes sociais em que justifica a abstenção. Ela disse “não ter opinião formada sobre o tema, mas ventila a possibilidade de empresas e associações, como sindicatos, adquirirem doses”. A postagem recebeu muitos comentários contrários, e a deputada apagou o vídeo na manhã de ontem.
 
Marília ainda divulgou nota oficial sobre o assunto ontem. Ela afirmou ter cometido um erro de avaliação. “A responsabilidade que carrego é muito grande. E é por isso que fiz questão de vir a público deixar claro que em nenhum momento fui contrária à valorização, autonomia e fortalecimento do SUS, um sistema que eu sempre defendi e sempre defenderei”, declarou.
 
Entretanto, a atitude de Marília não passou batida pelo diretório do PT no Recife. O presidente da sigla na capital pernambucana, Cirilo Mota, também publicou nota oficial em que repudia o posicionamento da deputada federal. O texto diz ter recebido “com indignação” o voto de Marília e diz que o ato é “favorável à bancada bolsonarista”.
 
Esta não é a primeira vez que Marília Arraes adota uma postura diferente da orientação geral do PT. O comportamento independente da deputada federal constantemente tem criado rusgas entre ela e os outros correligionários. Em fevereiro deste ano, durante a eleição para a Mesa Diretora da Câmara, Marília foi eleita segunda-secretária da casa após concorrer de forma avulsa, já que o PT havia indicado o deputado João Daniel (PT-SE). Marília derrotou o colega no segundo turno. A candidatura dela gerou insatisfação dentro do PT. Um mês depois, a Executiva Nacional do PT abriu um processo na Comissão de Ética da sigla contra a deputada.

RACISMO

O presidente do PT no Recife, Cirilo Mota, foi alvo de comentários racistas no Instagram após a publicação da matéria em que fez críticas à postura de Marília Arraes. Ao Diario, ele declarou, em nota: “Não me assusta, os comentários racistas dessa branquitude freiriana, hipócrita, que quando é indagada sobre atitudes racistas sempre tenta justificar que tem amigos negros ou em sua família.  O lugar do negro reservado em suas mentes está associado ao Brasil Colônia”.