Brasil atento aos conflitos no Oriente Médio Para especialistas, os confrontos externos reforçam a necessidade do país de elevar sua capacidade de produção e refino do petróleo

Publicação: 20/04/2024 03:00

O conflito entre Irã e Israel levantou preocupações sobre os possíveis efeitos econômicos e políticos de uma guerra no Oriente Médio para o Brasil. Os ataques entre os países fizeram com que um Grupo de Trabalho fosse criado pelo Ministério de Minas e Energia para monitorar o preço do petróleo no mercado global. Para o ministro Alexandre Silveira, é importante estar atento aos valores da commodity, pois o petróleo interfere diretamente no preço dos combustíveis, na atividade industrial e nos índices de inflação na economia mundial.

“Estamos vigilantes sobre o assunto e, por isso, determinei a criação de um grupo de trabalho para monitorar a oscilação do preço do petróleo Brent, de modo que possamos agir, dispondo dos mecanismos que já temos à disposição”, enfatizou. A portaria que regulamenta o GT para monitorar o preço do petróleo deve ser publicada na próxima semana no Diário Oficial da União.

O conselheiro do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais, Gelton Pinto Coelho, pontua que os conflitos externos reforçam a necessidade do Brasil de aumentar a capacidade interna de produção e refino do petróleo. “É cada vez mais urgente e necessário retomar o projeto de suficiência energética para não dependermos demasiadamente de importações. O mesmo vale para os insumos agrícolas. O cenário externo não me parece, pelo menos nos próximos meses, dar sinais de melhoras. Com a eleição nos Estados Unidos, as guerras em curso e conflitos que podem escalar, o Brasil vai cada vez mais necessitar de políticas adequadas ao enfrentamento de dificuldades”.

Por outro lado, o conselheiro do Conselho Federal de Economia, Claudemir Galvani, avalia que o conflito entre Irã e Israel não deve afetar o Brasil no âmbito das relações diplomáticas porque o país se mantém em uma política de conciliação e paz. “Mas em relação aos preços dos combustíveis, se o conflito não se escalar contra a população civil, entendo que não há razão para o aumento do preço. O que aconteceu logo em seguida ao ataque do Irã contra Israel foi que o preço do petróleo subiu e logo depois caiu. Se o conflito se recrudescer, aí sim o preço deve disparar, porque os países islâmicos são grandes produtores de petróleo”, afirma Claudemir.

“Em relação à Bolsa de Valores, tenho a impressão que pode haver queda no primeiro momento, mas em seguida deve ocorrer como o petróleo se não houver escalada no conflito, pois a Bolsa é guiada por expectativas dos investidores”, emenda.

O professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Roberto Goulart lembra que se o estreito de Ormuz (por onde passa a maioria do petróleo) for fechado, poderá ocorrer uma situação parecida com a da guerra entre Rússia e Ucrânia, com a possibilidade de aumento da energia e inflação.

Impacto político

Ainda nesse sentido, o professor reforça o perfil “pacificador” do Brasil e cita que o país tem boas relações tanto com Israel quanto com o Irã. Segundo o ele, o conflito entre os dois países tem a tragédia na Faixa de Gaza como pano de fundo e o temor que os ataques escalem pelo Oriente Médio existe.

“O Brasil acompanha de perto a geopolítica e sempre se colocou como possível mediador, em 2010 isso ocorreu com o Irã e agora com a questão da Palestina também, embora Israel quisesse que o país tomasse um lado no conflito”, lembra Roberto.

Inicialmente, o Brasil pediu a contenção dos dois países para evitar a escalada de um conflito. Depois, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, ampliou o tom e condenou os ataques de Irã contra Israel. “O Brasil condena sempre qualquer ato de violência e o Brasil conclama sempre o entendimento entre as partes”, disse o chanceler.

Conflito
No último sábado (13), o Irã lançou mais de 350 drones e mísseis contra Israel, que foram quase totalmente interceptados. As autoridades iranianas afirmaram que agiram em “legítima defesa” após o bombardeio contra o consulado em Damasco, no dia 1º de abril. O ataque matou Mohammad Reza Zahedi, comandante sênior da Guarda Revolucionária do Irã, além de outros seis membros, entre eles mais dois comandantes.

Na quinta-feira (18), as agências de notícias estatais do Irã reportaram um série de ataques por mísseis na cidade de Isfahan, localizada na região central do país. Oficiais do governo dos Estados Unidos confirmaram para emissoras estadunidenses que o ataque teve autoria de Israel.

A relação entre os dois países é marcada por tensões. Irã e Israel cortaram relações em 1979 após a Revolução Islâmica. Alguns anos depois, Israel invadiu o Líbano e o Irã apoiou a criação do Hezbollah. O grupo é acusado de fazer diversos ataques contra judeus e israelenses e de ser aliado do Hamas. As tensões voltaram a crescer na região após o início do conflito entre Israel e o Hamas, na Faixa de Gaza, em 7 de outubro de 2023. (Correio Braziliense)