Múcio eleva tom e cobra previsão de orçamento Ministro da Defesa disse, na Câmara dos Deputados, que investimento em defesa não tem apelo político-eleitoral e, por isso, é quase ignorado pelos parlamentares

Publicação: 19/04/2024 03:00

Em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores da Câmara, o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, e os três comandantes das forças — Exército, Marinha e Aeronáutica — se queixaram do orçamento, insuficiente para suas áreas, e pediram apoio dos parlamentares, que podem destinar recursos por meio de emendas. Múcio solicitou auxílio para que os projetos estratégicos não sejam paralisados, e cobrou previsibilidade orçamentária.

O ministro disse que o governo investe o equivalente a apenas 1,1% de seu PIB na defesa, diferentemente de outros países  que chegam a 2,5%, disse. “Não precisamos de 2%, como os países da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). A Colômbia, um país pequeno, tem 3,6% do PIB. Nossos vizinhos estão com um orçamento maior do que o Brasil. Mas, diante das nossas prioridades, não estamos investindo em uma defesa, que é a guardiã do nosso território, da nossa soberania”, exortou o ministro.

Segundo Múcio, investimento em defesa não tem apelo eleitoral e, por isso, é quase ignorado pelos parlamentares. “Não temos bancadas de deputados ou senadores. Somente os senhores poderão ajudar, criticar e contribuir com o que estamos precisando. E o que estamos precisando? Não só honrar nossos compromissos, como dotar nossas Forças Armadas de equipamentos conforme as nossas potencialidades e riquezas. É muito difícil, num país como o Brasil, com tantos problemas, pedir dinheiro para a Defesa. Mas, hoje, compramos sem a certeza se podermos pagar”, insistiu Múcio.

O comandante da Marinha, almirante Marcos Sampaio Olsen, falou do desmonte da força. “Nos últimos 20 anos, a esquadra desmobilizou 50% dos seus meios (navios). E, até 2028, mais 40% serão desmobilizados, dos 50% que sobraram”, advertiu.

As queixas também partiram do comandante da Aeronáutica, brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno. “Não estamos voando a quantidade de horas necessárias para mantermos os pilotos adestrados”, frisou. A FAB conta tem 458 aeronaves ativas — em 2014, eram 576. Segundo o brigadeiro, o déficit anual para a manutenção das aeronaves é de R$ 1,3 bilhão.

Múcio também defendeu os projetos no Congresso, que impedem que o militar da ativa dispute um cargo eletivo — e, em caso de não conseguir a reeleição, retorne à caserna. Para ele, aquele que entra na política, e depois volta ao quartel, retorna para as fileiras militares inflado pelo “proselitismo do político” — algo que desafia a hierarquia das forças e contamina um ambiente que deveria estar apartado de questões parlamentares.

Tentativa de golpe
Múcio foi provocado a se manifestar em relação aos militares envolvidos no 8 de janeiro de 2023. “Se debitamos o golpe de 1964 às Forças Armadas, creditamos não ter tido golpe, em 2022, às Forças Armadas. Podemos ter tido jogadores indisciplinados num time disciplinado. E os jogadores indisciplinados foram detectados agora. E queremos que eles sejam punidos porque não queremos ficar com a pecha da suspeição. As Forças Armadas passaram incólumes”, frisou. (Correio Braziliense)