Filipe Assis, João de Andrade Neto e Marcel Tito
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Publicação: 01/05/2014 03:00
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Ayrton Senna Gonçalves, 25 anos, herdou do pai a idolatria pelo piloto brasileiro. Seu nome, embora desperte curiosidade, é motivo de orgulho |
“Sei onde estava exatamente naquele momento.” O lugar comum, o início de qualquer conversa sobre a tragédia que, hoje, completa 20 anos. É assim porque, naquele 1º de maio de 1994, como em tantos outros domingos, o país do futebol começava a torcer nas pistas antes dos gramados. Eram milhões assistindo a Williams de Ayrton Senna guinar bruscamente à direita e seguir reto em direção ao muro da curva Tamburello. Milhões em silêncio, esperando um movimento que nunca veio. A notícia que nunca veio. O alívio que nunca veio. Esperando o fim de um silêncio que permanece. Só não é maior do que a lembrança, a lenda. Do que o próprio Ayrton.
No dia em que o mundo lembra dos 20 anos da morte de Ayrton Senna, em Abreu e Lima um pernambucano de 25 anos celebra o gênio. Todos os dias. Basta se apresentar a uma pessoa e ouvir de volta – após uma reação de espanto -, um elogio e uma declaração de admiração. Ayrton Senna de Oliveira Gonçalves nasceu duas semanas após o piloto brasileiro conquistar o primeiro dos seus três títulos mundiais de Fórmula 1. O nome foi a maior homenagem que o empresário Aílton Gonçalves poderia prestar ao então novo ídolo do esporte nacional. Sentimento que se mantém vivo e que graças às corridas gravadas em fitas VHS chegou também ao filho. Aumentando a cada vez que ele se apresenta. “Muito prazer, meu nome é Ayrton Senna.”
“Ainda hoje as pessoas se espantam quando eu digo. Algumas pedem para ver a minha carteira de identidade. Mas o mais legal é que logo em seguida elas me elogiam pelo nome. Me parabenizam e dizem que são fãs do Ayrton Senna. Com o meu nome eu pude descobrir e ver o tamanho da admiração que ele ainda causa nas pessoas. É muito legal”, disse o Senna pernambucano, torcedor do Santa Cruz, estudante de engenharia e que quando criança não sonhava em ser jogador de futebol. “Queria ser piloto de Fórmula 1”, recorda.
Da infância, Ayrton Senna Gonçalves guarda um macacão vermelho e um capacete amarelo. Cópias miniaturas das usadas pelo piloto. E guardadas pela família como relíquia. “Não sou muito fã de Fórmula 1. Brasileiro gosta de torcer e de ganhar. Sou fã do Senna. Das corridas dele. Das vitórias em Mônaco (seis ao todo), em Donington Park (em 1993, quando Senna caiu para 5º na largada e completou a primeira volta em primeiro), na chuva. Sou fã também da pessoa e de tudo o que ele fez e representou para o país. Tenho muito orgulho desse nome”.
Ao contrário do filho, Aílton Gonçalves segue acompanhando as corridas. Mas também prefere recordar dos tempos de domínio de Senna. Principalmente do Grande Prêmio do Brasil, em 1993, quando foi um dos muitos torcedores a invadir a pista do autódromo de Interlagos para comemorar o triunfo com o piloto da McLaren. Dono de uma empresa de turismo, o empresário também pintou o ônibus da empresa em homenagem ao ídolo.
Pai de mais quatro filhos, um deles batizado de Rony Peterson, em homenagem ao ex-piloto sueco, Aílton disse que não batizaria nenhum filho com nomes de pilotos da atualidade. Mas deu uma sugestão ao primogênito: “Quem sabe eu não tenho um neto chamado Ayrton Senna?”. Uma brincadeira. Mas também uma forma de personificar o que todo fã sabe. O nome Senna é imortal.
Números gerais
3 títulos (1988, 1990 e 1991)
161 provas disputadas
41 vitórias
80 pódios
23 segundos lugares
16 terceiros lugares
65 poles positions
2931 voltas na liderança (13.430 km)
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Segurança
A morte de um dos maiores pilotos da história do automobilismo gerou, além da comoção internacional, a necessidade de deixar o esporte mais seguro - na véspera da morte de Ayrton Senna, o austríaco Roland Ratzenberger morreu durante o treino oficial ao se chocar a 300 km por hora em um muro. Inúmeras medidas foram tomadas. E a Fórmula 1, enfim, deixou de registrar acidentes fatais. O do brasileiro foi o último.
As mudanças
Capacetes
Ficaram mais resistentes. Se tornaram à prova de balas e de chamas.
Carros
A principal mudança. Foi criada uma célula de sobrevivência dentro do cockpit, capaz de proteger o piloto de fortes impactos.
Pistas
As áreas de escape ficaram maiores. Assim, mesmo se um carro escapar da pista, ele vai percorrer um longo caminho até bater em um muro ou uma área de proteção, o que deiminui o impacto da bnatida.
Outras mortes em 1994
19 de abril
Dener. Revelado pela Portuguesa, despontou como uma promessa do futebol brasileiro. Jogou também no Grêmio e no Vasco, além de ter defendido a Seleção Brasileira em dois jogos. Morreu em um acidente de carro, na Lagoa Rodrigo de Freitas.
29 de julho
Mussum, humorista brasileiro
8 de dezembro
Antônio Carlos Jobim, cantor, compositor e pianista brasileiro, um dos fundadores da bossa nova
Senna no Mundial de pilotos
1º lugar 1988, 1990 e 1991
2º lugar 1989 e 1993
3º lugar 1987
4º lugar 1985, 1986 e 1992
9º lugar 1984
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Ayrton Senna. Da Silva. Do Brasil. Da rivalidade com Prost, da ousadia nas ultrapassagens, das corridas monumentais na chuva. Da emoção que carregava junto com a bandeira do país após cada vitória. Da idolatria que despertava em uma nação castigada pela falta de saúde e educação. Despertava, não. Desperta. E é por isso que Senna deve ser lembrado assim. Para uns, um herói. Para outros, um mito, um gênio. Para a história, imortal.
Linha do tempo
21 de março de 1960 nasceu, em São Paulo
3 de junho de 1984
O dia em que foi o “vencedor moral” de uma corrida. Em Mônaco, com forte chuva, Senna fez uma brilhante corrida de recuperação. Com uma modesta Toleman, largou em 13º e foi passando todo mundo que via na frente. Perto de passar por Alain Prost, a corrida foi suspensa, por causa da forte chuva.
21 de abril de 1985
conquista a primeira vitória na Fórmula 1, pela Lotus, no Grande Prêmio de Portugal. O brasileiro, que largou na pole, contou com o abandono de Prost após bater em um muro, e com a chuva. O jovem Ayrton, de 25 anos, deixou para trás dois pilotos da Ferrari, Michele Alboreto e Patrick Tambay, que completam o pódio.
30 de outubro de 1988
conquista o primeiro título mundial, no GP do Japão. Senna teve um problema na largada, mas fez uma grande corrida de recuperação. Ocupando a 14ª posição na primeira curva, já estava em 8º no fim da primeira volta. O brasileiro ultrapassou Prost na 28ª volta, vencendo a corrida e conquistando seu primeiro título mundial.
22 de outubro de 1989
O GP de Suzuka é novamente decisivo na luta pelo título, mas, desta vez, Prost levou a melhor sobre Senna, depois de uma manobra polêmica. O francês fechou o brasileiro numa chicane, na 47ª volta, e as duas McLaren bateram. Senna conseguiu voltar para a pista com a ajuda dos comissários da prova, mas a Federação Internacional de Automobilismo desclassificou o brasileiro, com o argumento de que ele “cortou” a chicane. Prost ficou com o título.
21 de outubro 1990
Terceiro ato da saga Prost-Senna, que brigam novamente pelo título no Japão. O desfecho foi mais uma vez cheio de controvérsias. O brasileiro, que largou na pole, bateu na Ferrari do francês na primeira curva. Os dois pilotos abandonaram a prova e Senna conquistou o bicampeonato por estar à frente do francês na tabela.
24 de março de 1991
A primeira vitória em casa demorou, mas foi heroica. O brasileiro teve problemas na caixa de câmbio, ficando apenhas com a 6ª marcha nas últimas voltas. Após receber a bandeirada, começou a gritar no carro. Era o alívio do mito. Desgastado fisicamente, sofreu câimbras e precisou de ajuda para sair do carro.
20 de outubro de 1991
A conquista do tri. Outra vez no Japão, mas, agora, sem polêmicas com Prost. O título veio quando Mansell escapou da pista e abandonou a prova. Na última volta, Senna tinha larga vantagem para seu companheiro de equipe, Gerhard Berger. Mas, a poucos metros da bandeirada, o brasileiro deixou o austríaco passar.
28 de março de 1993
Senna vencia em casa pela segunda e última vez. Interlagos viu uma festa que ficou na história. Após o triunfo, uma multidão invadiu a pista para comemorar. Senna não teve como chegar ao pódio. Ficou parado na pista, cercado por centenas de pessoas, até ser resgatado por dois carros de apoio.
7 de novembro de 1993
Esta foi a 41ª e última vitória de Senna na Fórmula 1, na sua última corrida com a McLaren e no último duelo com Prost, que encerrou sua carreira em seguida. Os dois se abraçam no pódio, o francês conquistou o tetracampeonato e o brasileiro admitiu que sentiria falta do rival. Acabaria ali a “rixa” entre os dois.
1º de maio de 1994
Na sua 161ª corrida na F1, Senna, que largou na pole, bateu no muro de concreto da curva de Tamburello na sétima volta, a mais de 220 km/h. O acidente encerrou de forma trágica a trajetória de um dois maiores ícones da história do esporte.