Diario esportivo

por Fred Figueiroa
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Publicação: 01/10/2016 09:00

Adeus ano velho

A decisão do presidente Alírio Moraes de vender o mando de campo do jogo contra o Corinthians para um empresário brasiliense que levará a partida para a Arena Pantanal, em Cuiabá, foi um triste ato final da temporada para o Santa Cruz. De forma indireta, mas extremamente clara, o clube jogou a toalha e assumiu a condição praticamente irreversível do rebaixamento. E por mais triste que seja - inclusive vi dezenas de torcedores usando a expressão exagerada de “mancha na história do clube” - a atitude do presidente foi correta. Friamente correta. O que é difícil em um ambiente em que as decisões tendem a ser influenciadas por aspectos passionais. Alírio foi frio e corajoso. Sabe que será lembrado (e cobrado) por esta escolha. Sabe o peso que ela significa para um clube que, nos últimos anos, construiu a imagem de uma torcida numerosa, apaixonada e fiel - capaz de sustentar o Santa nos melhores e piores momentos. Algo que, por uma série de razões - algumas impossíveis de explicar - não aconteceu este ano.

“Talvez o torcedor achou que o Santa, com o acesso, passou a ser rico. Em situações mais precárias, a torcida enchia o Arruda. Esse deslocamento para a Arena Pantanal é por sobrevivência”
Alírio Moraes, em entrevista ao repórter João Victor Amorim, da Rádio Jornal

Amarga simbologia
E acaba sendo uma amarga e simbólica coincidência o fato da histórica campanha de reconstrução do Santa ter sido iniciada, em 2011, em situação oposta. A estreia na Série D aconteceu em João Pessoa contra o Alecrim. A equipe do Rio Grande do Norte levou o seu jogo para a capital da Paraíba com o objetivo de atrair justamente os torcedores tricolores. E conseguiu. Mais de 16 mil atravessaram a fronteira do estado e lotaram as arquibancadas do estádio Almeidão.

Eram outros tempos. Outra relação da torcida com o clube. E, sinceramente, não tenho argumentos para explicar como - em todo o Campeonato Brasileiro da Série A - o Santa Cruz só conseguiu colocar no Arruda apenas um público maior do que aquela estreia da Série D em João Pessoa. Isso mesmo. Só um jogo do Santa no Recife teve mais de 16 mil pagantes na competição. Foi justamente a estreia diante do Vitória - quando o clube vinha da conquista dos títulos estadual e regional. Foram 16.949 pessoas naquela partida.

A parcela da torcida...
O distanciamento dos tricolores nesta Série A é um capítulo à parte do fracasso do clube em seu retorno à elite do futebol nacional. Consequência, sem dúvida. Mas também causa. Uma parcela da culpa fica nas mãos dos torcedores que deixaram o Arruda vazio em jogos-chave. Não houve a mínima mobilização da torcida até mesmo em momentos cruciais da competição. A partida contra o Coritiba é emblemática. A equipe vinha de duas vitórias (sobre América/MG e Inter) e teria um confronto direto contra o Coritiba para sair da zona de rebaixamento. Apesar de todo este cenário, foram menos de 8 mil pagantes no estádio.

Por isso, sendo tão frio quanto o presidente Alírio Moraes precisou ser, afirmo de forma direta que a torcida não tem argumento para se posicionar contra a “venda do mando de campo”. Ela não fez a sua parte na engrenagem básica de um clube que entra na Série A depois de dez anos afastado - e isso representa uma determinante desvantagem financeira - com a difícil missão de evitar o rebaixamento. Enquanto os tricolores deixaram o Arruda vazio em jogos-chave, assistimos várias vezes os  torcedores de Cruzeiro e Internacional lotando seus estádios para tentar ajudar o time a sair de uma situação difícil e vexaminosa para o investimento feito pelos clubes.

Sacrifício
A palavra utilizada por Alírio resume sua decisão: Sobrevivência. O Santa termina o ano muito além do seu limite financeiro. Pagou um preço alto demais pelos graves erros de planejamento. Agora é preciso já reduzir os danos para não inviabilizar 2017.