Diario esportivo

por Fred Figueiroa
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Publicação: 03/04/2018 09:00

A terceira peça

A cada dia o futuro da Copa do Nordeste vai se desenhando mais incerto. Ou, na verdade, enxergando por outro ângulo, o novo caminho se apresenta cada vez mais concreto. Depois do presidente do Sport, Arnaldo Barros, romper com a Liga no ano passado e tirar o clube da disputa em 2018 (algo que causou uma enorme reprovação da torcida), foi a vez do presidente do Bahia, Guilherme Bellintanti ir para a linha de frente nas últimas semanas com críticas contundentes aos valores que os principais clubes da região recebem. O dirigente se posicionou contra o rompimento, mas colocou como algo determinante uma completa reformulação da forma de disputa já para o ano que vem - reduzindo para apenas 10 equipes. Ontem mais uma peça fundamental do xadrez de negociações se moveu. O presidente do Vitória, Ricardo David, alinhou seu discurso ao do Sport e Bahia. Em entrevista ao podcast Bate Pronto - do jornal Correio da Bahia - ele foi incisivo: “Você só parte para a mudança depois de avaliar o que já existe. Fizemos uma pesquisa ampla, que nos levou à opinião de que o atual formato da competição não pode seguir. Ele é danoso para clubes como Vitória, Sport e Bahia”.

Xeque
O alinhamento dos três maiores clubes da região - os únicos com orçamento anual acima de R$ 100 milhões - é um sinal claro de que a manutenção do formato atual de disputa do regional tornou-se insustentável. Mesmo deixando a postura radical do Sport de lado (até por não ser um fato novo), as declarações dos presidentes de Bahia e Vitória são fortes e diretas. E têm dois alvos claros: A Liga do Nordeste e o Esporte Interativo. No xadrez, seria uma movimentação de xeque. E, pela distribuição das peças, quase mate. Até porque as alternativas para atender as exigências são complicadíssimas. Seja no aspecto técnico e legal (afinal 16 clubes têm vagas adquiridas e a intenção é que apenas 10 disputem a divisão principal do torneio), seja no financeiro. Sem a Globo, é inviável alcançar os valores pretendidos pelos principais clubes. E, como o Esporte Interativo tem contrato de transmissão até 2022, seria necessário um ajuste entre as duas empresas que, no entanto, se tornaram adversárias ferrenhas pelos direitos de transmissão do futebol nacional.

Mera formalidade
Um ponto importante para ser esclarecido: Ontem surgiu a notícia de que a CBF confirmou a ausência do Sport na edição 2019 da Copa do Nordeste - inclusive com declarações do diretor de competições Manoel Flores ao JC on Line. Por ora, entretanto, uma mera formalidade. Como já foi citado acima, o clube rubro-negro é uma das peças principais na costura para 2019. A diferença em relação ao Bahia é que o Sport considera o plano A a criação de uma nova competição, construída com a Rede Globo. Nenhum dirigente fala publicamente sobre esta opção. Está guardada a sete chaves. Mas posso garantir que o projeto é concreto e foi apresentado aos clubes com nome e patrocinadores definidos. Nesta alternativa, com apenas oito clubes na disputa, as cotas são significativamente maiores e o calendário não chegaria a dez datas. O maior entrave é não ter o selo de competição oficial - seguindo para um conceito similar ao da Primeira Liga.

“Copa União”
E, é preciso deixar claro, Sport, Bahia e Vitória foram os únicos clubes a expor publicamente seus interesses - mas as negociações acontecem intensamente com o chamado G7 do Nordeste, que ainda tem Santa Cruz, Náutico, Ceará e Fortaleza. Houve uma reunião, semana passada, no Recife e - ao que tudo indica - haverá um novo encontro nesta terça-feira. De acordo com Ricardo Davis, a reunião serviu para fechar a questão em torno do formato com dez clubes - com todos se enfrentando na 1ª fase e os quatro melhores avançando. ABC, Sampaio Corrêa e CRB seriam os “escolhidos” para completar a competição. Parece claro que os clubes do G7 fecharam um consenso em relação ao formato da competição. Definiram exigências comuns e repassaram para a Liga e o EI. Analisando de fora, como já escrevi acima, considero inviável (nos aspectos legal e financeiro) uma reconstrução da Copa do Nordeste. A parte financeira poderia ser equalizada com o investimento da Globo, mas ainda assim não há margem legal para a retirada de seis clubes com direitos adquiridos. Seria algo semelhante ao que se faz no indefectível Campeonato Brasileiro de 1987, com a criação Copa União. Aliás, os argumentos do G7 nordestino são basicamente os mesmos do então G12 nacional.