O "conflito" entre a mente e o corpo

Publicação: 22/10/2018 03:00

Segundo a psicóloga Verônica Feitosa, há na cabeça das pessoas transexuais um conflito de como a mente não se identifica com o gênero que corresponde ao órgão genital. “No processo cultural, não nascemos homem ou mulher, mas nos tornamos e aprendemos, o que é diferente da visão biológica”, explica a especialista.

Segundo Feitosa, é papel do psicólogo explicar como se dá o processo de identificação na construção do gênero e a diferença disso com a questão biológica. “Se sentir no corpo errado é uma prisão. É como se você estivesse na casa de outra pessoa, mas que você não gosta dela. Isso interfere na própria aceitação e na autoestima do sujeito”, explica a psicóloga, que salienta a importância da família para o fortalecimento do indivíduo. “Nós somos sujeitos dependentes de afeto. Não se sentir amado e aceito por aqueles que deveriam é a pior sensação. Por isso é tão presente a depressão nesse público”, completa a especialista.

Criado sem referencial paterno, um dos integrantes do Transviver Futebol Clube, Áslan Victor, 29 anos, enfrentou a resistência da mãe quando assumiu sua transexualidade. “A transfobia vem um pouco de casa, muitas vezes transmitimos muito amor para uma pessoa e ela parte o nosso coração. Esperamos que os nossos familiares sejam os primeiros a apoiar e se eles apoiassem a nossa causa, a gente seria mais forte para o combate fora de casa. É muito triste escutar de alguém que gostamos que não somos quem acreditamos ser”. Casado, o treinador de muay thai encontrou o apoio de que precisava em sua companheira, com quem adotou um menino de oito anos. “Os familiares têm que entender que não viramos outra pessoa. Eu ainda sou o mesmo, eu sei o que é errado e o que é certo, o que minha mãe me ensinou. O meu filho explica para os colegas que eu nasci no corpo errado, me chama de pai. É mais fácil para uma criança do que para um adulto”,  conclui.

De acordo com Feitosa, quando a família aceita e acolhe o transexual, ele vai para o social fortalecido. Não é para menos. Por sermos seres  sociais e necessitarmos do reconhecimento do outro para nossa construção psíquica, no primeiro momento o olhar da família será imprescindível. Depois buscaremos nos identificarmos no nosso meio social e essa identificação afetará diretamente a nossa autoestima. “No caso da população trans, fica difícil pra esse sujeito sentir-se bem psiquicamente e socialmente, com tantas atribuições ruins que dão a essa população. Por isso é de fundamental importância o processo psicoterápico, para reestruturação, fortalecimento desse ego que está fragilizado”, acredita a psicóloga.