A criação eterna de um mestre Internado no Imip para implantar ponte de safena, Nuca de Tracunhaém morre ao contrair infecção

Publicação: 28/02/2014 03:00

Marca registrada de Nuca eram os leões de cerâmica com juba encaracolada (ALCIONE FERREIRA/DP/D.A PRESS - 26/1/06)
Marca registrada de Nuca eram os leões de cerâmica com juba encaracolada
Morreu às 16h de ontem o escultor Manoel Borges da Silva, mais conhecido como Nuca de Tracunhaém ou Mestre Nuca. Ele era um dos principais nomes da arte popular de Pernambuco. Suas esculturas mais famosas são leões feitos de barro.

Aos 76 anos de idade, Nuca foi internado no Instituto Materno Infantil de Pernambuco (Imip) para implantar uma ponte de safena no coração. Segundo seu neto Toni Anderson, a cirurgia correu bem, mas ele contraiu uma infecção urinária que se espalhou para os rins, o fígado e o sangue. O enterro está marcado para as 16h de hoje, no cemitério de Tracunhaém.

Em 2002, Mestre Nuca recebeu o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco. Ele era um
dos principais representantes da arte cerâmica típica de Tracunhaém, cidade da Zona da Mata Norte de Pernambuco.

Nuca nasceu no engenho Pedra Furada, em Nazaré da Mata, também na Mata Norte. Filho de agricultores pobres, ele foi morar em Tracunhaém em 1940. Começou desde criança a mexer com barro, fazendo brinquedos inspirados em figuras do seu cotidiano, como cavalinhos, bois e casinhas, para vender na feira de Carpina, cidade vizinha. O artista também ajudava a família trabalhando nas casas de farinha.

Em 1960 casou-se com Maria Gomes da Silva, conhecida, hoje, como Maria de Nuca, que passou a ajudá-lo com o artesanato do barro. Só a partir de 1968, quando esculpiu seu primeiro leão, considerou-se um artista. Segundo Nuca, o leão sentado, figura que marcou seu estilo, surgiu de uma ideia dele com a esposa. A característica mais marcante é a juba encaracolada, feita com dezenas de fragmentos circulares meio achatados. O cabelo cacheado do animal foi ideia de Maria.

Nuca conheceu e conviveu com diversos ceramistas em feiras e salões de arte popular, entre eles Zé do Carmo, Ana das Carrancas e Vitalino. Participou de uma feira em São Paulo organizada pela Empresa de Turismo de Pernambuco (Empetur), em 1976, o que ajudou a torná-lo conhecido nacionalmente. Em 1980 conseguiu ultrapassar as fronteiras brasileiras levando seu trabalho para Lima, no Peru. Atualmente, os trabalhos de Nuca e Maria estão presentes em antiquários, coleções particulares, galerias de arte, museus e em espaços públicos, como as praças do 1º Jardim, em Boa Viagem, nos jardins do Sítio Burle Marx, no Rio de janeiro.