Para que serve um jornal?
Seja no formato digital ou impresso, jornal é gênero de primeira necessidade numa casa, com um conteúdo que atende toda a família
Vandeck Santiago
vandecksantiago.pe@dabr.com.br
Publicação: 11/05/2014 03:00
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Vejamos sob o ângulo do conhecimento de assuntos relevantes: com um jornal dentro de casa, a família tem disponível à mão uma fonte permanente de temas diversos para conversa. E quanto mais relevante for o conteúdo dele, maior sua capacidade de elevar o tom da conversa.
Vejamos sob o ângulo da abrangência dos leitores: o jornal é um bem cujo conteúdo tem atrativo para toda a família. Para o jovem, para os pais, para os eventuais empregados domésticos, para as visitas - e até para o vizinhos e conhecidos.
Vejamos sob o ângulo do estímulo ao progresso intelectual: todo mundo tem seus assuntos preferenciais, mas a forma como um jornal é organizado acaba fazendo que aconteça aquilo que ocorre quando você vai ao supermercado: sua lista de compras tem 10 itens, e você sai de lá com 15. Isso porque vai passando e tem a atenção chamada para um item que não havia atentado antes, e resolve prová-lo. É como jornal: você se interessa apenas pelo noticiário de política, mas folheia o exemplar e lê matérias sobre a biografia de Francisco Julião, que acaba de ser lançada, de autoria de Cláudio Aguiar (Cultura); sobre os cuidados básicos para evitar um AVC (Saúde); sobre o aumento da participação da indústria no PIB de Pernambuco e suas consequências (Economia); sobre as razões dos apagões no Recife (Economia); sobre a nova vitória espetacular do Santa Cruz (Esportes) etc. etc.
Digo pra você, leitor: não há maior instigador da fome de conhecimentos, dentro de uma casa, do que um jornal.
Falo isso e peço licença para contar uma história pessoal, que agora me acorre: eu era criança e me lembro do meu pai, Nabor Santiago, lá de Pesqueira (PE), chegando em casa todos os dias com um Diario de Pernambuco debaixo do braço. De domingo a domingo. Eu gostava de futebol, e comecei lendo o caderno de esportes. Depois passei a me interessar por literatura e cinema, e passei a ler o caderno de cultura. Depois, política. Resumo: quando me tornei adolescente, já lia o jornal inteiro, de cabo a rabo. Sou grato até hoje ao meu pai por isso; tudo aquilo em que eu me tornei, tudo que eu sou, todas as minhas convicções foram formadas a partir daquelas leituras. Das três ou quatro cenas que gostaria de levar comigo para outra vida, se houver outra vida, esta é uma delas: meu pai chegando em casa e vindo em minha direção para me entregar o jornal.
Esta minha profissão de fé no jornal vem a propósito do novo projeto gráfico e editorial do Diario, lançado terça-feira (dia 6), e que incorpora influências tanto do Novo Mundo Digital quanto dos recursos mais modernos à disposição da versão impressa. Jornal é a mais antiga das mídias, está aí desde o século 16. Nos últimos anos muitos prognosticaram o seu fim, diante da chegada da informação via digital. Enquanto isso, os jornais vão-se reformulando, buscando adaptar-se aos novos tempos - e consolidando três certezas: 1ª) não vão morrer; 2ª) a relação com o digital não é de excludência nem de hostilidade mútua, mas de complementaridade; 3ª) no futuro próximo, impresso e digital caminham juntos (o futuro longínquo é ficção científica).
A humanidade hoje é dividida entre os nativos analógicos (aqueles que já eram adultos na década de 1990) e os nativos digitais (os que já cresceram sob a influência da internet). Vão dividir espaço e poder ainda por muito tempo. Os jornais, em mais uma mostra da sua capacidade de adaptação, contemplam os dois públicos, oferecendo a assinatura do impresso e do digital em conjunto.
Mas não importa que tipo de nativo você é, amigo leitor. O que importa é que o jornal continua um bem indispensável para sua casa.