Até onde ela vai? Dilma e Aécio traçaram estratégias para um tipo de eleição e agora têm que redefinir suas campanhas para uma disputa completamente diferente

Vandeck Santiago
vandecksantiago.pe@dabr.com.br

Publicação: 31/08/2014 03:00

 (ARTE DP (SOBRE FOTOS DE EDVALDO RODRIGUES/DP/D.A PRESS))
Três pesquisas na semana, três resultados idênticos e uma certeza para as campanhas de Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB): ficar passivamente esperando que o avanço crescente de Marina Silva seja apenas uma onda momentânea é tática arriscada, que pode mais na frente colocá-los diante de um cenário irreversível. “Nunca vi ninguém ganhar jogo só olhando o adversário jogar”, me disse um parlamentar federal do PT, logo após a divulgação da terceira pesquisa da semana, a do Datafolha, sexta-feira à noite, que mostrou Dilma e Marina Silva (PSB) empatadas com 34% e Aécio com 15%. “É um momento arriscado, porque o adversário que faz 3x1 pode fazer 4x1 e aí já viu, né?…”

O problema é que as estratégias de Dilma e Aécio foram traçadas há mais de um ano visando um tipo de eleição - e de repente se veem diante de outra completamente diferente. Pensaram que iam para uma partida de xadrez, estão às voltas com uma luta de MMA. Precisam agora redefinir suas campanhas, e rapidamente. O parlamentar preocupado com o 3x1 faz parte de um grupo favorável a mudanças na propaganda eleitoral de Dilma, com a inclusão de uma agenda mais esperançosa para o futuro e com um plano específico para combater Marina.

Numa situação dessas, o ímpeto de ir para o confronto direto com o adversário que o ameaça é contido por dois temores: o primeiro, de que o atacado torne-se “vítima”; o segundo, de o ataque gerar insatisfação dos eleitores do candidato atacado. Daí porque o PT está esperando que parta do PSDB o ataque à candidata, e o PSDB esperando que o PT faça isso…

Em condições normais, Marina já seria uma candidata forte. É mais ainda nas condições em que assumiu a candidatura, embalada numa fatalidade e com diversos pontos a favor. O PSB teve a chance de duas entrevistas no Jornal Nacional da TV Globo - uma com Eduardo Campos, outra com Marina. A exposição dela na mídia foi maciça desde a tragédia de 13 de agosto. A comoção popular instalou-se com todo peso em seu palanque.

Faltando 35 dias para a eleição a incógnita é se a onda Marina chegará lá com a mesma força de hoje. A tese defendida por ela e pelo PSB, da “nova política” (no sentido de “nós somos diferentes de todos os outros”) e de governar com “os bons” de diversos partidos, é um xarope que só engana quem quer ser enganado - quem já passou um dia observando a política sabe que não passa de um artifício usado por quem entra numa disputa querendo ser alternativa aos que estão no poder. A coligação de Marina deve eleger, digamos, uns 50 deputados federais. A Câmara tem 513. Nenhum governo se sustenta sem maioria parlamentar. Para ter maioria, é preciso negociar. Negociação significa participar do governo, o que significa ocupar cargos (e não estou falando de nada escuso, é um procedimento normal numa democracia).

E governar com os “bons”? Lá vamos nós de novo: imagine que o fulano “bom” de um partido aceite participar do governo. Para que ele vá é preciso haver uma negociação entre o governo e o partido dele (uma vez que ele não pode ir sozinho, representando apenas a si próprio). Na negociação é preciso que… Bom, vocês sabem.

Vê-se aí que só no terreno da política dois pilares centrais do discurso da candidata do PSB são pura e simplesmente algo que se diz para arrebanhar votos mas que todos sabem que não será possível de ser posto em prática. Que nome a gente dá a isso?…
Essa parte já é por si só expressiva, dada a contradição que representa: a candidata que diz representar a “nova política” está na verdade utilizando mecanismos da “velha política”.

Até 5 de outubro, dia da votação, muito ainda pode acontecer. O desafio para petistas e tucanos é encontrar questionamentos com eficácia suficiente para abrir fissuras na armadura que hoje encobre Marina.