Céu e inferno na mesa Série Viver mais, que começa hoje, se baseia em pesquisa do MS que alerta para consequências dos atuais hábitos alimentares dos pernambucanos

luce pereira
lucepereira.pe@dabr.com.br

Publicação: 25/01/2015 03:00

Não tem aquela conversa de que “é fim de semana, pode tudo”, quando o assunto são exageros na alimentação? Pois bem, em Pernambuco, quanto comer e o que comer não frequentam a lista de preocupações dos habitantes em dia nenhum da semana e os resultados desta negligência com a saúde aparecem numa estatística nada tranquilizadora, feita em nível nacional. Se fosse um paciente, poderia-se dizer que o estado está a meio caminho da UTI, apresentando perspectivas pouco animadoras de vir a ser um indivíduo de hábitos saudáveis. Pesam neste prognóstico fatores como cultura, correria, estresse, ociosidade e apelos quase irresistíveis como a enorme oferta de “trash” foods, que são, como se sabe, paraísos não apenas de calorias, mas, também, de vilões que atendem por nomes como sal, gordura, açúcar, refrigerante.
Durante cinco dias, na série Viver mais, que começa hoje, os repórteres Ed Wanderley e Alice de Souza se dedicam a fazer uma radiografia completa dos hábitos alimentares dos pernambucanos, com base na Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), que traduz os reflexos destas escolhas. Pode ser que, depois dela, o leitor nunca mais se utilize das mesmas desculpas esfarrapadas para cair de boca nos vilões e desprezar solenemente os benfeitores, neste caso, alimentos imprescindíveis ao organismo, como feijão, leite, frutas e hortaliças. O problema começa exatamente aqui: sabia que os patrícios consomem menos todos eles e se assim se candidatam mais a doenças do coração, hipertensão e diabetes? E como se não bastasse, as crianças são trazidas para a linha de tiro, porque recebem alimentos escolhidos por adultos “analfabetos” em educação alimentar.
E não tem aquela famosa frase “o tempo é quem vai dizer”? Ela foi feita sob medida para traduzir os reflexos dos malefícios causados pela ingestão de alimentos não recomendáveis e de hábitos perniciosos como sedentarismo, fumo e álcool. Matar a fome com “veneno” em forma de comida é uma insistência que tem custado a Pernambuco o terceiro lugar no ranking dos estados com habitantes nos quais o colesterol está acima do normal. A pesquisa diz que em um grupo de 30 pernambucanos, ao menos uma pessoa substitui a refeição por fast food. E se à má escolha se somam sobremesa e refrigerante, tanto pior.
De docinho em docinho, o exército de diabéticos vai crescendo e já somos o segundo estado do Nordeste em número deles, somando um milhão de pacientes inscritos nos serviços municipais de saúde. Com o agravantes de que apenas 2,1 mil conseguem a insulina fornecida pelas farmácias da rede pública, enquanto na rede particular o tratamento não sai por menos de R$ 700. Não fazê-lo significa se expor a riscos como amputações e cegueira, quando não à morte. Estima-se que a cada oito segundos, um diabético vai a óbito.
Má alimentação, também, faz 21,5% dos habitantes do estado serem vítima de hipertensão e um a cada 60 sofrer Acidente Vascular Cerebral (AVC). O vilão, aqui, é o consumo do dobro da quantidade diária de sal recomendada. E, evidentemente, o resultado de todos os excessos cometidos em nome da gula e da negligência podem causar o dobro dos estragos, se o autor deles for vítima de depressão. Quadros depressivos, como se sabe, interferem no sono, o que coloca a pessoa a dois passos do uso inconsequente de remédios, muitas vezes sem necessidade diagnosticada. Aqui, Pernambuco aparece em terceiro lugar no consumo destas substâncias.
A série ainda trata dos malefícios provocados pelo fumo e pelo álcool, quesitos nos quais Pernambuco se recupera bem. No primeiro, a queda está em 20% ao ano, desde 2009, e no segundo, a Lei Seca - que aqui ganhou fama de ser aplicada com rigor - tem ajudado a refrear o consumo. Então, leia e comece a admitir a possibilidade de trocar a farmácia pela feira, o sofá pela consciência de que músculos existem para serem desafiados.