Com amor, João
Muito se fala de amor de mãe; aqui está uma história junina da vida real que trata do amor de filho
Silvia Bessa
silviabessa.pe@dabr.com.br
Publicação: 20/06/2015 03:00
Bem ali na comunidade do Coque mora um João que aos 14 anos resolveu por conta própria viver missão semelhante à do João da Bíblia, encarregado de tomar conta de Maria, mãe de Jesus, segundo contam textos históricos. O menino João dedica os melhores pensamentos e cuidados dele à mãe, dona Maria de Lourdes dos Santos, conhecida como Dinha nesta área da periferia do Recife. Ele fala dela a três por quatro e, caso não encontre oportunidade, cava a chance. “Se a senhora quiser, gostaria de conversar sobre minha mãe”, disse-me há semanas, sabendo que tinha o que contar. Ouvi e pude vê-lo ao lado da mãe tempos depois.
Quando encontra Dinha, João a beija no topo da cabeça e a abraça envolvendo os pequenos braços com um desprendimento incomum a garotos de igual idade. Amigos garantem que, se experimenta uma comida diferente na rua, separa uma pequena porção para que ela prove parte das descobertas dele. Dinha lembra que desde muito novo o garoto (o quarto dos cinco filhos) aprendeu a lavar roupa para abrandar o trabalho pesado da casa.
Dinha é uma dona de casa que dedicou a vida à prole e à mãe, dona Maria José, cadeirante. Conheci João em um momento de passagem dele, da adolescência para a vida adulta. Faz um mês que a avó morreu, aos 88 anos. Dinha entrou no luto; João buscou soluções para amenizar o abatimento dela. “Minha mãe está muito triste e eu estou pensando de que jeito posso fazer uma surpresa para ela”, revelou-me com um olhar cálido, esperando contribuições.
A ideia já tinha: “Quero cozinhar para ela”, disse, enquanto descascava um saco de batatas. João é um disciplinado aprendiz de cozinheiro em um projeto de gastronomia social da Ong Pequenos Profetas, que atende famílias carentes da proximidade do bairro da Ilha de Joana Bezerra. Queria agradá-la e mostrar que está focado no objetivo de formar-se na profissão pela qual ele se apaixonou prematuramente.
João não estava satisfeito em fazer um prato trivial. “Quero fazer arroz de polvo”. Contou com a ajuda de um profissional, o chef e espécie de guru dele, Demétrius Demétrio, coordenador da Ong. “É um prato saudável e diferente. Vou ajudar num treino”, disse o chef. João pesquisou na internet a receita desejada, decorou os ingredientes e o passo-a-passo como uma tabuada. “Ele será um grande cozinheiro porque ama o que faz”, prevê Demétrius, o incentivador.
Fui convidada para o dia em que ele pôde mostrar-se para a mãe, na casa de telha de estilo Brasilit que eles residem. Dinha pouco sabia o que a esperava, mas ouviu falar que o almoço seria feito por João. Dinha e eu ficamos como visitas. Tivemos uma boa e reveladora conversa. “Passei muita necessidade, minha filha. Quando o pai de João veio morar comigo ele dizia que só tinha água aqui”,
contou. “Pode ser que, de tanto ouvir a gente contando, João tenha se interessado em aprender a cozinhar e por isso queira tanto essa profissão”, cogita. Na cozinha João continuava atento ao tempero e ao tempo certo do cozimento do polvo na panela de pressão - 8 minutos depois da fervura.
“Nunca tive tempo para me cuidar. Sempre cuidei de meus filhos e de minha mãe. Talvez seja doente por causa disso. Ultimamente nem comer eu como”, disse ela, abatida pela dor da perda. O cheiro já tomava cada canto da pequena casa. “Mas João insiste. Outro dia ele trouxe uma salada com um mato. Disse que o nome era rúcula e que era bom para tudo no mundo. Eu comi”. O arroz de polvo estava pronto. A mãe, que nunca havia visto prato parecido, pensou duas vezes em comê-lo. “Mãe, fiz para você”, disse ele, vaidoso, com o olhar baixo, à espera da expressão da mãe.
Sempre ouvi letras de músicas, poemas e relatos sobre amor de mãe. João é revelação do amor de filho. Cumpre atribuição semelhante à dada para João, o apóstolo, responsável por zelar e cuidar de uma mãe. “Vou trabalhar muito com o que gosto e um dia prometo que vou cuidar de verdade de você. Aí vou te dar tudo que você deseja”, promete João, diante das câmeras e quando está a sós com Dinha.
Quando encontra Dinha, João a beija no topo da cabeça e a abraça envolvendo os pequenos braços com um desprendimento incomum a garotos de igual idade. Amigos garantem que, se experimenta uma comida diferente na rua, separa uma pequena porção para que ela prove parte das descobertas dele. Dinha lembra que desde muito novo o garoto (o quarto dos cinco filhos) aprendeu a lavar roupa para abrandar o trabalho pesado da casa.
Dinha é uma dona de casa que dedicou a vida à prole e à mãe, dona Maria José, cadeirante. Conheci João em um momento de passagem dele, da adolescência para a vida adulta. Faz um mês que a avó morreu, aos 88 anos. Dinha entrou no luto; João buscou soluções para amenizar o abatimento dela. “Minha mãe está muito triste e eu estou pensando de que jeito posso fazer uma surpresa para ela”, revelou-me com um olhar cálido, esperando contribuições.
A ideia já tinha: “Quero cozinhar para ela”, disse, enquanto descascava um saco de batatas. João é um disciplinado aprendiz de cozinheiro em um projeto de gastronomia social da Ong Pequenos Profetas, que atende famílias carentes da proximidade do bairro da Ilha de Joana Bezerra. Queria agradá-la e mostrar que está focado no objetivo de formar-se na profissão pela qual ele se apaixonou prematuramente.
João não estava satisfeito em fazer um prato trivial. “Quero fazer arroz de polvo”. Contou com a ajuda de um profissional, o chef e espécie de guru dele, Demétrius Demétrio, coordenador da Ong. “É um prato saudável e diferente. Vou ajudar num treino”, disse o chef. João pesquisou na internet a receita desejada, decorou os ingredientes e o passo-a-passo como uma tabuada. “Ele será um grande cozinheiro porque ama o que faz”, prevê Demétrius, o incentivador.
Fui convidada para o dia em que ele pôde mostrar-se para a mãe, na casa de telha de estilo Brasilit que eles residem. Dinha pouco sabia o que a esperava, mas ouviu falar que o almoço seria feito por João. Dinha e eu ficamos como visitas. Tivemos uma boa e reveladora conversa. “Passei muita necessidade, minha filha. Quando o pai de João veio morar comigo ele dizia que só tinha água aqui”,
contou. “Pode ser que, de tanto ouvir a gente contando, João tenha se interessado em aprender a cozinhar e por isso queira tanto essa profissão”, cogita. Na cozinha João continuava atento ao tempero e ao tempo certo do cozimento do polvo na panela de pressão - 8 minutos depois da fervura.
“Nunca tive tempo para me cuidar. Sempre cuidei de meus filhos e de minha mãe. Talvez seja doente por causa disso. Ultimamente nem comer eu como”, disse ela, abatida pela dor da perda. O cheiro já tomava cada canto da pequena casa. “Mas João insiste. Outro dia ele trouxe uma salada com um mato. Disse que o nome era rúcula e que era bom para tudo no mundo. Eu comi”. O arroz de polvo estava pronto. A mãe, que nunca havia visto prato parecido, pensou duas vezes em comê-lo. “Mãe, fiz para você”, disse ele, vaidoso, com o olhar baixo, à espera da expressão da mãe.
Sempre ouvi letras de músicas, poemas e relatos sobre amor de mãe. João é revelação do amor de filho. Cumpre atribuição semelhante à dada para João, o apóstolo, responsável por zelar e cuidar de uma mãe. “Vou trabalhar muito com o que gosto e um dia prometo que vou cuidar de verdade de você. Aí vou te dar tudo que você deseja”, promete João, diante das câmeras e quando está a sós com Dinha.