Encontros e reencontros
Por trás de dois dias de uso da ciclovia
há muito mais de confidências familiares do
que sonha nossa
vã filosofia
Silvia Bessa
silviabessa.pe@dabr.com.br
Publicação: 08/09/2015 03:00
Se fosse borboleta, teria pego uma carona no vento e aproveitado o céu azul-cheguei do domingo e do feriado de ontem para acompanhar o fluxo das famílias que usam as ciclofaixas do Recife. Quem sabe me penduraria no ombro de um ciclista de cabelos grisalhos ou numa criança de peito estufado, vaidosa com a grande (aparentemente simples) aventura. Faria tudo para ouvir as pequenas confidências que se revelam nos passeios despretensiosos sobre rodas dos finais de semana. Ou o mínimo delas, preferencialmente as mais íntimas e ditas como uma frase perdida na conversa, de forma que comprovasse o que penso sobre as faixas para ciclistas. Porque acho que o impacto delas vai além do ganho de uma vida saudável. As ciclofaixas promovem intimidades, ajustam laços entre pais e filhos, irmãos e amigos.
Um punhado de relatos me fez pensar nesse caminho. Fazia muito tempo, por exemplo, que não ouvia falar que uma garota prestes a completar 15 anos pedira de presente de aniversário uma bicicleta. Lílian Queiroz revelou essa vontade ao pai, Flávio Cunha, e ficou numa felicidade quilométrica ao ganhar a magrela. Verdade, pode até ser modismo (torço que não), mas acho a notícia uma mudança de costume imensa, com relação direta nas relações construídas. Fico imaginando quantos segredos ou hábitos podem ser descobertos e divididos entre Lílian e Flávio pedalam. É um espaço de dois e que pode vir a suprir a agenda lotada de ambos durante a semana letiva, de aulas e horas de trabalho a fio.
O mesmo acontece na família do advogado Luiz Rêgo Barros (59 anos). Quando não ele, a mulher Dilma Santos Rêgo Barros paramenta-se para percorrer a cidade dias com o filho Gabriel, dias com a filha Rafaela. Com Gabriel Henrique (11 anos), um rapaz em formação, Luiz aproveita para dar seus conselhos sobre relacionamentos, segurança na internet, saúde e alimentação.
“É muito interessante para nós dois”, assegura o pai. “Sempre aproveitamos o tempo para conversarmos. Acho bom também porque muitas vezes encontro com amigos e com os filhos dos amigos. As crianças conversam, interagem e se conhecem melhor”, conta Luiz, que usa a ciclovia da Avenida Boa Viagem, gosta das ciclofaixas que seguem para o Recife Antigo e aproveita a oportunidade para apresentar os bairros e as ruas que Gabriel não conhece. É muito descontraído e elimina o estresse dos dois”, afirma o pai Luiz. “Eu gosto. Acho que a gente fica mais junto”, corrobora o adolescente. Conta a mãe Dilma que outro dia resolveu dar uma volta com Gabriel caminhando rumo à avenida beira-mar usando fones de ouvido para escutar músicas. “Ele me repreendeu. Pediu que eu tirasse. Disse que assim eu não queria conversar”.
Achei o apelo de Gabriel simbólico. É sinal de que há uma expectativa quanto a momentos de troca entre pais e filhos. Suponho não ser ele o único. As ciclofaixas funcionam em domingos e feriados das 7h às 16h. Quando se anda ao largo de qualquer parte dos 36,5 quilômetros, em um dos 30 bairros cortados pelo projeto, pode se perceber que as fisionomias dos usuários são de interatividade. Gente que parece ter nascido sobre rodas e outras que cambaleiam como aprendizes. De todo modo, estão lá com o propósito de estar junto daqueles que oferecem prazer, curtindo a cidade que moram. E Recife, de onde fala mal quase sempre, devemos reconhecer, é linda e que tem cenários fantásticos para reencontros familiares e afetivos. Feitos de frases, olhares e sorrisos descontraídos. Que venha o próximo final de semana.
Um punhado de relatos me fez pensar nesse caminho. Fazia muito tempo, por exemplo, que não ouvia falar que uma garota prestes a completar 15 anos pedira de presente de aniversário uma bicicleta. Lílian Queiroz revelou essa vontade ao pai, Flávio Cunha, e ficou numa felicidade quilométrica ao ganhar a magrela. Verdade, pode até ser modismo (torço que não), mas acho a notícia uma mudança de costume imensa, com relação direta nas relações construídas. Fico imaginando quantos segredos ou hábitos podem ser descobertos e divididos entre Lílian e Flávio pedalam. É um espaço de dois e que pode vir a suprir a agenda lotada de ambos durante a semana letiva, de aulas e horas de trabalho a fio.
O mesmo acontece na família do advogado Luiz Rêgo Barros (59 anos). Quando não ele, a mulher Dilma Santos Rêgo Barros paramenta-se para percorrer a cidade dias com o filho Gabriel, dias com a filha Rafaela. Com Gabriel Henrique (11 anos), um rapaz em formação, Luiz aproveita para dar seus conselhos sobre relacionamentos, segurança na internet, saúde e alimentação.
“É muito interessante para nós dois”, assegura o pai. “Sempre aproveitamos o tempo para conversarmos. Acho bom também porque muitas vezes encontro com amigos e com os filhos dos amigos. As crianças conversam, interagem e se conhecem melhor”, conta Luiz, que usa a ciclovia da Avenida Boa Viagem, gosta das ciclofaixas que seguem para o Recife Antigo e aproveita a oportunidade para apresentar os bairros e as ruas que Gabriel não conhece. É muito descontraído e elimina o estresse dos dois”, afirma o pai Luiz. “Eu gosto. Acho que a gente fica mais junto”, corrobora o adolescente. Conta a mãe Dilma que outro dia resolveu dar uma volta com Gabriel caminhando rumo à avenida beira-mar usando fones de ouvido para escutar músicas. “Ele me repreendeu. Pediu que eu tirasse. Disse que assim eu não queria conversar”.
Achei o apelo de Gabriel simbólico. É sinal de que há uma expectativa quanto a momentos de troca entre pais e filhos. Suponho não ser ele o único. As ciclofaixas funcionam em domingos e feriados das 7h às 16h. Quando se anda ao largo de qualquer parte dos 36,5 quilômetros, em um dos 30 bairros cortados pelo projeto, pode se perceber que as fisionomias dos usuários são de interatividade. Gente que parece ter nascido sobre rodas e outras que cambaleiam como aprendizes. De todo modo, estão lá com o propósito de estar junto daqueles que oferecem prazer, curtindo a cidade que moram. E Recife, de onde fala mal quase sempre, devemos reconhecer, é linda e que tem cenários fantásticos para reencontros familiares e afetivos. Feitos de frases, olhares e sorrisos descontraídos. Que venha o próximo final de semana.