O campeão dos vestibulares Encontramos o fera pernambucano que nos anos 1980 foi o maior recordista do Brasil em aprovação em primeiro lugar no vestibular

Vandeck Santiago
vandecksantiago.pe@dabr.com.br

Publicação: 10/12/2015 03:00

 (JOAO VELOZO/ESP.)
A história mais surpreendente do vestibular pernambucano em todos os tempos é a deste cidadão aí, Nylo de Barros Correa. Entre 1980 e 1987, ele foi aprovado em sete vestibulares, e conquistou primeiro lugar em cinco deles. Em 1983 fez 1.071 pontos, marca que se tornou um recorde nunca batido do chamado “Vestibular Unificado” (que reunia todas as universidades, com as mesmas provas, e com as vagas sendo disputadas por todos os inscritos - cerca de 50 mil candidatos, para 9 mil vagas).

Lembro bem dele porque esta foi a época em que eu também fiz o exame, e a foto de Nylo na capa dos jornais após a divulgação dos resultados era então uma cena corriqueira. Nos anos 1980 ele tornou-se uma espécie de lenda urbana do vestibular, com as suas conquistas repercutindo em todo o país. Mas, ao ver os exames dos que agora tentam ingressar no ensino superior, e numa época em que cada universidade tem o seu critério de aprovação, fiquei me perguntando: o que o destino reservou ao campeão dos vestibulares dos anos 1980? Fez mestrado, doutorado? Ensina em alguma universidade? Escreveu livro? Abriu alguma empresa? Fez concurso para ingressar em algum órgão público? Entediou-se com tudo e tornou-se um religioso recluso? Construiu família? Ainda mora em Pernambuco? Está vivo?

Nós o encontramos vivendo no mesmo espaço que o consagrou – o dos exames. Nos vestibulares, ele passou em Química, Engenharia Química, Direito, Jornalismo – mas não concluiu nenhum desses cursos. Chegou a fazer três anos de Direito (o curso é de cinco anos), mas abandonou. No final, acabou concluindo o curso de Licenciatura em matemática. Hoje ele dá aulas de matemática e raciocínio lógico em três escolas que preparam para concursos e para o Enem: o Nuce (Núcleo de Concursos Especial), CPE (Centro Profissional Especial) e Especial.

 “Tem gente que se encontra no ambiente das universidades. Eu não me encontrei. Mas hoje faço exatamente o que eu gosto, que é dar aulas. Sou feliz, sinto-me realizado sendo professor”, disse Nylo, que hoje tem 50 anos. Quando passou pela primeira vez em primeiro lugar, em 1982, era um garoto de 17 anos (é ele nesta foto antiga, tirada na redação do Diario). É filho único, de uma família de classe média. Estudou no Marista, que era, segundo ele, “um colégio muito acolhedor” – ambiente completamente diferente do que encontrou nas universidades.

Na época em que vivia tirando primeiro lugar ano sim, no outro também, Nylo chegou a ser criticado por outros estudantes. Diziam que ele fazia o vestibular só “para ganhar dinheiro”; depois entrava e não levava o curso adiante. O primeiro lugar recebia prêmios: Nylo ganhou uma poupança, uma motocicleta e um Fusca. Premiações cobiçadas por estudantes, mas nada de valor extraordinário. Hoje ele tem um automóvel de marca popular. Nos anos 1980, Nylo poderia ter aproveitado a fama para fazer carreira solo, dar aulas de matéria isolada, abrir alguma empresa para si, ter escrito um livro contando como passar em concursos. Não fez nada disso. “É, poderia”, diz ele. “Mas nunca fui um empreendedor. Nunca tive essas ambições”.

Ele continua morando na mesma casa em que morava com os pais, em Olinda. Tem uma filha de 10 anos, Bárbara. Diz que nunca se considerou um “superdotado” ou alguém com uma inteligência superior aos colegas. “Era apenas um estudante que gostava de aprender sobre tudo e estudar. Mas não me matava de estudar, não deixava de me divertir”, recorda.

Mantém o estilo discreto de quando era fera do vestibular. Nunca guardou os jornais que registravam seus feitos. Não diz a ninguém que foi campeão do vestibular, a menos que alguém pergunte - e mesmo assim o faz em voz baixa, para não chamar atenção. Em suas aulas, diz que não se interessa em fazer com que algum aluno passe em primeiro lugar: “O importante é ser aprovado”. Há um segredo para o sucesso em exames? Tem, ensina: esforçar-se para fazer uma boa base durante todo o período escolar, e procurar aprender sobre tudo. E um segredo para matemática: aprender as operações básicas (as quatro operações, frações, números decimais…). Tanto nas aulas do pré-Enem quanto nas preparatórias para concursos, a principal deficiência dos candidatos é com as operações básicas. Para encerrar, tem um segredo para a vida? Sim, diz ele, fazer o que gosta.