Espírito pernambucano cativa estrangeiros De 2006 a 2010, o país recebeu 5.950 imigrantes. Desses, 20% optaram pelo estado. Escolha que vai além da economia

TIAGO CISNEIROS

Publicação: 20/01/2013 03:00

colombiano Juan David, 21, aluno de arquitetura diz que seu ponto preferido no Recife é o Capibaribe (NANDO CHIAPPETTA /DP/D.A PRESS)
colombiano Juan David, 21, aluno de arquitetura diz que seu ponto preferido no Recife é o Capibaribe

A economia em alta atrai, mas é o espírito do pernambucano que cativa. Assim se resumem as histórias da maioria dos estrangeiros que vieram morar no estado durante a atual fase de desenvolvimento. Estrangeiros que, há três anos, representavam uma população de 5.950 pessoas, incluindo 1.775 naturalizados brasileiros. Mais de 20% deles fixaram residência aqui entre 2006 e 2010, segundo o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A “imigração” no período, comparada ao anterior (2001 a 2005), cresceu 62,5%. No novo mosaico, ganham espaço grupos de países europeus em crise, sulamericanos e africanos. Amanhã, leia sobre o que os especialistas acham dessa “invasão”.

Entre os estrangeiros que adotaram Pernambuco como lar nos últimos anos, está Juan David Estrada, 21. Graças a um convênio entre os governos da Colômbia e do Brasil, ele conseguiu morar e estudar arquitetura no Recife. Escolheu a cidade por causa do tamanho, das praias, do clima e da riqueza cultural. Em dois anos, aprendeu a gostar, também, do povo. “As pessoas me recebem de braços abertos.”

Elogio que também tem lugar na fala de Jacques Reboul, 46, natural de Marseille, no Sul da França. Desde 2011 no Recife, para onde se mudou para trabalhar no ramo petrolífero, ele ainda se admira com o bom humor do pernambucano. “Gosto muito do povo, que está sempre alegre, apesar de tantos problemas. Na França, as pessoas têm tudo, mas vivem tristes.” Das dificuldades na nova terra, ele destaca o trânsito complicado (“um inferno”), a violência e os custos de alguns serviços. “Acho errados os preços da escola e dos planos de saúde. Lá, funcionam melhor e são de graça.”

As críticas de Juan David são outras. Natural de Bogotá - cidade que se tornou referência nos anos 1990, por causa de melhorias radicais na mobilidade e na segurança pública -, o universitário se incomoda com a inércia dos políticos. “Sinto muita falta de um planejamento dos espaços públicos. Tudo é feito para o carro. O transporte público é precário, não atende às necessidades. A cidade poderia ser muito mais.” Para ele, outro problema é a carência de opções de entretenimento. “Às vezes, prefiro ficar em casa. Diferentemente de Bogotá, o Recife não é convidativo para caminhar, sair com amigos, ir a um café.”

Nesse quesito, o italiano Christian Zingale, 38, tem uma impressão bem diferente. Ele trocou a Europa e o trabalho como eletricista para morar em Maracaípe e ser sócio do irmão em uma pizzaria de Porto de Galinhas, no Litoral Sul do estado - historicamente, uma área de concentração de estrangeiros. “Vim acreditando em uma vida melhor. Aqui, além de ter um negócio, posso curtir a praia.” Para Zingale, que espera a primeira filha do casamento com uma olindense, os principais problemas do estado estão ligados à administração pública. “Um europeu sempre faz essa comparação. Faltam coisas como saúde, educação, saneamento básico.”

Jacques Reboul, 46, natural de Marseille, na França, veio a trabalho, mas adora o bomhumor do povo daqui (ALCIONE FERREIRA DPD.A PRESS)
Jacques Reboul, 46, natural de Marseille, na França, veio a trabalho, mas adora o bomhumor do povo daqui
Números

As populações de colombianos, franceses e italianos em Pernambuco aumentaram 850%, 35,9% e 23,8%, entre 2000 e 2010. Também cresceram bastante as comunidades de equatorianos (1.550%), uruguaios (700%), bolivianos (427,5%) e espanhóis (109,3%). Os índices, porém, não devem ser considerados à risca. O demógrafo Wilson Fusco, pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) e especialista em migrações internas e internacionais, alerta que os dados do Censo sobre imigração vêm de uma amostra, e não do universo. Esses números são multiplicados por pesos para representarem toda a população. “Onde se encontra uma variação muito grande, pode-se assumir uma tendência de aumento. Nas pequenas (abaixo de 50%), não há como supor mudanças de forma segura.”

Saiba mais

Na amostra do Censo 2010, aparecem 10 nacionalidades não registradas em 2000. Os destaques foram Dinamarca (40 pessoas), México (65) e Venezuela (73)

Por outro lado, 14 nacionalidades que apareciam em 2000 não tiveram registro em 2010. Entre elas, Índia (que tinha 62 pessoas), Romênia (43) e Polônia (27)

Na comparação entre as nacionalidades que apareceram nos dois Censos, 17 registraram queda e 23 tiveram aumento em 2010

Das 7 nacionalidades africanas registradas em 2010, 5 registraram aumento, 1 teve queda (Cabo Verde) e 1 não havia aparecido em 2000 (Marrocos - hoje, com 8 pessoas)

Das 10 nacionalidades sulamericanas de 2010, 7 registraram aumento, 1 teve queda (Peru) e 2 não apareciam em 2000 (Venezuela, hoje com 73 pessoas, e Guiana, com 26)

Os 5 países mais representados em Pernambuco, em 2010, eram Portugal (1.507 pessoas), Itália (577), Alemanha (317), Estados Unidos (309) e Espanha (270)