Aeroclube fora da rota da Via Mangue Por ordem judicial, após 73 anos, única escola de aviação do Nordeste foi fechada

Tânia Passos

Publicação: 07/03/2013 03:00

Prefeitura do Recife
esperar concluir
construção, no alto, até
dezembro. Acima, as
aeronaves: donos têm
até o dia 15 para retirá-las (FOTOS: TERESA MAIA/DP/D.A.PRESS)
Prefeitura do Recife esperar concluir construção, no alto, até dezembro. Acima, as aeronaves: donos têm até o dia 15 para retirá-las

O fim de uma era. As atividades no Aeroclube de Pernambuco, no Pina, Zona Sul do Recife, foram oficialmente encerradas ontem, depois de 73 anos de história. O espaço onde funcionava a única escola de formação de pilotos e comissários de voo do Nordeste sai para dar passagem a um trecho de quase um quilômetro da Via Mangue. Desde 2004, o terreno onde foi construído, no fim da década de 1930, estava em disputa judicial com o governo do estado, que pedia a reintegração de posse da área. O juiz da 5ª Vara da Fazenda Pública, José Edvaldo Palmeira, concedeu liminar favorável ao governo. Não cabem mais recursos.


Com a decisão da Justiça, o aeroclube tem até amanhã para desocupar o centro administrativo e até o dia 15 para remover as aeronaves particulares estacionadas nos hangares. A única concessão foi em relação aos cursos que estão em andamento, com prazo para encerrar até o mês de maio. Os hangares abrigam atualmente cerca de 50 aviões particulares de pequeno porte. O advogado Carlo Ponzi, proprietário de uma das aeronaves, ainda não sabia o destino do seu avião. “Vou procurar um hangar particular. Talvez na Coroa do Avião ou em João Pessoa”, disse.



 De acordo com o presidente do Aeroclube, Francisco Rodrigues, cerca de 50 funcionários diretos e 200 indiretos ficarão desempregados. Além da escola, também funcionam no local uma oficina, um posto de combustível, um restaurante e uma escola de balé. “Teremos que cumprir a determinação judicial. Infelizmente! Pernambuco está perdendo um patrimônio precioso”, destacou o presidente do aeroclube. As aulas práticas do curso de formação de pilotos já haviam sido transferidas para o Aeroporto dos Guararapes.


De acordo com o procurador-geral do estado, Thiago Norões, todas as benfeitorias feitas no local serão indenizadas. Além disso, o governo vai continuar buscando um terreno para reinstalar o aeroclube. “O estado tem todo o interesse em manter as atividades do aeroclube e a escola de aviação continuará funcionando. Há demanda e há corpo técnico. É só negociar um espaço, mesmo que privado”, ressaltou Norões. Ainda segundo o procurador, a área do terreno por onde passará a Via Mangue vai comportar também um parque. “Estamos devolvendo uma área na Zona Sul que estava atendendo a uma pequeno grupo e que passará a atender  à população com ações urbanísticas e viárias”.

entrevista >> Francisco Rodrigues, presidente do Aeroclube

“Nunca tivemos a escritura do terreno”

Depois de 73 anos, o Aeroclube está sendo obrigado a deixar um terreno que foi alvo de disputa judicial com o estado. Vocês nunca tiveram a escritura do terreno?

Exato. Não temos. Nenhum dos presidentes teve a preocupação de escriturar o terreno. O aeroclube funcionou, inicialmente, onde está o Aeroporto dos Guararapes e o governo do estado acabou nos transferindo para essa área justamente para construir o aeroporto. Essa doação nunca chegou a ser oficialializada. Naquela época, na década de 1940, o avião era quase um disco voador. As pessoas estavam mais preocupadas em olhar o avião.

Como vocês pretendiam ganhar essa ação sem ter a escritura?
O aeroclube funciona aqui há mais de 70 anos. Fomos investigar a posse do terreno e contratamos historiadores. Essas informações estão servindo de subsídio para entender como se deu essa ocupação. Também buscamos informações técnicas para mostrar à Justiça que a área nos pertence.

O que acontecerá com os funcionários e os cursos?
Os funcionários serão demitidos. Os cursos serão concluídos em maio. Depois disso não sabemos se teremos lugar para continuar as atividades.