O cortejo com o andor da santa percorreu 6,5 km até o Morro da Conceição

Milhares de pessoas participaram, ontem, da procissão da 112ª Festa de Nossa Senhora da Conceição, a primeira com a tradicional igreja na condição de Santuário. Como nos últimos anos, a procissão começou no Forte do Brum, no Bairro do Recife. O cortejo saiu por volta das 15h30, acompanhado de dois trios elétricos e da Frevioca, todos ao som de músicas religiosas católicas para alegria e contrição dos fiéis que caminharam ao lado e na frente do andor da santa. O trajeto de 6,5 quilômetros incluiu toda a Avenida Norte até o santuário no Morro da Conceição.

O arcebispo de Olinda e  Recife, dom Fernando Saburido, alcançou a procissão praticamente na metade do percurso. A chegada dele foi uma alegria para quem aguardava o andor e aproveitou para saudá-lo e até fazer selfies com ele. O arcebispo fez um breve pronunciamento para reprovar a recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de não considerar crime o aborto até o terceiro mês de gestação.

Num protesto silencioso e que chamou a atenção, a psicopedagoga e teóloga Selma Maria Barbosa, 51 anos, arrastava uma boneca enquanto carregava com todo cuidado uma tartaruga fictícia. “A tartaruguinha tem toda uma legislação federal de proteção e, se eu a matar, posso ser presa sem direito a fiança, mas se eu  matar uma criança já desenvolvida não aconteceria nada comigo”, ironizou. “Hoje, todo mundo tem informação. Não há justificativa para abortar”, corroborou a dona de casa Ana Lúcia Lima, 52 anos.

Para muitos, no entanto, a procissão é uma forma de renovar a fé. “Eu ja participava desde que estava na barriga da minha mãe e hoje faço questão de trazer minha família”, revelou a dona de casa Maria da Silva, 52 anos. A procissão também é uma forma de agradecimento. Devoto há 10 anos, o carregador Sérgio da Silva, 37, levou flores brancas e velas para agradecer. “Hoje, eu tenho minha casa, meu carro e minha moto. Tudo que eu conquistei, devo a Nossa Senhora”, afirmou emocionado.

Em meio aos pedidos dos fiéis, um deles Nossa Senhora da Conceição já realizou. A história de dona Luciene já teve seu final feliz. Nesta semana, ela recebeu a tão aguardada ligação. “Era da Previdência Social. Vão me conceder meu direito. Hoje, estou de joelhos aqui, mas é para agradecer”, contou. A funcionária pública Rebecca Carneiro, 29, foi criada nos preceitos católicos. Subia o morro com os pais e hoje traz um novo membro da família pelas mãos. “Agora, eu trago também meu marido e assim nossa tradição vai se mantendo”, destacou.

No meio da multidão também havia os que aproveitavam para ganhar dinheiro com o comércio de inúmeros produtos, desde água e pipoca aos chamados “produtos oficiais” do santuário, como calendários com foto da estátua do Morro da Conceição. “Vendi 150 peças a R$ 2,00 cada uma”, disse Paulo Ferreira Alves, 55. No ano passado, contou, vendeu 300, acrescentando que compra cada unidade a R$ 1,00.

Iniciada no último dia 29 de novembro, a Festa do Morro recebe devotos de todas as partes do estado para as programações religiosa e cultural. Após a chegada do cortejo, uma missa campal foi celebrada pelo arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido.