O exemplo dos muros de Wynwood para o Recife Grafite foi ponto de partida de mudança em distrito de Miami cujo case foi mostrado aos recifenses

Publicação: 22/09/2017 03:00

Se a arte urbana é um instrumento de revitalização de áreas degradadas, o bairro de Wynwood, em Miami, nos Estadoas Unidos, sabe os benefícios de seu uso. A forma como a grafitagem e outros tratamentos artísticos podem servir aos espaços públicos, dialogando com os interesses privados, foi o tema do seminário “Inovação na Revitalização Urbana: Miami e Recife”, que aconteceu na manhã de ontem, na Interne Educação, no bairro da Ilha do Leite.

Um dos responsáveis pela requalificação de Wynwood, famosa pela intervenção artística em seus muros, foi o especialista norte-americano Joseph Furst, que palestrou no evento. Segundo ele, o maior desafio em recriar esse distrito é que não havia arquitetura relevante nem história. O local abrigou fábricas e espaços de armazenagem durante anos e a missão seria criar um sentido para a região. “Era um bairro perigoso, sem uso, cheio de prédios industriais sem importância. A primeira proposta foi encontrar novas oportunidades e trazer nova vida para a área”, explicou Furst. Em 2005, 25% do bairro estava desocupado e ninguém tinha interesse de frequentá-lo, segundo ele.

O curioso do bairro de Wynwood é que a iniciativa de revitalização não partiu de arquitetos e urbanistas, mas do investidor imobiliário Tony Goldman e posteriormente de outros empresários que pretendiam explorar comercialmente aquele espaço urbano desvalorizado. Ao invés de erguer torres empresariais, investiram no urbanismo e na valorização dos espaços públicos.

O marco do projeto foram estruturas que na maioria das cidades foram transformadas em instrumento urbano desagregador: os muros. Em 2009, foi convidado um grupo renomado de grafiteiros para criar uma galeria de arte ao ar livre, o que ficou conhecido como Wynwood Walls. “Esse projeto foi muito transformador, mas na época não tivemos dimensão do que ele traria para a cidade. Após os muros, os prédios foram grafitados. Hoje, o distrito é um polo gastronômico e de eventos de arte de rua”, completou o especialista.

Para Furst, além do tratamento artístico, essa transformação partiu da perspectiva de que o valor da cidade vem do solo, da experiência do pedestre e projetos pensados para a escala humana.

O prefeito do Recife, Geraldo Julio, também participou do seminário. “A revitalização tem sido usada em todos os centros urbanos do mundo para transformar a qualidade de vida. Temos áreas do Recife como a parte do antigo Porto, que virou Centro de Artesanato, Museu Luiz Gonzaga, restaurantes e toda aquela área de visitação. Tem áreas também que foram mudadas pelos próprios moradores como o programa Mais Vida nos Morros, que acontece em várias partes da cidade. E a gente tem agora os empreendedores que procuram ter essa mesma característica que o Joseph traz pra cá”, disse o prefeito.