Estado confirma caso de febre amarela Primeira comprovação não altera protocolo de vacinação, já que Pernambuco ainda é considerado área de baixo risco

Publicação: 17/02/2018 03:00

Um mês depois de realizar a primeira notificação, Pernambuco confirmou o primeiro caso de febre amarela desde 1930. Exames laboratoriais comprovaram a doença em um homem de 45 anos, morador de Bezerros. O paciente contraiu a doença durante passagem por São Paulo no fim do ano passado, e recebeu alta médica no dia 25 de janeiro. A Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) reforçou que a confirmação não caracteriza a entrada do vírus no estado, que permanece sem circulação viral por meio de mosquitos ou primatas não-humanos infectados e sem registro de casos autóctones. No país já foram confirmados 464 casos, causando 154 mortes.

O paciente pernambucano esteve em Mairiporã, cidade considerada o epicentro da febre, com metade dos casos notificados em São Paulo e maior registro de mortes. Ele esteve em um sítio, na zona rural, para passar as festas de fim de ano com a família. Ainda nesse período começou a apresentar sintomas. “Ele teve um período febril e retornou a Pernambuco com dores de cabeça e musculares. Chegou numa quarta-feira, na primeira semana de janeiro, e, no fim de semana procurou a unidade de saúde”, explicou a gerente do Programa de Vigilância às Arboviroses, Claudenice Pontes.

Segundo ela, o caso começou a ser investigado 20 dias após o início dos sintomas, quando o paciente já estava fora do período de viremia (sem vírus no organismo) e transmissão. “O período de viremia dura de três a cinco dias. Ele veio dirigindo de São Paulo, então provavelmente já havia passado esse período ao chegar a Bezerros”, disse a gerente. O paciente não teve hemorragia ou alterações renais, características da doença, e pode ter adquirido um quadro leve da febre amarela. Ele chegou a ser encaminhado ao Hospital Universitário Oswaldo Cruz, onde foi avaliado e seguiu em monitoramento até o fim de semana passado.

A filha dele, de cinco anos, chegou a apresentar os mesmos sintomas, mas os resultados dos exames deram negativo. “No caso dela, parecia mais um quadro de gripe. É importante ressaltar que eles estiveram em área de risco e a contaminação coincide aos outros casos que estão acontecendo de febre amarela silvestre. Eles não oferecem risco para ninguém”, ressaltou Claudenice.

A confirmação não altera o protocolo de vacinação, já que o estado permanece considerado pelo Ministério da Saúde e a Organização Mundial de Saúde como de baixo risco de transmissão. Logo, a imunização continua indicada apenas para aqueles que viajarão para as áreas com recomendação de vacina.

Até o momento, Pernambuco conta com quatro casos notificados de febre amarela, sendo três descartados e um confirmado. Todas as ocorrências foram “importadas” por indivíduos que estiveram em áreas de risco. O estado fez capacitação com profissionais de saúde e da rede hoteleira de Bezerros e das demais cidades da 4ª Gerência Regional de Saúde e vem realizando, desde fevereiro, o monitoramento de adoecimento ou morte de primatas.

A partir da próxima semana, o Laboratório Central de Pernambuco vai começar a realizar os exames sorológicos para a febre amarela. As amostras de casos suspeitos não precisarão ser encaminhadas para os laboratórios nacionais, sendo analisadas no próprio estado, diminuindo o tempo de espera pelos resultados para cerca de 15 dias.

Entenda a doença

A febre amarela é uma enfermidade infecciosa causada por um vírus carregado por mosquitos vetores. Tem dois ciclos: o silvestre, quando há transmissão em área rural ou de floresta, e o urbano, com proliferação na cidade

Como ocorre a transmissão
Pela picada dos mosquitos vetores e não de pessoas para pessoas

No ciclo silvestre
  • Os macacos são os principais hospedeiros e amplificadores do vírus
  • Os vetores são mosquitos com hábitos estritamente silvestres, dos gêneros Haemagogus e Sabethes
  • Nesse ciclo, o homem participa como um hospedeiro acidental ao adentrar áreas de mata
No ciclo urbano
  • O homem é o único hospedeiro com importância epidemiológica e a transmissão ocorre a partir de vetores urbanos (Aedes aegypti) infectados
Sintomas
  • Surgem 3 a 6 dias após a infecção
  • Início súbito de febre, calafrios, dor de cabeça intensa, dores nas costas, dores no corpo em geral, náuseas e vômitos, fadiga e fraqueza
  • Em cerca de 15% dos casos, o paciente desenvolve a forma grave
  • Em casos graves, a pessoa pode desenvolver febre alta, icterícia (coloração amarelada da pele e do branco dos olhos), hemorragia (especialmente a partir do trato gastrointestinal) e, eventualmente, choque e insuficiência de múltiplos órgãos vitais
  • 20% a 50% das pessoas que desenvolvem doença grave podem morrer
Fonte: Ministério da Saúde