As bancas depredadas nas salas de aula eram apenas um dos problemas nas escolas da rede municipal de Igarassu. Com um histórico elevado de assaltos a unidades de ensino e um alto índice de agressividade entre estudantes, o município decidiu intervir no cotidiano escolar. Buscou um aliado fora dos muros da escola. Pais, avós e responsáveis foram convocados para, juntos, encararem os desafios. A experiência, que teve início em 2017 e completou um ano neste mês, tem mudado a realidade da rede municipal.

O projeto Pais Educadores, que acontece em fase piloto na Escola Municipal José Jorge de Farias Sales, é inédito no estado. Ao longo de um semestre, um curso sobre o papel da família no desenvolvimento das crianças e adolescentes é oferecido aos pais. “Em 2016, observamos um aumento significativo de assaltos e depredação. Demos início à instalação de alarmes e câmeras, mas estávamos resolvendo o problema da violência que vem de fora para dentro. Precisávamos resolver as questões internas também”, pontuou a secretária de Educação de Igarassu, Andreika Asseker.

Os encontros são quinzenais e duram duas horas. Antes de serem realizadas na José Jorge, palestras foram promovidas nas escolas do município. No próximo semestre, duas unidades receberão o curso. O objetivo é aumentar o número de escolas atendidas. “Nossos objetivos, que são o impacto na motivação dos alunos, a diminuição de comportamentos violentos e de conflitos e o aumento no rendimento escolar estão sendo alcançados”, destacou Andreika. “O curso é um convite para que os pais mergulhem em seu interior e tragam o que têm de melhor para ajudar os filhos”, disse a diretora da Escola Municipal José Jorge de Farias Sales, Jacianne Alves.

No curso, são trabalhadas questões como as etapas do desenvolvimento infantil e a construção de estratégias para potencializá-las, atividades de alfabetização e matemática que contribuem para uma maior participação dos pais no estudo dos filhos, direitos das crianças e o papel da família, atitudes contra a violência e formação cidadã nas comunidades. Pais de alunos da rede percebem as mudanças geradas pelas discussões geradas nas aulas da “escola de pais” em casa e no rendimento dos filhos.

“Sempre acompanhei a vida escolar dos meus filhos, pois sei que a responsabilidade não é só da escola, mas o curso melhorou muito a minha relação, pois entendo melhor por que e como posso ajudá-los”, afirmou a dona de casa Luciene Souza, 50 anos, mãe de João Vitor, 14; Elaine, 14, e José Henrique, 13. “Crio o meu filho com a ajuda dos meus pais. Como trabalho muito para sustentá-lo, me sentia sem tempo nem energia para acompanhar as tarefas dele. Depois do curso, nossa rotina mudou. Agora, conversamos mais e estou mais próxima na hora de fazer as lições em casa”, completou a cadastradora do Bolsa Família Jackeline Narcizo, 32, mãe de Deyvd, 12 anos.

“As dinâmicas promovidas no curso são transformadoras e emocionantes. Em uma, tivemos que abraçar outro pai ou mãe e vê-lo como nossos filhos, falando o que queríamos dizer a eles. Ao fim da atividade, todos estavam chorando. Muitos perceberam que sequer abraçavam os filhos”, lembrou o auxiliar de operações Eraldo Fernandes, 31, pai de Emilly, 6.

Responsabilidade
Uma pesquisa da Fundação Lemann, de 2015, mostrou que muitos pais colocam nos professores a responsabilidade direta pela qualidade da educação de seus filhos e pelo desempenho escolar deles e não querem interferir. No entanto, o papel de quem acompanha os estudantes em casa é indispensável.

Cinco atitudes para se envolver mais na educação dos seus filhos:

1. Valorizar os professores, a aprendizagem e o conhecimento
2. Promover as habilidades importantes para a vida e para a escola
3. Colocar a educação escolar no dia a dia
4. Apoiar o projeto de vida e o protagonismo dos alunos
5. Ampliar o repertório cultural e esportivo das crianças e dos jovens

Família e escola:
O movimento Todos Pela Educação mapeou tipos de envolvimento dos pais ou responsáveis na vida escolar dos filhos.

1. Ativistas
   Adotam a educação como causa. São mais envolvidos com a vida dos filhos em vários aspectos e não só na questão escolar. Muitos pararam de trabalhar para acompanhar de perto a vida dos filhos. Convidam colegas do filho para estudar em casa, vão à escola e participam de projetos voluntários.
2. Envolvidos
   Bastante ligados à vida escolar dos filhos e veem os professores como cúmplices. Cumprem todos os papéis, como acompanhar os bilhetes, frequentar as reuniões, conferir as lições de casa, conversar com professores.
3. Vinculados
   Mantêm ligação com a escola, mas o elo é fraco. Só aparecem quando são chamados individualmente e não conversam sobre o dia a dia da escola com os filhos. Não sentam junto para estudar e só perguntam eventualmente sobre as lições de casa.
4. Distantes
   Geralmente, trabalham muito e não fazem questão de acompanhar de perto a vida escolar do filho. Passam pouco tempo em casa e não conversam com as crianças e/ou adolescentes.

Fonte: Todos pela Educação