Unidade de Queimados lotada no HR Quatro pacientes esperam na enfermaria por vagas no setor especializado, cuja demanda aumentou devido a acidentes com álcool e fogos de artifício

Publicação: 19/06/2018 03:00

Com o início dos festejos juninos, aumentam as ocorrências no Centro de Tratamento de Queimados do Hospital da Restauração (HR). Os atendimentos se concentram na unidade que é a única do Nordeste a atender a especialidade. Do total de 40 leitos do setor, 35 estão ocupados. A ala masculina está superlotada e quatro pacientes aguardam na enfermaria. Dos 15 leitos da área infantil, 12 já estão ocupados e só restam seis vagas na parte reservada às mulheres.

O menino Jaemerson Feitosa, 7 anos, sofreu uma queimadura no rosto ao manipular resíduos de pólvora, no dia 13, durante as comemorações de São Pedro. “Ele estava em casa com os cinco irmãos, quando pegou restos de fogos na rua, juntou no terraço e acendeu um fósforo. Como é muito curioso, estava acocorado com o rosto perto e a chama foi toda nele”, conta a mãe do garoto, a agricultora Luciana Feitosa, 32.

Os primeiros socorros foram recebidos na UPA de Surubim, município do Agreste, onde a família mora. Logo depois, ele foi encaminhado ao HR. Por pouco, a queimadura não atingiu o olho esquerdo da criança. “Não houve nenhuma lesão na visão. Ele passou por avaliação oftalmológica na Fundação Altino Ventura e a córnea foi toda preservada. O que ficam são as cicatrizes para o resto da vida, que precisarão de correção mais tarde”, comentou o chefe do Centro de Tratamento de Queimados do HR, o médico Marcos Barreto.

O especialista alerta para o uso de fogos de artifício e acendimento de fogueiras. “Recomendo o máximo de cuidado porque alguns desses materiais têm alto poder explosivo e podem provocar lesões graves na face e nas mãos. Então, devem-se ter instruções antes de manipulá-los. Após as festividades, é preciso apagar as fogueiras para evitar acidentes com as brasas” recomendou. Depois do susto, Luciana toma como lição o acidente com o filho. “Eu não compro bombas de São João para as minhas crianças já por causa do risco. Agora vai ser muita responsabilidade porque esse caso foi sério” disse.

Além das ocorrências com fogos, continuam surgindo casos de queimaduras com álcool, gasolina e óleo, atribuídas ao desabastecimento de gás nas distribuidoras. Muitas famílias acabam improvisando, cozinhando com fogão a lenha ou fazendo fogo em latinhas de alumínio. Um incêndio que destruiu seis barracos da Comunidade Carolina de Jesus, no Barro, Zona Oeste do Recife, no domingo, pode ter sido provocado por um dos moradores que cozinharam com lenha.

Das sete mulheres internadas atualmente na unidade, cinco foram vítimas de ocorrências relacionadas ao álcool, uma ao óleo quente e outra à gasolina. “Esse é um problema sério, que persiste na Restauração, porque as pessoas continuam com dificuldades de comprar o gás. O abastecimento não foi regularizado. Eu não sei o que está acontecendo. As pessoas têm dificuldade para comprar gás e continuam chegando queimados por incêndio nas casas”, comentou Barreto.

Com o aumento de casos deste tipo, a quantidade de produtos utilizados nos pacientes queimados fica limitada. No último domingo, o estoque de shampoo e hidratantes, produtos essenciais para o tratamento, foi reposto por doações feitas pela ONG Moto Clube Bodes do Asfalto. Foram entregues oito caixas, totalizando mais de R$ 2 mil em produtos. De acordo com a chefe do ambulatório do setor de Queimados do Hospital da Restauração, a cirurgiã-plástica Socorro Souza, o material será suficiente para um ano de uso.

“Esses produtos serão utilizados no ambulatório em pacientes que estão fase de regeneração, sejam os internados ou aqueles que já foram atendidos e continuam sendo acompanhados na Unidade. A doação foi muito bem-vinda porque supriu a necessidade do material que utilizamos nos banhos, na lavagem do rosto, principalmente de crianças e famílias carentes”, contou.