Conversa com delegada decidiu prisão Preso em 11 de abril por suspeita de crimes sexuais, Rodrigo Carvalheira foi solto na última quarta-feira e vai ser monitorado por tornozeleira eletrônica

Publicação: 19/04/2024 03:00

Denunciado pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE) em um dos três inquéritos policiais que investigaram crimes sexuais, o empresário Rodrigo Carvalheira foi preso no dia 11 de abril a partir de um fato bem determinante: a interceptação de uma ligação telefônica. Para a Justiça pernambucana, a comunicação entre Carvalheira e uma amiga dele, a delegada Natasha Dolci, mostrou que “o empresário estava tentando atrapalhar as investigações”.

No documento assinado pelo juiz José Claudionor da Silva Filho, que determinou a prisão de Carvalheira, existe uma ligação direta entre o mandado de captura e a interceptação telefônica.

“Compulsando os autos, verifico que este Juízo deferiu as medidas cautelares de quebra de sigilo de dados e interceptação de comunicações telefônicas do investigado Rodrigo Dib Carvalheira, bem como expedição de mandado de busca e apreensão, diante da existência de indícios robustos da prática dos delitos de estupro de vulnerável pelo investigado contra diversas vítimas, presentes os requisitos legais para tanto. Com o resultado das referidas medidas, restou comprovado que o investigado Rodrigo Dib Carvalheira está tentando atrapalhar as investigações, conforme diálogo entre o investigado e a Delegada Natasha Dolci”, escreveu o magistrado.

No dia da libertação de Rodrigo Carvalheira, a delegada Natasha Dolci concedeu uma entrevista exclusiva ao Diario de Pernambuco e falou sobre a importância da interceptação telefônica para a prisão do amigo.

Ela afirmou que era apenas uma conversa informal de amigos e que estava tentando ajudar o empresário. Afirmou também que pediu uma ajuda para conseguir uma transferência de delegacia, “já que Rodrigo tem conhecimento dentro do governo”.

O trecho do diálogo que trata dessa ajuda é o seguinte:

Natascha: me avisa a hora que cê tiver livre. deixa eu te falar uma coisa… tô precisando de um favor.
Rodrigo: hum…
Natasha: de um grande favor…
Rodrigo: hum…
Natasha: é… tão querendo mexer comigo aqui.
Natasha: tão querendo me tirar e já vieram com historinha: Natasha, aceita o ibura? Natasha, aceita isso…? E eu tô correndo da galera sabe…
Rodrigo: hum…
Natasha: e vagou Noronha.
Rodrigo: quer ir pra Noronha (inaudível)?
Natasha: quero, quero. Vagou lá, não vou mexer com ninguém. É só colocar meu nome lá.
Rodrigo: tá, vô… vô ligar pra Epaminondas agora.


Ainda no documento, o magistrado sintetiza o que o levou a determinar a prisão de Carvalheira.

“Conforme diálogo acima, verifico que o investigado tentou, através dos seus contatos políticos, retirar o inquérito policial que originou o presente processo da Delegacia da Mulher. Restou comprovado, ainda, que a Delegada Natasha Dolci orientou o investigado a agilizar a sua tentativa de interferência política para retirada do inquérito policial da Delegacia da Mulher, a fim de encerrar a presente investigação, solicitando, inclusive sua ajuda para ser removida para a Delegacia de Fernando de Noronha, colocando-se à disposição para ajuda-lo no presente caso, caracterizando-se uma troca de favores”.