Fellipe Torres
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Publicação: 22/05/2014 03:00
Trinta e dois jogadores escalados. No lugar do gramado, o ruge-ruge dos mercados públicos da Boa Vista e Madalena. Ao invés da bola no pé, os versos na ponta da língua. Quando o árbitro autorizar o começo da partida, não adianta fazer tabelinha ou investir na troca de passes. É cada um por si, no esquema mata-mata. De amanhã a domingo, trovadores, cordelistas, poetas e glosadores entram em campo para disputar a Peleja Poética, batalha de declamações do 3º Festival Internacional de Poesia do Recife (FIP). A grande final será na Torre Malakoff, onde os dois artilheiros recebem prêmios de R$ 2 mil e R$ 1 mil.
“O embate valoriza a tradição da cultura oral, mas sem deixar de lado outras formas poéticas. O próprio festival mistura o popular e o contemporâneo, o local e o que vem de fora”, pontua o curador do FIP, Wellington de Melo. O Viver convidou quatro participantes para o “poetry slam”. Com mais de 50 participantes e orçamento de R$ 200 mil, o FIP de 2014 se debruça sobre as aproximações da poesia com o sagrado. As noites do festival são abertas com rodas de leitura, das quais participam nomes como Alice Ruiz (PR) e Leandro Durazzo (SP).
Serviço
Peleja Poética do 3º Festival
Internacional de Poesia do Recife
Onde: Mercado da Boa Vista (Rua da Santa Cruz, S/N) - amanhã, 12h às 15h; Mercado da Madalena (Rua Real da Torre, 270) - sábado, 12h às 15h; e Torre Malakoff (Praça do Arsenal da Marinha, Bairro do Recife) - domingo, 14h. Programação
completa em: diariode.pe/viver
Quanto: entrada gratuita
Altair Leal Ferreira
Natural de Limoeiro, no Agreste, é apaixonado pela tradição oral. Autor de 92 folhetos de cordel, entre eles A história do homem que adorava comer bacon com feijões e Manias de pobre e sintomas de pobreza. Venceu o concurso de recital poético do Festival Recifense de Literatura de 2009. Faz uma poesia voltada ao popular. “Gosto de valorizar a imagem do sertanejo. Meus cordéis tratam de questões ambientais, políticas, românticas... varia muito”.
No dia a dia a tradição
E a vida do Sertão
O cachorro quando uiva
Está dando seu sinal
O preá na macambira
Se esconde afinal
Fugindo do predador
Que lhe caça onde for
Neste ciclo natural
Clécio Rimas
Poeta popular, declamador, glosador e cordelista. Vive em busca de ligações entre literatura e música, tradicional e contemporâneo. Tenta criar tal como um artista do mundo, mas sem deixar de lado as raízes sertanejas. Atua como rapper e produtor musical. “Vou declamar um cordel de minha autoria que fala da história dos apóstolos que se reuniram para resolver os problemas de hoje, a começar pelas drogas”.
Os apóstolos e as drogas
Quase todo mundo sabe
Pelo novo testamento
Que um grupo peregrinava
Pregando a sol,
chuva e vento
Por entre aldeias, cidades
Curando as enfermidades
Raisa Feitosa
Já era ligada ao teatro quando declamou em público pela primeira vez, em 2009. Passou a frequentar recitais para declamar os próprios versos e, em ocasiões especiais, de autores como César Leal e João Cabral de Melo Neto. Tem poesias publicadas em revistas e fanzines. “Minha linha poética está mais para o onírico. Tem muita ligação como sonho. Também tenho algumas engajadas, que fazem críticas sociais. Ainda não decidi qual vou declamar no FIP”.
Vênus veio visitar-me.
Chegaram palavras
até mim
Capazes de portais.
E fechava os olhos e fechava os pensamentos
A mente absorta no vento
Aqueles uivos arrepiando
o colo leitoso das
nuvens excitadas
E a prece para o céu
era uma só: versos,
dê-me versos;
Abra-se abra-se abra-se!
Kerlle Magalhães
Arcoverdense radicado no Recife há 14 anos, escreve e declama poesia popular desde a juventude. Também é violeiro, e faz questão de usar a tradicional viola de sete cordas, típica dos repentistas. Venceu a 7ª Recitata do Recife, em 2012, e já participou de coletâneas de CDs, DVDs e livros. É autor de Panorama da parte e Uma dose de lirismo. “Minhas poesias tem sempre um lirismo, um viés romântico e social. Também tem algo de surrealismo. É uma escrita contemplativa”.
Estudei bruxaria magnética,
Alquimia e genética eletrônica,
Psicose analítica diatônica,
Hermenêutica absurda
na zetética,
Satirismo e
esclerose dialética
E o namoro
no tântrico profano.
Questionei sobre o grande soberano
Com amostras dos sobrenaturais
E a existência de traços imortais