Sem a força de Gonzaga Espaços disputados na época das festas juninos, casas de forró tradicionais amargam a falta de público nos demais meses do ano

Marina Simões
marinasimoes.pe@dabr.com.br

Publicação: 16/06/2014 03:00

Casa de Zé Nabo luta para ter endereço fixo. Situação do Forró do Arlindo piorou com a morte do fundador (BLENDA SOUTO MAIOR/DP/D.A PRESS)
Casa de Zé Nabo luta para ter endereço fixo. Situação do Forró do Arlindo piorou com a morte do fundador

Pernambuco é o estado onde nasceram o forró e seu principal representante, Luiz Gonzaga. O ritmo festejado nos quatro cantos do Nordeste às vezes se restringe ao mês de junho. Existe uma grande diculdade das casas de forró do Recife de se manterem em funcionamento durante o ano inteiro.

Os locais dedicados ao autêntico forró nordestino - que não dispensa a sanfona, o triângulo e a zabumba - têm seu papel como grande celeiro para revelar cantores e compositores do Sertão ao Litoral. Esses estabelecimentos vivem momento delicado, se esforçando para manter vivo o legado gonzagueano.

“Não vou mentir dizendo que está muito bom. Um outro estilo que dizem que é forró está tomando conta. Os artistas tradicionais perdem espaço e estão insatisfeitos. É necessário haver uma preocupação e medidas para manter a cultura acesa”, observa a cantora Cristina Amaral. “Para mim, forró é aquilo que Gonzaga apresentou para o mundo, com a marcação da zabumba e do triângulo. Todo o resto não é forró”, explica o vocalista da Remanso do Forró, Sérgio Feitosa.

A popularidade dessas casas concorre com ritmos que tomaram conta das noites locais - o sertanejo, o pagode e o brega. Os produtores culturais e proprietários reclamam da falta de incentivo público, para que a tradição não se perca. “A classe é desunida, é cada um por si. Existem muitas brigas internas e falta mobilização”, pontua Valdísio Ramos, proprietário do bar e restaurante Azulzinho, na Cidade Universitária. “Artistas, produtores e empresários deviam discutir sobre o cenário atual e buscar alternativas para mudá-lo”, sugere Sérgio Feitosa.

Raio-x

O funcionamento e a via-crúcis das casas de forró pé-de-serra

Forró do Azulzinho
(18 anos)
Bar e restaurante tem pé-de-serra com Zé Bicudo e convidados. Tem capacidade para 150 pessoas e está aberta às sextas-feiras, às 21h. Entrada: R$ 10. Endereço: Av.General Polidoro n°708, Cidade Universitária. Informações: 3453-8283.

O diagnóstico
Os obstáculos ao funcionamento do local vão da concorrência com casas maiores onde se apresentam bandas de forró estilizado e ritmos como sertanejo até a implantação da Lei Seca - responsável pela redução de 50% do público, diz o proprietário Valdísio Ramos. “Se fosse viver do forró, já tinha fechado. É difícil manter a tradição, mas iremos continuar até quando der”, pontua.

Sala de Reboco
(15 anos)
É referência turística do Recife . Abre o ano inteiro, às quintas, sextas, sábados e vésperas de feriado, às 22h. Capacidade 1,3 mil pessoas. Entrada: entre R$ 20 e R$ 30. Endereço: Rua Gregório Júnior, 264, Cordeiro. Informações: 3228-7052.

O diagnóstico
As dificuldades mais relevantes são de estrutura e transporte para o acesso ao local, sobretudo em função do perfil do público, formado por pessoas das classes menos abastadas, diz o proprietário Rinaldo Ferraz. É uma das poucas em atividade contínua e sem a interferência de outros ritmos. Diante de eventos maiores em outas localidades, tem público reduzido, mas fiel. “É uma satisfação ser a casa mais autêntica de preservação da nossa cultura. Aqui, os forrozeiros têm palco para tocar o ano inteiro. Muitos que viviam de forma amadora, hoje são profissionais”, observa.

 (CECILIA DE SA PEREIRA/DP/D.A PRESS)

Forró de Arlindo

(13 anos)
Nos fundos da casa de Arlindo dos 8 Baixos (1942-2013), é gerenciada pela família. Abre aos domingos, às 17h, com o Trio Confraria do Forró, Quinteto Sala de Reboco e convidados. Na Avenida Hildebrando de Vasconcelos, 2900, Dois Unidos. Informações: 3443-9147. Preço: R$ 10. Capacidade para 500 pessoas

O diagnóstico
Situação financeira piorou após a morte de Arlindo. Familiares reclamam da falta de incentivo público para preservar o legado do músico. Eles assumem o bar, a cozinha e a administração. “Queremos ser um point do forró tradicional e não uma casa de shows. Vamos nos manter desse jeito, para deixar a sanfona dos oito baixos sempre viva”, diz o produtor cultural Roberto Andrade.

Nosso Quintal
(10 anos)
Promove atividades culturais há 19 anos (exposições, cantoria, oficinas de sanfona, violeiros e repentistas). Há dez, tem roda de sanfona e poesia, às sextas-feiras, às 19h. Entrada: R$ 10. Onde: Rua Leila Félix Caram, 15, Torrões. (Ao lado da sede da Chesf). Informações: 3228-6846. Capacidade: 100 pessoas.

O diagnóstico
Casa tem o objetivo de revelar talentos. Mas sofre com “falta de divulgação”. “Criei o espaço para agregar valores à nossa cultura, mostrar a tradição literária e musical do nordestino”, diz o produtor cultural Marcos Veloso.

Casa de Zé Nabo
(8 anos)
Funciona na sede do Clube dos Oficiais da Policia Militar (Avenida João de Barros, 357, na Boa Vista), com eventos em dois domingos por mês. Ingresso R$ 20. Informações: 3423-5792.

O diagnóstico
Para o proprietário Eduardo Leocádio, faltam “apoio” do governo e público. A casa luta para ter endereço fixo, depois de trocar de espaço físico por três vezes. “Às vezes, perco dinheiro. A esperança é que o povo dê valor ao que é nosso. Acredito na boa música”, diz.

Casa de Mainha
(5 anos)
Funcionava de sexta a domingo. Agora, abre só uma vez por mês, às sextas-feiras, às 21h. Tem capacidade para 800 pessoas. Entrada: R$ 20. Onde: Rua José Austregésilo, 136, Arruda. Informações: 9226-3295.

O diagnóstico
O caixa começou a ficar no vermelho neste ano por conta da concorrência, no Arruda, com as casas de pagode e brega. “Trabalhalhamos forte para preservar nossa cultura. É difícil viver de forró no Recife. Os eventos deixaram de ser a principal atividade. A fonte de renda é alugar a casa para eventos”, explica o proprietário Bruno Oliveira.