Joaquim Nabuco, o político
Abolicionista foi o introdutor em Pernambuco dos comícios ao ar livre, diz historiador em livro lançado pela Editora Massangana
Publicação: 24/07/2014 03:00
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Nabuco ganhou duas eleições, sendo a primeira delas anulada |
Gouvêa é um especialista em biografias. Seu primeiro livro, Oliveira Lima: uma biografia, ganhou em 1977 o Prêmio José Veríssimo, da Academia Brasileira de Letras. Em 1985 obteve nova premiação: desta vez da Academia Pernambucana de Letras, com O Partido Liberal no Império: O Barão de Vila Bela e sua Época. Sobre Nabuco, o que está lançando agora é o terceiro livro. Antes, publicou Joaquim Nabuco entre a Monarquia e a República (1989) e Abolição: a liberdade veio do Norte (1988).
“Nabuco é fonte inesgotável de estudos e de inspiração”, diz o autor, que enfoca agora em sua nova obra a campanha do abolicionista para deputado pela província de Pernambuco. “Foi sua campanha mais dura, mais áspera e mais bonita”, afirma ele, informando que pela primeira vez foram realizados comícios ao ar livre em Pernambuco - e Nabuco foi o introdutor da prática. Também foram organizadas “marchas a pé” - o equivalente hoje às passeatas.
Foi nesta campanha, diz Fernando n’O comportamento político de Nabuco, que o abolicionista levantou pela primeira vez, publicamente, “a bandeira de uma lei agrária”, numa época em que a propriedade da terra não era nem de longe questionada.“Eu, pois, se for eleito, não separarei mais as duas questões - a da emancipação dos escravos e a democratização do solo”, prometeu Nabuco, em um dos seus discursos. “Uma é o complemento da outra. Acabar com a escravidão não nos basta, é preciso destruir a obra da escravidão”.
Os atos de Nabuco, nesta campanha, foram realizados no Teatro de Santa Isabel e ao ar livre. Seus discursos seriam depois publicados em livro: Campanha abolicionista no Recife. Embora tenha sido a vida toda um liberal, houve um período em sua vida, de 1877 a 1888, em que ele foi um líder abolicionista defensor de teses radicais para a época. Por isso foi chamado de “anarquista”, “comunista” e “petroleiro” (expressão que hoje equivale a incendiário).
Na campanha, o seu radicalismo ganhou mais notoriedade, porque era defendido nas ruas, com o povo, e replicado na imprensa. Em um ato feito no bairro da Madalena, então habitado pelas pessoas de maior renda na cidade, ele foi enfático: “Falo, hoje, no bairro da riqueza do Recife, como domingo passado falei no bairro da miséria. Seja-me permitido dizer que essa riqueza não parece digna de entusiasmo ou admiração a quem contemplou a riqueza dos povos livres, a quem descobre o contraste das duras e sabe que este simulacro de opulência com que nos querem deslumbrar, não exprime senão a miséria e o aviltamente da nação brasileira”.
Nabuco venceu a eleição, mas não levou. A eleição foi anulada depois de um conflito na contagem de votos, que resultou em um morto e feridos. Ele disputou novo pleito em janeiro do ano seguinte e se elegeu. O livro de Fernando Gouvêa explica toda esta história e, pela profundidade da pesquisa e escolha do tema, é leitura que enriquece a bibliografia de Joaquim Nabuco (1849-1910).
Serviço
O comportamento político
de Joaquim Nabuco
De Fernando da Cruz Gouvêa
Editora Massangana
(Telefone: 3073-6321)
R$ 35
200 páginas