Nelson Motta está envolvido, agora, em musical sobre Festival da Canção de 1967

Do alto do apartamento na orla de Ipanema, no Rio de Janeiro, Nelson Motta observa com olhos bem abertos a cena cultural da cidade e do país há 50 anos. Em cinco décadas, entretanto, o jornalista, produtor e compositor carioca não se limitou ao papel de mero espectador: arregaçou as mangas, desceu do castelo e ajudou a dar fisionomia a parte do que entendemos hoje por música popular brasileira. Do adolescente bossanovista discípulo de Vinicius de Moraes ao grande entusiasta da MPB, Nelsinho, como é chamado pelos amigos, celebra 70 anos de vida com fôlego de garoto, envolvido em diversos projetos e com alguns sonhos ainda a realizar. Por coincidência, chega aos cinemas, amanhã, a biografia de Tim Maia baseada no livro do produtor Vale tudo – O som e a fúria de Tim Maia (leia abaixo). Os dois mantiveram contato por mais de 30 anos.

“Eu considero um grande privilégio a pessoa chegar bem a essa idade, produzindo. Merece comemoração mesmo, né?”, diz ele. “Quero dividir com o público os privilégios que a vida me deu, de estar presente em tantos eventos importantes, conhecer tantas pessoas, estar na música, na televisão, no teatro e no jornalismo. Minha forma de contribuir é compartilhar”. Nelson se refere à série de lançamentos que aparecem no fim de mês com a assinatura dele. Uma delas é o livro As sete vidas de Nelson Motta, em que reaviva memórias jornalísticas. “Escrevo em jornal desde 1966. Comecei aos 22 anos com uma coluna sobre jovens no Última hora, do Samuel Wainer, meu mestre do jornalismo”, comenta.

As composições de Nelsinho, parcerias com nomes como Lulu Santos, Dori Caymmi, Djavan e Guilherme Arantes, renderam série de TV em oito episódios com estreia marcada para hoje, no Canal Brasil. O projetou resultou também em um CD, em que artistas de várias gerações interpretam algumas das canções mais marcantes do letrista. Após o estrondoso sucesso dos musicais sobre as vidas de Tim Maia e Elis Regina, roteirizados por ele, Nelson acaba de escrever uma peça sobre Wilson Simonal. A estreia está prevista para janeiro, no Rio, com direção de Pedro Brício. Ele sonha em escrever um espetáculo sobre Raul Seixas, mas este não deve ser o próximo. O artista já começa a trabalhar em um musical sobre o Festival da Canção de 1967.

Entrevista Nelson Motta

Por ter participado de tantos movimentos e ajudado a formar alguns, você se tornou referência sobre a MPB. Sente-se confortável no papel?
Às vezes incomoda um pouco, por que dá uma dimensão e uma responsabilidade que não me interessam. Na verdade, eu devo essa amplidão de conhecimentos de vários gêneros brasileiros porque sempre tive uma cabeça muito aberta a novidades. Se não, eu estaria na bossa nova até hoje — como tem muita gente da minha geração que está lá até hoje. É muito difícil encontrar uma pessoa que esteve envolvida com o rock dos anos 1980 e com a bossa dos anos 1960, a MPBzona dos anos 1970. É difícil… Eu estive em todas: fui mudando, assimilando esses novos gêneros musicais. Acho que não é necessário você destruir o que veio antes por causa da novidade. Parece coisa de partido político. Na cultura, isso não funciona.

Você tem tido experiências bem-sucedidas como roteirista de musicais. Acha que sua trajetória daria uma boa história nos palcos?
Será? Como dramaturgo, acho que não daria, não. Na minha vida, faltam conflitos, dramas, confrontos. E como fazer teatro sem isso? Alguns episódios dariam um musical, como a criação da (boate carioca) Dancin’ Days, As Frenéticas, a era disco no Brasil. Eu vou escrever isso um dia, proximamente.

Projetos

Nelson 70
Vários artistas. Lançamento Som Livre, 14 faixas. Preço: R$ 24,90.

As sete vidas de Nelson Motta
De Nelson Motta. Editora Foz, 224 páginas. Preço não informado.

Nelson 70
Série em oito episódios dirigida por Guto Barra, Tatiana Issa e Adriana Penna. Estreia hoje, às 20h30, no Canal Brasil. Capítulos inéditos todas as quartas-feiras, reprises domingo, às 13h, e segunda, às 16h30. Classificação indicativa livre.