Um ator do riso em ação
Aos 90 anos, Jerry Lewis segue lembrado como modelo de inovação na comédia. Participou de produções como The trust e comédia brasileira
Ricardo Dahen
edviver.pe@dabr.com.br
Publicação: 17/03/2016 03:00
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Jerry Lewis é um dos nomes mais reconhecidos no campo do humor |
“Ele é uma figura única no cinema americano”, assinalou o crítico Francis Vogner dos Reis, um dos curadores da mostra Jerry Lewis - O rei da comédia. Analisado, Lewis se presta a uma figura infantilizada e ingênua, que verte abstração em filmes clássicos como O professor aloprado (1963), inspirado na literatura de O médico e o monstro, além de ter tomado parte em outros 70 filmes. Até hoje, Lewis segue ativo, como comprova o ainda inédito The trust, um thriller criminal britânico estrelado por Nicolas Cage e Elijah Wood. No filme anterior, Até que a sorte nos separe 2, ele contracenou com Leandro Hassum.
Dado a extremos na carreira, Lewis integrou Um sonho americano (1992), premiado com o Urso de Prata no Festival de Berlim, e favoreceu um show de interpretação (sob direção de Martin Scorsese) em O rei da comédia (1983). Mas, em 1985, por exemplo, foi candidato ao Framboesa de Ouro de pior ator, por Trapalhões do futuro.
Nascido Joseph Levitch, Lewis, de família artística judia e com pé na estrada, despontou no vaudeville, aos 5 anos, com direito a número musical solo, apresentado num resort. Até ser reverenciado como renovador completo da comédia dos anos de 1960, ele teve uma escalada cinematográfica, com 17 filmes estrelados ao lado de Dean Martin, até o rompimento da dupla, em 1956.
Para se medir a popularidade da dupla, nos fins dos anos de 1940, desde a passagem por nightclub de Atlantic City, basta lembrar que o jovem Elvis Presley queria ser (assumidamente) Dean Martin. O amigo da onça, em 1949, marcou a fértil parceria em cinema de Martin e Lewis. Um dos momentos de auge veio nos anos de 1960, quando com O mensageiro trapalhão (1960), Lewis assumiu a direção de um filme.
É, em especial, por este período - feito de longas como O terror das mulheres (1961) e Uma família fuleira (1965) -, que Lewis obteve o reconhecimento dos críticos franceses que chegam a comparações com Charles Chaplin e Buster Keaton. Depois de fortes presenças em filmes assinados por Frank Tashlin (Bancando a ama-seca) e Norman Taurog (O rei do laço), nos anos de 1970, o artista amargou certo ostracismo. Em 1973, desfez acordo com uma cadeia de mais de 200 cinemas que estampava o nome dele na marca, padeceu com um úlcera quase fatal, que o levou à dependência de remédios, e sofreu um acidente com equipamentos de filmagem. Os problemas de saúde culminaram com três operações de ponte de safena.
Patriarca de família com sete filhos, Lewis quase cometeu suicídio nos anos de 1980, depois de fracassos como o retorno à direção com Um trapalhão mandando brasa (1981). Numa virada de página, nos anos 1990, foi produtor-executivo de O professor aloprado, numa refilmagem. Já na Broadway, tomou parte de Damn Yankees! (1995), na pele do diabo, em musical e de Funny bones.
Depoimentos
“Tenho uma história engraçada relacionada com ele. Quando criança, eu o chamava de Jerry ‘Levis’, já que eu não sabia pronunciar. Lembro que muita gente do humor foi influenciado por ele. Jerry era dupla com Dean Martin como temos Didi e Dedé. Um era divertido e o outro, mais sério, com um toque cômico. Jerry é um dos nomes mais fortes do humor, de estilo baseado nos gestos exagerados. Inspirou nomes como Jim Carrey, que segue a mesma linha”.
Walmir Chagas, o Véio Mangaba
“Foi dos primeiros a colocar sonoplastia dentro dos filmes que fazia. Lembro de uma cena, não recordo de qual filme, em que imitava uma pessoa com ressaca. Para deixar mais real, teve a ideia de pegar um copo e fazer o barulho associado à ressaca. Além do carisma, do humor e do talento, ele tem essa sensibilidade, essa percepção. Ele é referência para mim, que, apesar de novo, já assisti a vários filmes dele.”
Kedney Silva, Humorista