O limite entre o humor negro e a tragédia Filme espanhol A garota de fogo marca a volta do Cine São Luiz à programação normal, após Cine PE

Publicação: 12/05/2016 03:00

A garota de fogo, de Carlos Vermut, tem estilo que lembra os filmes dos Irmãos Coen (Onde os fracos não têm vez) (ESFERA FILMES/DIVULGAÇÃO )
A garota de fogo, de Carlos Vermut, tem estilo que lembra os filmes dos Irmãos Coen (Onde os fracos não têm vez)
Depois de dez dias com a programação interrompida por causa do festival Cine PE, o São Luiz volta a funcionar normalmente, a partir de hoje, com cinco filmes em cartaz. A luneta do tempo e A bruta flor do querer continuam em exibição. As estreias da semana são a animação infantil Asterix e o domínio dos deuses (uma engraçada metáfora sobre movimentos como o Ocupe Estelita) e os inéditos A garota de fogo e A segunda esposa.

Elogiado por Pedro Almodóvar, o filme espanhol A garota de fogo situa-se no limite entre a tragédia e o humor negro. A trama cruza as vidas de uma mulher com transtornos psiquiátricos e de um homem que precisa de dinheiro para cuidar da filha com leucemia. A história é cheia de personagens que parecem sofrer de distúrbios e perversões, sobretudo sexuais.

A garota de fogo tem um estilo que lembra os filmes dos Irmãos Coen (Onde os fracos não têm vez) pela maneira como situações absurdas de violência são apresentadas a partir de uma sequência de acasos e mal-entendidos, mas o diretor espanhol Carlos Vermut adota uma condução mais contida, com uma frieza que deixa o espectador em dúvida sobre como reagir às surpresas.

Detalhes nos diálogos sugerem uma relação entre o comportamento dos personagens e a identidade cultural espanhola, situada entre a racionalidade e a emoção, ao mesmo tempo em que sinalizam uma crise de valores simbolizada por atos de corrupção da política e do cotidiano.

A narrativa calculista é por vezes intercalada por canções em alto volume, inversões de montagem e exotismos pontuais, como a mansão de um excêntrico milionário cadeirante que gasta milhares de euros para mulheres realizarem fantasias misteriosas e violentas. O título é uma referência à música La niña del fuego, interpretada por Manolo Caracol, cantor de flamenco, tocada em uma das cenas.

De amor e de trevas
Israelense radicada em Hollywood, Natalie Portman (Oscar de atriz por Cisne negro, em 2011) atua e dirige De amor e de trevas, baseado na autobiografia do escritor Amós Oz. O filme é ambientado em Jerusalém, na época da construção do estado de Israel na região da Palestina, após o fim da Segunda Guerra.

Memórias secretas
O veterano Christopher Plummer interpreta um sobrevivente do campo de concentração de Auschwitz, ao Sul da Polônia, que decide localizar um oficial nazista responsável pela morte de judeus. Martin Landau também está no elenco.

O conto dos contos
O filme com Salma Hayek retrata as lendas de três reinos marcados por intrigas e cercados por monstros. A temática é próxima de Game of thrones e O senhor dos anéis (além dos contos de fadas), mas o visual enfatiza o absurdo, com um tom irônico. A direção é do italiano Matteo Garrone, revelado com Gomorra.

A segunda esposa
Elogiado filme de Umut Dag retrata o caso de uma mulher prestes a se casar com um desconhecido. No entanto, ela descobre que o verdadeiro marido será o pai do suposto noivo e que funcionará como substituta para a primeira mulher do patriarca.

Mulheres no poder
Filmada em Brasília, a comédia de Gustavo Acioly retrata a articulação entre uma senadora (Dira Paes) e uma ministra (Stella Miranda) que tentam fraudar uma licitação. O esquema transforma-se em uma confusão quando elas descobrem que foram sabotadas pelas assessoras.

Demon
Em uma festa de casamento, com os convidados bêbados, o noivo começa a ser perturbado por assombrações e parece estar possuído. É a premissa de Demon, que combina horror e humor. A trilha é assinada por Krzysztof Penderecki (O exorcista) e a direção é do polonês Marcin Wrona, que morreu após as filmagens.

Cine Cão
A MauMau (Rua Nicarágua, 173, Espinheiro) realiza, às 18h, o cineclube Cine Cão, com a banda The Raulis, que tocará trilha para Scorpio rising (1964), de Kenneth Anger. A entrada é gratuita, e a programação inclui debate sobre o Zapatismo, com Fred Zeroquatro e Daniel Esteves, autor de quadrinhos sobre Zapata.