O arquiteto e o monstro História de criador de Chicago e de primeiro serial killer da América virará filme com DiCaprio e Scorsese

Paulo Goethe
paulogoethe.pe@dabr.com.br

Publicação: 24/09/2016 03:00

Cidade branca: Pai de Walt Disney trabalhou na obra e influenciou na criação do mundo encantado na Flórida (Library of Congress - Washington, DC/ Reprodução)
Cidade branca: Pai de Walt Disney trabalhou na obra e influenciou na criação do mundo encantado na Flórida

Era preciso superar os presunçosos franceses e mostrar aos esnobes nova-iorquinos o que Chicago seria capaz de fazer. No início da última década do século 19, a segunda maior cidade dos Estados Unidos venceu a disputa para sediar a Exposição Universal de 1893, para celebrar - mesmo com o atraso de um ano - o 400º aniversário do descobrimento da América por Colombo.

O orgulho norte-americano estava em jogo. Em 1889, Paris havia assombrado o mundo com uma feira glamurosa, cujo maior legado foi a impressionante torre de ferro erguida pelo engenheiro Alexandre Gustave Eiffel. O que Chicago, a cidade de bancos e, principalmente, matadouros, poderia fazer para entrar na história? Começava uma corrida contra o tempo para transformar um lugar ermo em uma verdadeira “cidade branca”, com cerca de 200 construções temporárias de arquitetura predominantemente neoclássica, canais e lagoas, concebidos pelo dream team da arquitetura nacional da época, liderado por Daniel Burnham, um dos maiores profissionais da cidade.

Perto dali, visando aproveitar a esperada leva de visitantes - e foram 27 milhões em seis meses -, um hotel se erguia aos trancos e barrancos, concebido pelo médico Herman Webster Mudgett, que adotou o nome de Henry Howard Holmes. Burnham e Holmes entraram para a história por portas diferentes, um pelas linhas retas e outro pelas tortas. O primeiro como um dos maiores construtores de sonhos, o segundo como destruidor de vidas.

A história dos dois é entrelaçada nas 448 páginas do livro O demônio na Cidade Branca - Assassinato, magia e loucura na feira que transformou os Estados Unidos, do escritor norte-americano Erik Larson, lançado originalmente em 2002 e publicado em junho deste ano no Brasil pela editora Intrínseca. O ator norte-americano Leonardo DiCaprio adquiriu os direitos da história para o cinema, interessado em interpretar H.H. Holmes, considerado o primeiro serial killer da América. O diretor será Martin Scorsese.

Baseado apenas em documentos e publicações impressas - nada de internet - Erik Larson reproduz o cenário de transformação de uma Chicago que era o sinônimo de um país que queria ser relevante. Enquanto Burnham tentava domar os egos de um grupo que expandia os limites da arquitetura e do paisagismo, Holmes ia cometendo crimes em sequência, sem despertar suspeitas. O seu hotel foi concebido para ser um cenário de terror, com direito a forno crematório e mesa de dissecção de cadáveres. Os esqueletos das vítimas - e foram 27 confessadas, mas estima-se que podem ter chegado a 200 - eram vendidos para universidades de medicina.

Homem sedutor, Holmes aproveitou-se da ingenuidade de mulheres solteiras com alguma posse que pensavam em viver numa cidade grande. Ele até chegou a percorrer os 2,4 km2 da Cidade Branca com duas irmãs que foram depois assassinadas em sequência. O trio visitou os pavilhões com as novidades dos países - o Brasil, inclusive - e visto o circo de Buffalo Bill e se espantado com a primeira roda-gigante do mundo, concebida por George Washington Gale Ferris Jr., com 86 metros de altura.

No final, tanto o pavilhão da feira de Burnham quanto o lúgubre hotel de Holmes foram destruídos pelo fogo. Mas as marcas ficaram.

Burnham e Holmes: bem e mal
Daniel Burnham deixou como legado obras em Chicago, Nova York e outras cidades. H.H. Holmes ordenou que caixão fosse lacrado com cimento para não ter corpo estudado

Best sellers de não ficção
Método de extensa pesquisa de Erik Larson é reproduzido também em No jardim das feras e A última viagem do Lusitania.

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Algumas das invenções apresentadas ao mundo:
  • creme de leite
  • chiclete de frutas
  • aveia em flocos
  • máquina de lavar louças
  • lâmpadas fosforescentes
  • tinta em spray
  • roda-gigante
Serviço

O demônio na Cidade Branca
Páginas: 448
Quanto: R$ 49,90 (impresso) e R$ 34,90 (e-book)
Tradução: Berilo Vargas