Leveza e silêncio de Isadora Melo Em show gratuito no Teatro de Santa Isabel, pernambucana lança primeiro disco da carreira, Vestuário, com composições de parceiros musicais de longa data, como Juliano Holanda

Larissa Lins
larissa.lins@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 20/10/2016 03:00

Artista define o álbum de estreia como "um acaso programado, articulado coletivamente" (Bruna Valenca/Divulgação )
Artista define o álbum de estreia como "um acaso programado, articulado coletivamente"

Isadora Melo prefere a palavra leveza - não delicadeza, outra que lhe ofertam frequentemente - para se referir à música, à própria relação com o canto, o palco, os versos. Leveza, assim como sensibilidade, é um exercício. É o que ela diz. E leveza lhe cai bem, tem relação natural com sua voz. Das coisas analógicas e de objetos feitos à mão, dotados da leveza a que ela se refere, Isadora quis extrair elementos para compor a identidade de seu primeiro disco, Vestuário (Independente, R$ 15), lançado hoje em formato físico e por streaming, com show no Teatro de Santa Isabel, no Bairro de Santo Antônio. Conseguiu. “Os bordados manuais do encarte fazem associação entre a manufatura e a costura de músicas que fizemos. Têm relação com a ideia do álbum, com a relação das coisas com o tempo”, explica Isadora, que deu à compilação o título da primeira das 12 músicas. “Visto o verso e ele é minha roupa se faz frio ou faz calor”, diz um trecho de Vestuário, composição de Juliano Holanda.

Filha do cantor Karlson Correia e da atriz Sônia Cristina, Isadora transformou a infância permeada por música em uma relação afetiva com sua ferramenta de trabalho, a voz. Cantar evoca memórias, familiaridade, nostalgia. No primeiro disco, espécie de continuação aprofundada do EP Isadora Melo (2014) - ela retoma, inclusive, as faixas A joia e Partilha, revestidas por novos arranjos -, interpreta letras de Juliano Holanda (que também assina a produção do álbum), Júlio Holanda, Zé Manoel, Glauco César, Kassin, Hugo Linns, Clara Simas, Mavi Pugliesi, Paulo Paes, Hugo Coutinho, Caio Lima e Walter Areia, com participações especiais de Clara Torres, Zé Manoel e Jaques Morelenbaum (violoncelista e arranjador, conhecido por trabalhos em parceria com Tom Jobim, Caetano Veloso, Gal Costa). O pai de Isadora, Karlson Correia, também participa do trabalho, uma chancela preciosa para a intérprete.

“São meus parceiros, compram brigas comigo. Me ensinam a trabalhar em equipe, ser parceira, integrar uma banda. Também fizemos juntos o EP, cuja linha poética e sonoridade eram muito claras. O repertório de Vestuário foi um acaso programado, articulado coletivamente. Reúne o tipo de poesia que nos interessa. As palavras e os silêncios têm razão de ser”, explica Isadora. No palco do Teatro de Santa Isabel (Praça da República, s/n, Bairro de Santo Antônio) onde se apresenta às 20h, entra em cena acompanhada por Juliano (guitarra e violão), Júlio César (acordeon), Rafael Marques (bandolim) e Rogê Vítor (contrabaixo) - este último assume o papel que, no estúdio, coube a Walter Areia, hoje radicado em Portugal. A entrada é gratuita.