O cinema no reino do romantismo Dois novos filmes voltam a abordar o brega brasileiro: um deles é sobre o rei Reginaldo Rossi, com participação do filho

Fernanda Guerra
fernanda.guerra@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 18/03/2017 03:00

Majestade: Documentário pretende narrar a vida do pernambucano, com entrevistas de personalidades. Roberto, o filho, vai atuar em Reginaldo Rossi: meu grande amor (Marcos Hermes/Divulgacao | Record TV/Reprodução)
Majestade: Documentário pretende narrar a vida do pernambucano, com entrevistas de personalidades. Roberto, o filho, vai atuar em Reginaldo Rossi: meu grande amor

Durante a trajetória, Reginaldo Rossi costumava criticar artistas que não assumiam o lado romântico ou quem diminuía a importância da vertente musical. Para o Rei do Brega, Frank Sinatra se consagrou cantando o amor, elemento central da música brasileira, com expoentes como Waldick Soriano e Wando, além do pernambucano, falecido em 2013. O cantor consolidou o gênero no estado. O estilo clássico do brega ganhou variações sonoras e subgêneros, como tecnobrega, brega-funk e melody - correntes representadas no cinema em filmes como Amor, plástico e barulho, de Renata Pinheiro, e os documentários Explosão brega, de Hanna Godoy, e Estás vendo coisas, de Barbara Wagner. Duas novas produções miram o formato peculiar ao Rei e ampliam a relação de filmes sobre o gênero.

Com título provisório, o documentário Reginaldo Rossi: meu grande amor retratará a trajetória do músico recifense. A proposta, no entanto, é mostrar a dimensão da carreira de Reginaldo Rossi, sem o reducionismo de associá-lo apenas ao gênero com o qual brilhou. A produção resgatará toda a história do compositor, desde o início da carreira, como líder da banda de rock The Silver Jets, pertencente ao movimento da Jovem Guarda. Com direção de José Eduardo Miglioli (Chico Science: O caranguejo elétrico) e roteiro de DJ Dolores, o filme é uma coprodução da RTV e da Globo Filmes. As gravações começam nesta semana no Recife, com filmagens previstas também no Rio de Janeiro e em São Paulo. A previsão de estreia é para o fim do ano, na Globo.

A pesquisa e o roteiro estão quase prontos. No processo, a equipe esbarrou em uma dificuldade: encontrar material de acervo da época dos anos 1960. “A gente vive em um país onde não há muito respeito pela memória. Não temos hábito de preservar a história”, analisa o diretor Miglioli. Para suprir a ausência, Roberto Rossi, filho do artista, formado em artes cênicas pela Casa de Artes de Laranjeiras, no Rio de Janeiro, interpretará o pai em algumas cenas do documentário.

“A gente criou uma alegoria narrativa onde o Beto vai se inserir. Quando a gente começou, encontrei com ele no Rio e estabelecemos uma ideia bacana. Ele é ator e muito parecido com o pai. Tem um timbre de voz muito igual”, complementa. O documentário deve mesclar depoimentos com as cenas, que remetem aos anos 1960 e 1970. “Tínhamos essa possibilidade de inseri-lo dentro da narrativa. Criamos uma brincadeira muito legal, mas não posso contar. É spoiler”, justifica.

De acordo com o diretor, a lista de entrevistados é abrangente. A ideia é incluir nomes que fizeram parte da trajetória do cantor e de pessoas que se influenciaram ou admiram o legado do artista. Entre eles, o violeiro Fernando Filizola, o guitarrista Ximbinha e os cantores Michael Sullivan, Ivete Sangalo, Gaby Amarantos e Marcelo D2. “Reginaldo ficou rotulado pela história do brega. A obra dele tem outras nuances e peculiaridades, tão relevantes quanto a fase final”, diz Miglioli.

O viés foi aprovado pelo filho. Para Roberto, o lado roqueiro do pai é pouco conhecido pelo público. “O que ficou mais popular foi a última fase do meu pai. Ele tem muito fã jovem, que não acompanhou o início dele na Jovem Guarda. Acho interessante abordar esse lado”, analisa Roberto.

A roupa, o amor, a dor e a batida melancólica, elementos que se repetem no universo brega, são destacados no longa-metragem Jamais estive tão segura de mim mesma. Com direção da baiana Monique Gardenberg e trilha sonora assinada por Zeca Baleiro, o filme, cujo título é uma referência à música composta por Raul Seixas para Núbia Lafayette, começou a ser gravado em São Paulo no início deste mês. O elenco conta com as pernambucanas Hermila Guedes e Júlia Konrad no elenco, além de Marjorie Estiano, Lee Taylor e Julio Andrade.

É o primeiro filme brasileiro de Júlia (Malhação), que viverá Celeste, de um cantor de brega em decadência, personagem de Andrade. A produção acompanha a história de uma família que mora em um antigo sobrado em São Paulo. No andar de baixo funciona uma boate na qual todos trabalham. “Acho que o filme fala muito sobre dor, mas de uma maneira inesperada”, adianta a atriz, em entrevista ao Viver. A produção assinala o retorno de Hermila às telas de cinema, após um período de três anos afastada. No ano passado, ela atuou na série de TV Fim do mundo, exibida no Canal Brasil.

Brega no cinema

Explosão brega (2010), de Hanna Godoy

O documentário apresenta um panorama do brega, com o objetivo de romper o preconceito sofrido pelo gênero. Entre os artistas, Michelle Melo e Kelvis Duran estão no filme.

Amor, plástico e barulho (2013), de Renata Pinheiro
Estrelado por Maeve Jinkings, o longa-metragem aposta em um viés mais comportamental do universo brega, a partir das cantoras Jaqueline e Sheyla.

Estás vendo coisas (2016), de Barbara Wagner
O curta-megragem, gravado em 2015, megulha na cena do brega pernambucano, com foco na produção de videoclipes de bandas, artistas e MCs.