Prateleira

Publicação: 05/08/2017 03:00

Farney na voz de Cauby Peixoto

Kiko Ferreira
edviver@diariodepernambuco.com.br


Pra enfrentar as noites de frios variados, nada como música sofisticada, reconfortante, consistente e inebriante como o conhaque do poema de Drummond. Somos dois: Cauby canta Dick Farney, primeiro disco póstumo de Cauby Peixoto, entra fácil nessa necessária categoria. Gravado em março de 2016, dois meses antes da morte do cantor, acabou sendo resgate sentimental. O produtor Thiago Marques Luiz conta como surgiu a ideia: “Em dezembro de 2015, tínhamos show de lançamento no Rio e, no voo, Cauby me falou sobre a admiração por Dick Farney, cantor que o inspirou no início da carreira”.

Dotado de impressionante memória musical, desfilou 20 temas do repertório de Dick e, dias mais tarde, ligou para o produtor com o convite preferido: “Quando vamos gravar?”. Mesmo tendo acabado de lançar disco, Thiago cedeu. Em um dia, colocou voz nas músicas, a partir de arranjos do pianista Hanilton Messias, no comando de um quinteto com baixo de Eric Budney, bateria de Nahame Casseb, violão de Ronaldo Rayol e sopros de Rafael Clarim.

Espécie de continuação de álbuns marcantes, como os dedicados a Sinatra, Beatles, bossa nova e às mulheres, o disco de dez faixas mostra pegada jazzística e familiaridade com o idioma sonoro das boates que Farney frequentava nos anos 1950 e 1960. Cauby canta Dick Farney não é um bazar de novidades. Mas um testamento convincente de um artista ciente do potencial, coerente com o passado e a formação. Biscoito Fino. R$ 29,90

Olhos de carvão
Ficção com boa dose de histórias reais

Olhos de carvão (Record, 112 páginas, R$ 29,90), primeiro livro de contos do mineiro Afonso Borges, é, por definição, ficcional. Mas as histórias contadas ao longo dos 26 textos curtos reunidos têm origem em situações vividas pelo próprio autor. O título da obra, aliás, é em referência a um acontecimento inusitado na vida do escritor, que garante ter avistado um demônio dentro de uma igreja na juventude. O caráter pessoal das breves tramas se aproxima, em alguns momentos, do formato de crônica. Idealizador da associação cultural Sempre um Papo, em Belo Horizonte, espaço de debate entre escritores e o público, Borges propõe na escrita cumplicidade com os leitores, a partir de narrativas e personagens de fácil identificação. Cheio de simbolismo, o livro também tem forte carga poética, apesar da escrita econômica.

Confira!

Youtube
Sua cara parodiada na rede

Com participação de Anitta e Pabllo Vittar, o clipe Sua cara bateu recorde no YouTube - e, claro, inspirou inúmeras paródias. Uma delas foi desenvolvida por Whinderson Nunes com participação do pernambucano Gabriel Oliveira, do PutzVéi.

Lançamentos: literatura

Sabedoria com selo judaico

Autor dos best-sellers Moneyball e Flash boys, o jornalista Michael Lewis é conhecido pela habilidade de resgatar personagens históricos e criar relatos envolventes que mesclam biografia e ficção. Em O projeto desfazer (Intrínseca, 358 páginas, R$ 49,90), narra a vida de dois cientistas judeus - Daniel Kahneman e Amos Tversky - responsáveis por descobertas no campo da cognição.

Saldo de horror da guerra
O historiador Keith Lowe é considerado um especialista na Segunda Guerra Mundial. Em Continente selvagem: O caos na europa depois da Segunda Guerra Mundial (Zahar, 504 páginas, R$ 89), aborda o período do pós-guerra, o saldo do horror entre 1944 e 1949, quando 30 milhões de pessoas tinham morrido, muitas cidades estavam arrasadas, as instituições eram débeis.