Trama policial para gargalhar Um tira chamado Perigo satiriza obras do gênero com trama ancorada em um agente descrente da civilização

ISABELLE BARROS
isabelle.barros@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 19/08/2017 03:00

Os filmes policiais e seu vasto vocabulário de clichês, como o uso da palavra “tira”, a perda do distintivo, a morte do parceiro e a vingança do homem da lei já haviam motivado o grupo de teatro Os Melhores do Mundo, do sucesso Hermanoteu na Terra de Godah, a criar dois espetáculos sobre o tema. O protagonista, McCoy, foi a estrela de Tira - adrenalina em combustão, de 1994, e Tira 2 - McCoy is back, de 1995. Há três meses, os dois espetáculos foram fundidos em um só e reformulados, do texto à cenografia, com o nome Um tira chamado perigo, com única apresentação às 21h deste sábado no Teatro Guararapes.

O ponto de partida é dos mais rocambolescos: um vilão está explodindo Chicago, que está a ponto de ser aniquilada. Com a morte do parceiro, o herói McCoy perdeu a crença no mundo civilizado e foi morar na floresta, em tribo indígena. Mas o policial volta à cidade para salvar seus habitantes do perigo.

A revisitação dessa fase inicial do grupo, que tem 23 anos de existência e conta com a sátira como ponto central de sua trajetória, também mostra o quanto suas peças conseguem sobreviver através do tempo. O grupo assumiu sua inspiração na linguagem cinematográfica a partir do cenário. Além do texto, essa foi a maior mudança, pois agora a cenografia é composta por imagens formadas por três projetores, voltados para mostrar registros bastante explorados pela cultura pop.

Para Jovane Nunes, um dos fundadores do grupo, mesmo o enlatado americano mais antiquado pode dialogar com a atualidade. “Melhoramos a história e colocamos mais humor e suspense. Adaptamos aos tempos de hoje, até porque vivemos quase em estado policial no Brasil, com a Lava-Jato. A história se passa em Chicago e, também, no Recife. Gostamos de pesquisar elementos da cidade onde estaremos. É a chave da comunicação com o público”.

Serviço

Um tira chamado Perigo, da Companhia de Comédia Os Melhores do Mundo
Quando: neste sábado, às 21h
Onde: Teatro Guararapes (Centro de Convenções, s/n, Olinda)
Ingressos: R$ 80 e R$ 40 (meia), à venda na bilheteria do teatro e no site Compre Ingressos
Informações: 3181-8020

3 perguntas - JOVANE NUNES // Cofundador da Companhia de Comédia Os Melhores do Mundo

A comédia tem ligação com o cotidiano e seus desencontros. Qual a visão do grupo sobre isso?
Começamos escrevendo textos falando do nosso dia-a-dia e nossa intenção era criar uma dramaturgia mais próxima das pessoas. Em Um tira chamado Perigo, vamos falar de Náutico, Sport, Lava-Jato, Temer. A peça acaba sendo uma crônica do nosso comportamento. O humor  passa agora por dilemas como a discussão sobre o politicamente correto e os limites. Para mim, a discussão está superada. Não há limite.

Quais mudanças vê no público com a ascensão da internet?
Li um artigo no jornal El País dizendo que a Geração Z não assiste mais a TV, mas ao YouTube. Os adolescentes seguem pessoas parecidas com eles. Os ídolos de hoje são os youtubers e surfamos nessa onda com o sucesso de nosso personagem Joseph Kimber nessa plataforma. As pessoas não tinham como se expressar antes. Antes tínhamos de nos mudar para o Rio, para São Paulo. Quantos elencos ficaram sem oportunidade por não ter um lugar para mostrar o trabalho? Hoje, o público tem voz e é bem-vindo. O humor cresceu porque as pessoas agora podem mostrar o trabalho e os comediantes têm mais plataforma para se apresentar.

Quais as ações do grupo em 2017?
A peça começou a ser desenvolvida logo após acabarmos as gravações de Planeta B, cuja estreia aconteceu em julho. Estamos em pré-produção de Hermanoteu - o filme e devemos rodar em janeiro de 2018. Escrevemos uma história nova com os mesmos personagens e tentamos responder porque o Hermanoteu não aparece na história.