Liberdade de cores e formas Exposição que será aberta amanhã faz restrospectiva da singularidade dos trabalhos de Tomie Ohtake, uma das mais singulares artistas visuais brasileiras

ISABELLE BARROS
isabelle.barros@diariodepernambuco.com

Publicação: 20/09/2017 03:00

A obra de Tomie Ohtake (1913-2015), uma das artistas visuais mais singulares e respeitadas da arte brasileira, aporta no Recife a partir de amanhã, em exposição que dura até o dia 19 de novembro na Caixa Cultural Recife. A exposição Tomie Ohtake: Cor e corpo traz 40 gravuras, cinco pinturas e três esculturas pertencentes ao acervo dela. A seleção foi feita por curadores que trabalham no Instituto Tomie Ohtake em São Paulo e mostra o quanto o trabalho dela expressa a opção pela liberdade de cores e formas.

A mostra tem ares de retrospectiva e conta com exemplares de várias décadas, segundo a integrante do setor de curadoria do Instituto Tomie Ohtake, Luise Malmaceda. “Essa foi uma exposição pensada para itinerar. Por isso, escolhemos mais gravuras do que pinturas e esculturas. Nossa ideia é apresentar todas as características da obra da Tomie. Ela trabalha com o gesto, a textura e a cor em todos os suportes escolhidos para sua expressão, mas, com a gravura, tem um pouco mais de liberdade, os arranjos de cor são mais ousados, as cores mudam. Estamos levando serigrafia, litogravuras e e gravura em metal”, esclarece.

Outro fator distintivo de seu trabalho era a afinidade com formas orgânicas, mesmo tendo a sua obra considerada como filiada ao abstracionismo geométrico e ao informalismo. Em seu processo criativo, ela optava por não delimitar, de forma definitiva, o significado de suas obras. Era uma escolha da própria artista deixar seus trabalhos sem título, justamente para o espectador ter a liberdade de atribuir o sentido que quisesse à produção. “É uma obra bonita, envolvente, pelas cores e textutras”, complementa Luise.

A paleta cromática de Tomie passa especialmente pelas cores primárias, além do branco e do preto, e uma das suas marcas é o uso do vermelho em toda a sua dramaticidade e intensidade. O gesto da artista também está expresso de forma patente nas pinturas, que incluem as hesitações e uma delicadeza intrínseca de sua produção.

A organicidade também pode ser vista por meio de suas esculturas, parte importante da obra de Tomie. A artista realizou várias peças de grande porte, feitas para locais públicos de várias cidades no Brasil e exterior. “Em determinado ponto da carreira, Tomie passou a trabalhar uma exploração tridimensional do gesto da pintura. As esculturas que estão na exposição do Recife não pedem a participação do público, mas ela também explora o lugar da participação do outro e da gestualidade no espaço. Muitas vezes, é como se a obra fosse um corpo dançando. São esculturas muito delicadas”, complementa Luise. As obras foram feitas a partir de torções, dobras e voltas feitas pela própria Tomie em pequena escala e, posteriormente, ampliadas.

Uma das conquistas da vida de Tomie foi ter alcançado um reconhecimento ainda em vida, status mantido após a sua morte. O legado é passado adiante pelo Instituto Tomie Ohtake, inaugurado em 2000 e com projeto de sua sede feito por seu filho, o arquiteto Ruy Ohtake. “Desde a década de 1960, ela é considerada uma grande pintora. Ela tinha uma produção que não se encaixava muito nos elementos brasileiros, porque o abstracionismo mais orgânico não teve tanta penetração no país. Mesmo assim, participou de várias bienais e foi considerada das maiores artistas brasileiras”, diz Luise.