Elas pensam o cinema Atrizes, diretoras, cineastas e escritoras são entrevistadas em série do Canal Brasil sobre a visibilidade e o protagonismo feminino na sétima arte

Ricardo Dahen
Especial para o Diario

Publicação: 24/10/2017 03:00

O cinema visto como um espelho da sociedade, ao final de cada ano, desponta em forma de série no Canal Brasil (da TV por assinatura). “Sempre fazemos reuniões, elencando temas para o projeto anual. Mas, neste ano, a questão a ser desenvolvida estava evidente. Foi unânime a ideia de representar o vigor da discussão da presença feminina no cinema”, conta a diretora e apresentadora da série (em seis episódios) A mulher no cinema, Simone Zuccolotto. Ela faz questão de sublinhar: “Não é uma série feminista ou panfletária. Queremos provocar, na verdade, reflexão”.

A partir de hoje (e sempre às terças-feiras, às 21h), o canal de TV a cabo exibirá o programa que elenca nomes como os das atrizes Leandra Leal (também cineasta), Nicole Puzzi, das diretoras Anna Muylaert (Que horas ela volta?) e Laís Bodansky (Como nossos pais), além da escritora Mirian Schröeder. “Analisamos ciclos da produção nacional e ampliamos o leque de entrevistadas, para extrapolar o campo da experiência individual de cada profissional, entre atrizes, diretoras e produtoras”, explica Simone Zuccolotto.

Pesquisadora dedicada, ela conta que concilia a série de TV com o dia a dia do trabalho e molda um painel decantado, com muita informação. Entre os dados apresentados à audiência, há o registro de presença feminina ainda incipiente na indústria - ainda que crescente, ano a ano. “Entre os anos de 1961 e 1970, as cineastas eram 0,68% da força de trabalho. E, em 2006, a faixa era de 20,3%. Até hoje, foi Tizuka Yamasaki, com o longa Lua de cristal (1990), que cravou a melhor marca, com mais de quatro milhões de espectadores. O aumento do poder das mulheres, com maiores orçamentos em campo, promete recriar resultados positivos”, explica a diretora e apresentadora.

SEXO
Ao lado da filósofa Márcia Tiburi, a escritora Nélida Piñon areja a perspectiva das mulheres na telona. “Todo movimento (como o do feminismo) começa histriônico. Depois, vai para a cátedra (o tom professoral). Daí, é que se torna canônico (dogmático)”, observa a autora imortal. Entre as entrevistadas, a atriz e cineasta Leandra Leal defende a existência de olhares diferenciados, masculinos e femininos, a exemplo da maioria. Símbolo do rearranjo social das mulheres, a autora Simone de Beauvoir é lembrada, pela leitura intercalada de trechos de ensaio, a cargo da atriz brasiliense (com diversos papéis em filmes pernambucanos) Maeve Jinkings, que ainda concedeu entrevista.

A nudez, por exemplo, é discutida por atrizes da pornochanchada: Nicole Puzzi e Monique Lafond. A primeira sempre defendeu uma atitude libertária, enquanto Lafond comenta a imposição da nudez em determinadas produções. Falando de sexo, a atriz Fernanda Montenegro, em depoimento, conta da nulidade da nudez, que nunca limitou seus personagens do diálogo com o Eros (a divindade do amor).