Negros no palco e na plateia De hoje a 29 de outubro, festival de teatro do grupo O Poste terá programação gratuita, cujas peças abordam vários aspectos da afrodescendência

Emília Prado
Especial para o Diario
edviver@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 19/10/2017 03:00

Da dança dos orixás ao balé clássico, a extensa programação do projeto Luz Negra: O Negro em Estado de Representação deixa claro o seu principal objetivo. Idealizados pelo grupo pernambucano de pesquisa e arte cênica O Poste - Soluções Luminosas, os espetáculos apresentados de hoje a 29 de outubro evidenciam todo o potencial de artistas negros, colocando-os no centro dos holofotes.

De formato inédito no estado, Luz negra segue modelos como o Melanina Carioca (RJ) e A Cena tá Preta (BA), festivais cujo protagonismo é de artistas negros. O pioneirismo também pertence ao grupo O Poste por atender ao título de primeiro coletivo que trabalha dentro de sua ancestralidade e busca suscitar a reflexão do que é ser negro através de suas produções. “A resistência é de uma importância ímpar, faz com que outros artistas negros e não negros vejam que a arte é democrática. Dá a Pernambuco uma pluralidade e visibilidade tanto para trabalhos populares como para outros mais acadêmicos”, explica Samuel Santos, artista de O Poste e um dos organizadores do festival.

O palco do Teatro de Santa Isabel (Praça da República, s/n, Santo Antônio) sedia a abertura do festival hoje, às 20h. Haverá diversas apresentações solo e homenagens aos artistas Mãe Amara Mendes, Mestre Meia Noite, Inaldete Pinheiro e Petrúcio Nazareno. Nos dias seguintes, os espetáculos serão no Espaço O Poste (Rua da Aurora, 529, Boa Vista). Toda a programação do Luz Negra é gratuita.

Além de apresentações do grupo anfitrião, o projeto traz à cidade artistas e espetáculos da Bahia, Sergipe e Moçambique. A visibilidade ao artista negro resulta ainda na sensação de reconhecimento e pertencimento. O público negro ver o semelhante faz uma diferença capaz de mudar a situação da cena em Pernambuco que, segundo Samuel, é de escassez do negro nas plateias e nos palcos.

A reflexão do que é ser negro se desenvolve em vários recortes que serão apresentados: violência contra a mulher (A receita), trajetória de um negro periférico, gay e candomblecista (Luzir é negro), uma peça que trata de questões ancestrais e é apresentada, em parte, na língua angolana (Ombela), dança africana, dança contemporânea, balé clássico, canto lírico, frevo. O coordenador justifica a variedade: “Vamos mostrar que há uma diversidade temática do negro, uma pluralidade de vivências entre os afrodescendentes”.

A atriz e sócia de O Poste, Naná Sodré se apresenta com o solo A receita, uma crítica à violência contra a mulher negra: “A minha personagem é dona de casa, aquela que vive para o lar. Ela sofre violência do marido e dos filhos. É uma mulher anônima, quase faz parte da mobília, é confundida em meio aos eletrodomésticos”, revela a atriz. “Temos muito a dizer. Ainda vivendo em período de intolerância. O projeto também serve para mostrar que podemos fazer qualquer papel, é para desmistificar o imaginário dos negros escravizados”, conclui Naná.

Programação

HOJE

Abertura, às 20h, no Teatro de Santa Isabel
Surama Ramos, solista de ópera, Manuel Castomo, solista africano de dança contemporânea, Neguinho do Frevo, solista de frevo, Luzii Santos, solista de balé clássico, Helayne Sampaio, solista de dança dos orixás e Gina Purpurina, Performer Drag Queen

AMANHÃ
Às 20h, no Espaço O Poste (Rua da Aurora, 529, Boa Vista). Luzir é negro

SÁBADO
Às 20h, no Espaço O Poste. Senhora dos restos

DOMINGO
Às 10h, no Espaço O Poste. Contação de história: Histórias do meu povo, com Roma Julia. Às 17h, A receita

QUARTA-FEIRA (25)
Às 9h, no Espaço O Poste. Oficina de Jogos Africanos

QUINTA-FEIRA (26)

Às 19h, no Espaço O Poste. Leitura dramatizada do texto O Juazeiro, a pedra e o Sol, de Samuel Santos

SEXTA-FEIRA (27)
Às 20h, no Espaço O Poste. Cordel do amor sem fim

SÁBADO (28)

Às 20h, no Espaço O Poste. Isto não é uma mulata

DOMINGO (29)
Às 17h, no Espaço O Poste. Ombela