Angola é aqui Referência mundial do semba - gênero ancestral africano e provável influência para o samba brasileiro - Paulo Flores é destaque do Festival Mimo, que começa hoje, em Olinda

Publicação: 17/11/2017 03:00

Fellipe Torres *
fellipe.torres@diariodepernambuco.com.br

Rio de Janeiro - Um dos artistas mais populares de Angola, o cantor e compositor Paulo Flores tem, desde a infância, forte ligação com a música brasileira. Lembra de ter crescido ouvindo Luiz Gonzaga e Ângela Maria. Aos 8 anos de idade, viu o pai, o agitador cultural e DJ Carlos Alberto Flores, receber no país africano figuras como Martinho da Vila, Clara Nunes, Chico Buarque e Djavan. Hoje, prestes a completar três décadas de carreira e com mais de 15 discos lançados, tem plena consciência da forte identificação com as sonoridades tupiniquins. Tal proximidade ficou clara no último domingo, quando subiu ao palco erguido na Marina da Glória, no Rio de Janeiro, onde tocou na programação do Festival Mimo. A partir das 22h de hoje, o mesmo show será apresentado na Praça do Carmo, em Olinda.
Para Paulo Flores, há certa dificuldade em exportar os ritmos de Angola porque o país ainda está em processo de conhecer a própria música. O semba, por exemplo, gênero ancestral africano do qual o artista é defensor ferrenho, tanto contribuiu para o surgimento do samba brasileiro como foi influenciado por ele. Isso porque na tentativa de recriar o semba em instrumentos harmônicos foi impossível não se contaminar pelo filho mais novo, hoje já centenário.
“A música de Angola tem muito isso. Os escravos a levaram para Cuba, para a América do Norte, para a América do Sul, e depois voltaram. Nós tentamos pegar tudo o que vinha dessas pessoas, porque, no fundo, sempre tivemos essa vontade de fazer parte do mundo. É normal que isso aconteça”, opina. Em Olinda, Paulo Flores apresenta o novo disco, Bolo de aniversário, além de sucessos da carreira. Ele será acompanhado por Manecas Costa (guitarra), Mayo (baixo), Gobliss (teclados), João Ferreira (percussão) e Ivo Costa (bateria). Antes, às 15h, o cantor angolano conversa com o público sobre o semba, no Convento de São Francisco.

n O repórter viajou a convite do Festival Mimo

 

[ Destaques

Antes de Paulo Flores, neste primeiro dia a programação gratuita do Mimo em Olinda terá duas atrações francesas: Laura Perrudin, conhecida por tocar harpa cromática eletrificada e misturar jazz, hip hop, soul e música eletrônica (às 19h, no Convento de São Francisco) e o violinista Didier Lockwood, que apresentará repertório de gipsy jazz ao lado do guitarrista Adrien Moignard  e do baixista Diego Imbert (20h30, na Igreja da Sé). Às 23h45, na Praça do Carmo, sobem ao palco os músicos da banda colombiana Ondatrópica. A programação completa do Mimo inclui etapa educativa e exibição de filmes relacionados à música. Acesse em bit.ly/2vy03L3.

 

[ Programação

 

HOJE
19h - Laura Perrudin (França), no Convento de São Francisco
20h30 - Didier Lockwood (França), na Igreja da Sé
Palco Praça do Carmo
21h - DJ Montano (Brasil)
22h - Paulo Flores (Angola)
23h45 - Ondatrópica (Colômbia)

AMANHÃ
16h - Eduardo Neves e Rogério Caetano, na Igreja da Misericórdia
17h30 - Salomão Soares (Brasil), na Igreja de Nossa Senhora do Carmo
19h - Zé Manoel (Brasil), na Igreja de Nossa Senhora do Carmo
20h30 - 3MA: Rajery, Ballaké Sissoko e Driss El Maloumi (Madagascar, Mali e Marrocos), na Igreja da Sé
Palco Praça do Carmo
21h - DJ Montano (Brasil)
22h - Vieux Farka Touré (Mali)
23h45 - Emir Kusturica & The No Smoking Orchestra (Sérvia)

DOMINGO
Palco Praça do Carmo
17h - DJ Montanno (Brasil)
18h - Manel Cruz (Portugal)
19h30 - Otto (Brasil)