Mãozinha literária Escritores Maria Ribeiro, Gregorio Duvivier e Xico Sá se unem em evento gratuito no Recife para estimular o apreço pela literatura

MATHEUS RANGEL
matheus.rangel@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 07/12/2017 09:00

Em um país no qual 30% da população nunca comprou um livro e 44% afirmam não ter o hábito de ler - segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, encomendada pela Pró-Livro e divulgada em 2016 -, tocar um evento literário itinerante parece uma missão difícil. As adversidades, contudo, têm sido superadas pelo projeto Você é o que lê, encabeçado pelo jornalista Xico Sá, a atriz Maria Ribeiro e o humorista Gregorio Duvivier. Em comum, o trio tem a paixão pelas palavras escritas e a vontade de tornar mais acessível o debate acerca da defasagem educacional no Brasil no que se refere ao consumo de literatura - o levantamento mostra, por exemplo, que 67% dos brasileiros declararam não ter recebido apoio na infância para cultivar o hábito.

Depois de passar por diferentes regiões do país, o evento chega ao Recife em formato gratuito e aberto ao público. Será hoje, a partir das 19h, no Marco Zero, no Recife Antigo, com estrutura montada na lateral do Centro de Artesanato de Pernambuco. No palco, Xico, Maria e Gregorio compartilham experiências pessoais e profissionais com a leitura passeando por diferentes aspectos do tema, que incluem redes sociais, correntes do WhatsApp e até ganhadores do prêmio Nobel. “É um desafio muito grande montar um projeto de literatura porque não se trata de uma paixão nacional. As pessoas até leem, leem muito, mas é um livro só, que é a Bíblia, e nem entendem direito. Falam coisas opostas a ela. Mais do que quantidade, o Brasil tem um problema de qualidade de leitura”, aponta Duvivier, autor dos livros A partir de amanhã eu juro que a vida vai ser agora (2011), Ligue os pontos: Poemas de amor e Big Bang (2013), Percatempos: Tudo que faço quando não sei o que fazer e Caviar é uma ova (2016).

Para Maria Ribeiro, que se prepara para o lançamento de Tudo que eu sempre quis dizer, mas só consegui escrevendo, programado para o ano que vem, a desmistificação do papel de escritores é um dos fatores fundamentais no processo de democratizar o acesso à leitura. “É um projeto que junta três figuras da TV, relativamente pops, e que por acaso escrevem. Então, normalmente, as pessoas associam a figura do escritor a alguém de difícil acesso e somos totalmente acessíveis. Estamos no Instagram, somos ‘bagaceiros’ e contribuímos, dentro da nossa pequena medida, para mostrar que todo mundo pode escrever, que a literatura está ao alcance de todos”, reflete.

Por ser aberto ao público - diferentemente de outras cidades, nas quais se costuma cobrar ingresso - a edição pernambucana do Você é o que lê promete ser especial. “Na condição de escritor nascido no Cariri (Crato), com família paterna cearense, família materna pernambucana (Sertão do Pajeú) e sendo um rapaz educado sentimentalmente no Recife, óbvio que é muito especial mesmo, de rocha, comovente, arrepiante”, espera Xico Sá.