PERFIL » Nelson comemora retorno ao drama "Há anos, o homem tem oprimido a mulher no ambiente de trabalho, criado problemas", Nelson Freitas, ator

Fernanda Guerra
fernanda.guerra@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 20/01/2018 03:00

Nelson Freitas comemora 30 anos de carreira. Das três décadas na dramaturgia, o ator atuou como presença fixa do humorístico Zorra total - atual Zorra - por 16 anos. Por isso, o público está acostumado à veia cômica do artista na televisão. Contudo, Freitas interpreta atualmente um papel dramático em Tempo de amar, novela das 18h, assinada por Alcides Nogueira. Na trama de época global, ele dá vida ao advogado cafajeste Bernardo. “Essa mudança de registro é benéfica. Para minha carreira, ela contribui ao mostrar que eu tenho capacidade de fazer um papel sério, dramático”, reconhece o ator. De acordo com ele, o gênero é a sua origem. “O caminho me levou para a comédia”, esclarece.

Em 2017, além da novela Tempo de amar, também participou do Dança dos famosos, do Domingão do Faustão. No teatro, ele está há cerca de dez anos com o espetáculo Nelson Freitas e vocês, dirigido por Chico Anysio. No cinema, Festa da firma, de André Pellenz, e Julia é o cara, de Leandro Neri, estão com estreias previstas.

Entrevista // Nelson Freitas

O cinema e a TV mundial têm discutido muito sobre machismo. Como é interpretar um personagem com esse perfil atualmente?

Essa movimentação é mais que necessária. Há anos, o homem tem oprimido a mulher no ambiente de trabalho, criado problemas que muitas vezes eram colocados na conta da própria mulher. “Ah, se saiu com esse vestido, se estava de decote, então queria encrenca...”. O caso do Bernardo é diferente, porque eles vivem em uma época na qual o sistema era muito machista e bem pior. Mas essa discussão é mais que apropriada.

Você contracena com Marisa Orth, também associada ao humor. Como tem sido esse equilíbrio?
Uma verdadeira delícia gravar com a Marisa. Ela é uma atriz excepcional e está mostrando que também tem seu lado dramático, muito positivo. E, praticamente, os dois estão compartilhando este momento juntos. Acho que temos cumprido bem o nosso papel. Fora de cena, é uma palhaçada atrás da outra, porque essa é a nossa natureza.

No teatro, Nelson Freitas e vocês está em cartaz há cerca de dez anos. A que você atribui a longevidade?
Nelson Freitas e vocês é um espetáculo moldável, flexível. A direção de Chico Anysio sempre abriu as portas para a gente estar mudando. Evidentemente, ele não é o mesmo de quando começou. Eu vou alocando algumas considerações de acordo com cada cidade, respeitando a espinha dorsal, que fala sobre relacionamentos, marido e mulher, pais e filhos. A longevidade está atribuída ao fato de que ele é um espetáculo sólido, que cumpre o papel social de divertir e entreter com elegância. Sou um dos maiores discípulos de Chico Anysio. A peça ainda não cumpriu a missão. Tem muitas cidades a que não consegui chegar.

Que lembranças você tem de Chico Anysio? Qual a maior contribuição que ele fez à sua trajetória?
Eu o tenho como um dos maiores mestres da arte de fazer rir, sobretudo porque era de uma inteligência muito apurada. Era uma rapidez de raciocínio, sobretudo uma calma para falar. Qualquer papo sobre ele se tornava uma aula de vida. Tenho saudades de Chico. É uma espécie de mentor, mesmo antes da gente se conhecer.